Compositor
'está junto com os maiores do Brasil e do mundo', afirma Dadi Carvalho, dos
Novos Baianos
13.abr.2020 às 19h48
A notícia de que Moraes Moreira, fundador dos Novos
Baianos, morreu na
manhã desta segunda (13), aos 72 anos, pegou muita gente do meio artístico de
surpresa.
O cantor, compositor e violonista teve um infarto
no miocárdio às 6h da manhã, no seu apartamento, na zona sul do Rio de Janeiro,
segundo a sua família. Por causa da pandemia do novo coronavírus, que levou
vários estados e municípios do país a decretarem medidas de distanciamento
social, local e horário do enterro não serão divulgados aos fãs.
SP, 2016 |
Em depoimento à Folha, o baixista Dadi Carvalho, que integrou os Novos
Baianos nos anos 1970, diz que o nordestino "está junto com os maiores
compositores do Brasil e do mundo".
Ele diz se recordar da dedicação do músico
ao criar melodias. "Ele pegava o violão e ficava em cima de uma
ideia, às vezes três dias, num canto no sítio, ali ao ar livre, desenvolvendo
aquela ideia. E ia crescendo, crescendo e resultava nessas músicas que a gente,
essas pérolas", afirma Carvalho. "E tinha uma risada maravilhosa que
vai deixar saudade."
"Deixa saudade e uma grande obra", fez
coro Gilberto Gil ao escrever seu conterrâneo nas redes sociais. Na postagem,
acompanhada ainda de um pequeno poema ("Menino do sertão da Bahia/ ouviu
encantado a música do mundo/ e fez dela seu universo expressivo"), ele e
Moraes aparecem abraçados numa foto antiga.
Em depoimento à Folha, o baixista Dadi Carvalho, que integrou os Novos
Baianos nos anos 1970, diz que o nordestino "está junto com os maiores
compositores do Brasil e do mundo".
Ele diz se recordar da dedicação do músico
ao criar melodias. "Ele pegava o violão e ficava em cima de uma
ideia, às vezes três dias, num canto no sítio, ali ao ar livre, desenvolvendo
aquela ideia. E ia crescendo, crescendo e resultava nessas músicas que a gente,
essas pérolas", afirma Carvalho. "E tinha uma risada maravilhosa que
vai deixar saudade."
"Deixa saudade e uma grande obra", fez
coro Gilberto Gil ao escrever seu conterrâneo nas redes sociais. Na postagem,
acompanhada ainda de um pequeno poema ("Menino do sertão da Bahia/ ouviu
encantado a música do mundo/ e fez dela seu universo expressivo"), ele e
Moraes aparecem abraçados numa foto antiga.
Caetano Veloso também trouxe o passado à tona ao
falar da morte de Moraes Moreira nas redes sociais. "Sua voz encantava
[...] e nos ajudou a aguentar a pena sob a ditadura militar. E ele não é só o
componente do grupo que lançou disco roqueiro [...] Tampouco o
músico/cantor/compositor da virada joãogilbertiana desse mesmo Novos Baianos de
'Acabou Chorare' [...] Sem ele não haveria o axé", escreveu. "A alma
não pode acabar de chorar."
Outro membro do Novos Baianos que lamentou a morte
foi Paulinho Boca de Cantor, que disse que Moraes era seu grande amigo —"a
gente se falava todos os dias, as nossas ligações ou eram de trabalho ou eram
pra dar risada". "É importante que a gente fale desse amor, que
começou há 50 anos, quando eu encontrei ele, encontrei Galvão, e a gente pensou
que poderia fazer alguma coisa."
Ele ressaltou a afinidade dos membros do grupo, que
para ele formaram uma família. "Pode acontecer o que acontecer, mas na
hora que a gente se encontra é uma alegria, uma festa, e aí a música flui
tranquilamente, naturalmente", disse.
"O Moraes Moreira era um grande timoneiro, com
aquele violão que não existia nada igual. [...] O Moraes viveu intensamente, a
música, a festa, a alegria, o Carnaval."
O cantor e instrumentista Armandinho, que chamou a
notícia da morte do músico de "uma porrada", foi outro que qualificou
Moraes como um parente honorário. "Nós somos quatro irmãos [na família
Macedo, do trio elétrico Dodô & Osmar], e nós considerávamos Moraes o
quinto irmão."
"Tem dois dias que nós falamos por telefone.
Ele ligava de madrugada. Na pandemia, ele estava sozinho, me ligava entre uma e
duas horas da manhã", diz o guitarrista.
Ele também fala da influência das composições do
baiano para a música brasileira. "Pra todo mundo que acompanha a tradição
do violão brasileiro –João Gilberto, Gilberto Gil, João Bosco, esses grandes
violonistas, cantores, compositores–, Moraes era uma dessas vertentes de
importância extrema", diz. "Pra gente que é músico, é muito forte.
Não sei nem explicar exatamente quanto, mas só olhando pro instrumento,
principalmente pro violão, e ele vai te dizer."
Elba Ramalho e Zé Ramalho, que junto a Geraldo
Azevedo receberam Moraes numa participação especial para a gravação do álbum
"O Grande Encontro 3", de 2000, também lamentaram a morte do músico.
"Grande artista que selou, lacrou um patamar
histórico na música brasileira!", escreveu Elba no Instagram, chamando
Moraes de "eterno novo baiano". Mais tarde, ao Jornal Hoje, Elba
lembrou que interpretou mais de 17 músicas do compositor.
“A sua arte era muito grande. Não só pela sua
genialidade, que é os Novos Baianos, mas também pela sua individualidade como
músico e como artista”, declarou.
Já Zé Ramalho postou uma foto histórica com o
colega, de 1976, em que os dois aparecem ao lado de Fagner.
Também ao Jornal Hoje, a cantora Fafá de Belém
lembrou a importância de Moraes Moreira para a juventude dos anos 1970.
"Moraes foi o cara que embalou a minha geração, trazendo alegria, frescor
e liberdade. Os Novos Baianos foram e são o som de toda uma geração. O país
ficará mais triste", afirmou.
Fora do campo das artes, políticos também se
manifestaram. O ex-presidente Lula chamou "Brasil Pandeiro" de um dos
maiores hinos não-oficiais do Brasil, e disse se juntar aos seus familiares,
amigos e fãs ao lamentar sua morte.
"Uma pessoa muito querida que tanto bem fez
para nossa cultura, tanta alegria deu aos brasileiros e tantas contribuições
para a imagem do nosso país no exterior", escreveu Lula.
O ex-presidenciável Ciro Gomes, do PDT, também
honrou a memória do músico no Twitter, com uma imagem do disco "Acabou
Chorare", o mais famoso dos Novos Baianos, tocando na vitrola. "Neste
momento de grande aflição do nosso povo, perder sua voz e seu talento é
desalentador", escreveu o político, em referência à pandemia da Covid-19
no país.
O time de coração de Moraes, o Flamengo, foi um dos
primeiros a homenageá-lo no Twitter. No seu perfil oficial no Twitter, o clube
de regatas disse lamentar "profundamente a morte do músico e ilustre
rubro-negro", e desejou força aos seus familiares e amigos.
Moraes compôs algumas canções sobre o time, como
"Vitorioso Flamengo" e "Espírito Vitorioso". O baiano
também é retratado vestindo a camisa rubro-negra na capa de "Pintando o
Oito", de 1983.
O álbum traz uma homenagem a Zico, um dos jogadores
mais icônicos do time –chama-se "Saudades do Galinho", em referência
ao apelido do esportista, Galinho de Quintino. Nela, Moraes canta: "Agora
como é que eu me vingo de toda derrota da vida/ Se a cada gol do Flamengo/ Eu
me sentia um vencedor".
Ao Jornal Hoje, Zico disse que Moraes "foi um
dos grandes rubros-negros" de sua geração. "Que a obra dele continue
firme", afirmou.
Por fim, a cantora Bebel Gilberto, que no ano
passado perdeu o pai, o inventor da bossa nova, João Gilberto, lembrou a gênese
de "Acabou Chorare", composta para ela.
Nas redes sociais, ela contou que tinha cinco anos quando ela e o pai foram visitar os Novos Baianos no meio da madrugada. Quando eles chegaram no lugar, ainda sonolenta, ela escorregou e começou a chorar. "Moraes então escreveu 'Acabou Chorare'. E assim nossa história começou."
Nas redes sociais, ela contou que tinha cinco anos quando ela e o pai foram visitar os Novos Baianos no meio da madrugada. Quando eles chegaram no lugar, ainda sonolenta, ela escorregou e começou a chorar. "Moraes então escreveu 'Acabou Chorare'. E assim nossa história começou."
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