A ativista liberal guatemalteca Gloria Álvarez - Karime Xavier/Folhapress |
Escritora
guatemalteca Gloria Álvarez propõe capitalizar a Previdência, cortar gastos e
legalizar drogas e aborto
13.abr.2019 às 2h00
Fábio Zanini
São Paulo
A escritora e ativista liberal guatemalteca
Gloria Álvarez queria ser
candidata à Presidência de seu país na eleição em junho, mas esbarrou na
Constituição: ela tem 34 anos, e a idade mínima para o cargo é 40 anos.
Lançou então uma candidatura “alternativa” nas
redes sociais, em que propõe imposto único, redução do número de ministérios de
14 para 4, sistema de vouchers para educação e a capitalização da Previdência.
Ela também defende a legalização das drogas, do aborto, da prostituição e da
venda de órgãos.
Filha de pai cubano exilado após a revolução
comunista, Álvarez ficou conhecida em 2015, quando seu vídeo de uma palestra na
Espanha atacando o populismo latino-americano se espalhou pela internet.
Veio ao Brasil para o lançamento de seu livro “O
Embuste Populista” (editora LVM, 320 páginas, R$ 59,90) e eventos com grupos
liberais.
Em conversa com a Folha, distribuiu petardos contra
a direita, a esquerda, as feministas e a mistura de política e religião no
governo do presidente Jair Bolsonaro.
Candidatura
É uma candidatura libertária e
inconstitucional [risos]. Proponho descentralização, “flat tax”
[imposto único], redução de 14 para 4 ministérios, destinação de 50% do
orçamento para segurança e justiça, vouchers para a educação e pensões
individuais.
E coloco dez pontos para que a população escolha
cinco: legalização da maconha, da cocaína, do aborto e da prostituição,
casamento de pessoas do mesmo sexo, adoção homoparental, permissão da eutanásia
e da venda de órgãos, eliminação de voto em listas partidárias e fim do
controle alfandegário.
Estado Mínimo
A população mais pobre da Guatemala está
acostumada a que o Estado não exista. Se você vai a um hospital público, pode
morrer, então recorre a organizações de caridade privadas. Assim, é mais fácil
aceitarem o Estado mínimo do que é para argentinos ou espanhóis, por exemplo.
Direita
Ao governar, nos anos 1990, a direita não favoreceu
o livre mercado. Houve privatizações e abertura, mas foram beneficiados os que
estavam mais próximos dos presidentes. A direita é uma coisa em teoria e outra
na prática. Na prática, sacrificaram a verdadeira liberdade econômica. Quando
isso acontece, as pessoas se voltam ao socialismo. [Hugo] Chávez, [Evo] Morales
surgem em reação a essa elite oligárquica protegida do livre mercado.
Bolsonaro
Não gosto de quem mescla religião com política.
Para os políticos latino-americanos, nunca falta Deus no discurso. Espero que
Bolsonaro não tenha medo de ser liberal. Muitas vezes candidatos são eleitos
com discurso de baixar impostos, liberar o mercado e, no poder, se preocupam
que os eleitores vão se incomodar. Concretamente, o que o governo já fez? O que
já reduziu?
Claro que os presidentes não são o mago Merlin, com
uma varinha mágica. Mas no caso da Previdência, por exemplo, o que mudaria de
verdade é a capitalização. Se conseguirem, ótimo. Senão, está colocando um
curativozinho num câncer terminal. Eu tinha esperança de que [Maurício] Macri [presidente
da Argentina] fizesse um contraponto à esquerda na América Latina, mas
isso não ocorreu, e esse posto está vago. Talvez Bolsonaro tenha aí um nicho de
oportunidade.
O que se deve fazer é estrangular a ditadura
diplomática e economicamente. Os países deveriam expulsar as embaixadas
venezuelanas. E baixar decretos para que os venezuelanos possam trabalhar, num
processo expresso de migração. E também deixar de comprar petróleo, porque uma
ditadura aguenta enquanto tem dinheiro.
Populismo
É como uma árvore cheia de maçãs. Cada populista
arma seu combo, com suas próprias maçãs. Na árvore do populismo, há várias
coisas que são chave. Uma é dividir a sociedade com ódio, seja entre ricos e
pobres, ou militares e comunistas; outra é prometer coisas que não obedecem a
nenhuma lógica econômica, como crescer 15% ao ano.
A maçã econômica é usada mais pelos populistas de
esquerda; a direita usa a maçã do nacionalismo.
Feminismo
Eu me considero uma individualista. O feminismo é
marxista. A ironia é que feministas dizem que não gostam do patriarcado, mas
são súditas do pior pai, o papai governo.
A esquerda se reinventou, não fala mais de
expropriações ou controle de preços, se disfarçou de ecologistas, defensores de
direitos de gays, feministas. Quando sou insultada, acham normal, porque sou
mulher, mas não sou mulher marxista. E apenas as mulheres marxistas merecem
respeito.
RAIO-X
Gloria Álvarez, 34
- Autora do livro “O Embuste
Populista”, é ligada ao centro de estudos Caminos de la Libertad (México).
Graduada em ciência política e relações internacionais pela Universidade
Francisco Marroquín (Guatemala), tem mestrado em desenvolvimento internacional
pela Universidade Georgetown.
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