Madeleine Lacsko
Colunista do UOL
22/09/2022 09h02
Tenho muita fé de que duas coisas salvarão o Brasil: matemática e antidoping. Ambas são mais que necessárias nesses últimos dez dias de campanha, com redes sociais pegando fogo e fígados falando muito mais alto que cérebros.
Se esculhambação fosse esporte olímpico, acho que nós nem poderíamos competir. O país seria hors concours. Mal começou a campanha luloafetiva pelo "voto útil", já desceu a ladeira completamente.
É normal das democracias a tentativa de convencer adultos a tratar eleições presidenciais como se fosse uma corrida do Jockey Clube. Em vez de escolher um futuro, você aposta no cavalo que ganha. E isso funciona porque, enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé.
Jair Bolsonaro não faz um governo, faz um acidente de trem. Natural que o oponente mais cotado nas pesquisas, Lula, pregue a utilidade de acabar com a agonia de uma vez só. São democráticos e legítimos os argumentos no sentido de liquidar a fatura no primeiro turno.
A coisa começa a esculhambar na absoluta falta de matemática e lógica básica da artilharia pesada contra Ciro Gomes. Até outro dia, ele e sua militância eram chamados de insignificantes e turma dos 7%.
É preciso decidir: ou são insignificantes ou a existência deles ameaça o futuro do Brasil. Não tem como ser as duas coisas ao mesmo tempo.
A outra coisa é a fake news surgida e sedimentada no imaginário nacional devido à falência absoluta do ensino de matemática. Se Ciro não tivesse "ido a Paris", Haddad teria vencido Bolsonaro.
Primeiro que Ciro estava no Brasil e votou em Haddad. Depois que, se ele fosse ao cartório e doasse ao petista todos os votos dele, Bolsonaro ganharia do mesmo jeito.
A campanha petista em 2018 foi sectária e incompetente. Nos dois quesitos, Jair Bolsonaro ganha de lavada. E foi isso o que ocorreu.
Como diria Homer Simpson "a culpa é minha, coloco em quem eu quiser". É o que fazem sistematicamente o PT e sua gloriosa trupe de apoiadores progressistes gourmet.
Passam anos xingando de fascista, tesourando profissionalmente e difamando todo mundo que não se ajoelha diante de Lula. Depois exigem apoio incondicional para continuar com o mesmo comportamento. Quando não dá certo, arrumam um culpado.
A moda da semana entre os Che Guevara de apartamento é dizer que a candidatura de Ciro não pode existir em nome da democracia. Seria cômico se não fosse trágico.
O eurocentrismo da nossa elite urbana impede que a manobra de construção de um "Arquitecto da Paz" fique clara. Dançam à beira do precipício ao som da perigosa ideia de um único fiador da paz nacional.
Acompanhassem as ideias de algum pensador além dos colonialistas, veriam que é uma forma de destruir democracias e liberdades individuais. Você ergue uma força que seria a pacificadora ou estabilizadora às custas do esmagamento dos direitos e até da dignidade de todas as demais.
José Eduardo dos Santos, falecido ditador de Angola e o mais longevo do continente africano, foi conhecido como o "Arquitecto da Paz". Esmagando qualquer um que o questionasse, acabou com a guerra civil e os conflitos que impediam o país de viver um mínimo de normalidade.
É uma espécie de "paz" diferente da que pregava, por exemplo, Martin Luther King. Para ele, a paz não é a ausência de conflitos, mas a presença de justiça.
Não é esse tipo de paz social pela qual lutam os luloafetivos. Miram mais em Ciro que em Bolsonaro, apelam para o pânico moral diante de eleitores que não sejam de Lula ou Bolsonaro, pregam eliminação de representatividade em nome da democracia, são lenientes com as fake news e a virulência do janonismo.
O desengajamento moral dos luloafetivos já está feito. Consideram que a existência de Lula basta para se opor ao chiqueiro moral do bolsonarismo. Por isso, agem da mesma forma que os bolsonaristas agiam em 2018, achando que o país colherá frutos diferentes. Oremos.
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