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quarta-feira, 31 de outubro de 2018

"Bolsonaro, o 'mito', derrotou a 'ideia' Lula", por José Nêumanne

Os quase 60 milhões de eleitores que votaram no capitão só queriam se livrar do ladrão
JOSÉ NÊUMANNE, O Estado de S.Paulo
31 Outubro 2018 | 03h00

Nêumanne
Desde 2013 que o demos (povo, em grego) bate à porta da kratia (governo), tentando fazer valer o preceito constitucional segundo o qual “todo poder emana do povo” (artigo 1.º, parágrafo único), mas só dá com madeira na cara. Então, em manifestações gigantescas na rua, a classe média exigiu ser ouvida e o poste de Lula, de plantão no palácio, fez de conta que a atendia com falsos “pactos” com que ganhou tempo. No ano seguinte, na eleição, ao custo de R$ 800 milhões (apud Palocci), grande parte dessa dinheirama em propinas, ela recorreu a um marketing rasteiro para manter a força.
Na dicotomia da época, o PSDB, que tivera dois mandatos, viu o PT chegar ao quarto, mas numa eleição que foi apertada, em que o derrotado obtivera 50 milhões de votos. Seu líder, então incontestado, Aécio Neves, não repetiu o vexame dos correligionários derrotados antes – Serra, Alckmin e novamente Serra – e voltou ao Senado como alternativa confiável aos desgovernos petistas. Mas jogou-a literalmente no lixo, dedicando-se à vadiagem no cumprimento do que lhe restava do mandato. O neto do fundador da Nova República, Tancredo Neves, deixou de ser a esperança de opção viável aos desmandos do PT de Lula e passou a figurar na galeria do opróbrio ao ser pilhado numa delação premiada de corruptores, acusado de se vender para fazer o papel de oposição de fancaria. O impeachment interrompeu a desatinada gestão de Dilma, substituída pelo vice escolhido pelo demiurgo de Garanhuns, Temer, do MDB, que assumiu e impediu o salto no abismo, ficando, porém, atolado na própria lama.
Foi aí que o demos resolveu exercer a kratia e, donas do poder, as organizações partidárias apelaram para a força que tinham. Garantidas pelo veto à candidatura avulsa, substituídas as propinas privadas pelo suado dinheiro público contado em bilhões do fundo eleitoral, no controle do horário político obrigatório e impunes por mercê do Judiciário de compadritos, elas obstruíram o acesso do povo ao palácio.
Em janeiro, de volta pra casa outra vez, o cidadão sem mandato sonhou com o “não reeleja ninguém” para entrar nos aposentos de rei pelas urnas. Chefões partidários embolsaram bilhões, apostaram no velho voto de cabresto do neocoronelismo e pactuaram pela impunidade geral para se blindarem. Mas, ocupados em só enxergar seus umbigos, deixaram que o PSL, partido de um deputado só, registrasse a candidatura do capitão Jair Bolsonaro para conduzir a massa contra a autossuficiência de Lula, ladrão conforme processo julgado em segunda instância com pena de 12 anos e 1 mês a cumprir. O oficial, esfaqueado e expulso da campanha, teve 10 milhões de votos a mais do que o preboste do preso.
Na cela “de estado-maior” da Polícia Federal em Curitiba, limitado à visão da própria cara hirsuta, este exerceu o culto à personalidade com requintes sadomasoquistas e desprezo pela sorte e dignidade de seus devotos fiéis. Desafiou a Lei da Ficha Limpa, iniciativa popular que ele sancionara, transformou um ex-prefeito da maior cidade do País em capacho, porta-voz, pau-mandado, preposto, poste e, por fim, portador da própria identidade, codinome, como Estela foi de Dilma na guerra suja contra a ditadura. Essa empáfia escravizou a esquerda Rouanet ao absurdo de insultar 57 milhões, 796 mil e 986 brasileiros que haviam decidido livrar-se dele de nazistas, súditos do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, que não se perca pelo nome, da Alemanha de Weimar: a ignorância apregoada pela arrogância.
Com R$ 1,2 milhão, 800 vezes menos do que Palocci disse que Dilma gastara há quatro anos, oito segundos da exposição obrigatória contra 6 minutos e 3 segundos de Alckmin na TV, carregando as fezes na bolsa de colostomia e se ausentando dos debates, Bolsonaro fez da megalomania de Lula sua força, em redes sociais em que falou o que o povo exigia ouvir.
A apoteose triunfal do “mito” que derrotou a “ideia” produziu efeitos colaterais. Inspirou a renovação de 52% da Câmara; elegeu governadores nos três maiores colégios eleitorais; anulou a rasura na Constituição com que Lewandowski, Calheiros e Kátia permitiram a Dilma disputar e perder a eleição; e forçou o intervalo na carreira longeva de coveiros da república podre.
O nostálgico da ditadura, que votou na Vila Militar, tem missões espinhosas a cumprir: debelar a violência, coibir o furto em repartições públicas e estatais, estancar a sangria do erário em privilégios da casta de políticos e marajás e seguir os exemplos impressos nos livros postos na mesa para figurarem no primeiro pronunciamento público após a vitória, por live. Ali repousavam a Constituição e um livro de Churchill, o maior estadista do século 20.

Não lhe será fácil cumprir as promessas de reformas, liberdade e democracia, citadas na manchete do Estado anteontem. Vai enfrentar a oposição irresponsável, impatriótica e egocêntrica do presidiário mais famoso do Brasil, que perdurará até cem anos depois de sua morte. E não poderá fazê-lo com truculência nem terá boa inspiração nos ditadores que ornam a parede do gabinete que ocupou. Sobre Jânio e Collor, dois antecessores que prometeram à cidadania varrer a corrupção e acabar com os marajás, tem a vantagem de aprender com os erros que levaram o primeiro à renúncia e o outro ao impeachment.
Talvez o ajude recorrer a boas cabeças da economia que trabalharam para candidatos rivais, como os autores do Plano Real e a equipe do governo Temer, para travarem o bom combate ocupando o “posto Ipiranga” sob a batuta de Paulo Guedes. Poderá ainda atender à cidadania se nomear bons ministros para o Supremo Tribunal Federal e levar o Congresso a promover uma reforma política que ponha fim a Fundo Partidário, horário obrigatório e outros entulhos da ditadura dos partidos, de que o povo também quer se livrar em favor da desejável igualdade.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

"Do STF pra Lulinha, com amor e sordidez", por José Nêumanne Pinto

JOSENEUMANNE
01 Abril 2016 | 09:47

STF decidiu deixar Lula dormir sem a ameaça do Japonês da Federal à porta por mais uns dias, só Deus sabe quantos

Sob a proteção da deusa surda e venda

A decisão do Poder Discricionário de dar um prazo pra sossego e paz pro Jararaca & Ratão, ao contrário do que possam pensar os desinformados e desavisados, tem menos que ver com o fato de a grande maioria dos membros ter sido nomeada por ele e pela Presidanta Dilama (apud Edgardo Pires Ferreira), e muito mais pela histórica tradição leniente da mais alta instância da Suprema Chicana. Esta inocentou Collor, que tinha sido impedido, por falta de provas. E enterrou a Operação Castelo de Areia por firulas jurídicas a gosto de Márcio Tomem Bestas, adequando-se à sua condição de Elevada Corte. O mensalão não fugiu a essa regra. Os bagrinhos, incluindo a banqueira, cumprem pena e os vassalos da Coroa Mandante palitam os dentes sossegados em casa. Zé Dirceu é a exceção porque reincidiu e até o rábula mais rastaquera sabe que reincidência não se perdoa. Isso até certo ponto. Antes de Levando os Ovos se aposentar, o operador da quadrilha será liberado para gozar do ócio furtado em suas casas de campo. Lulinha Faz Amor Ni Nóis não ignora o princípio aritmético que faz de 67 (condenados na primeira instância da República de Curitiba) ou de 17 (sentenças de Moro), número muito maior do que zero condenação de amigos de fé, irmãos, camaradas pela Tribuna Extrema. Enquanto ele estiver fora da jurisdição do juiz que condena, estará à disposição da subordinada no desgoverno para comprar votantes do Bordel Federal com dinheiro nosso nas mãos do Brechó de Madama, que funciona na sede dos Palhaços da Terraplenagem Subornante.
Nêumanne
Ontem se fez o óbvio: os políticos têm um pouquinho de medo (muito pouco, é verdade) do Cidadão da Silva, porque depende de votos. Mas a prerrogativa necessária da manutenção da Corte (em todos os sentidos da palavra, inclusive o que envolve lisonja e assédio) fora do alcance do clamor popular não os imuniza da contaminação de convescotes de caviar e champanha do Planalto Central, a distâncias cósmicas das planícies da produção e do consumo. Tornados estrelas do Impeachment Circus, os membros da Corte do Gentil Aliciamento só não levam câmeras e microfones pra casa porque não querem carregar peso e sabem que estes estão sempre à disposição de tutti quanti. E as lisonjas que os cercam (nomeação de rebentos para postos públicos vitalícios pagos pela plebe ignara, entre outras) os impedem de enxergar o pressuposto evidente da própria vitaliciedade, que lhes permitiria, se lhes aprovousse, praticarem a ingratidão, segundo o velho De Gaulle a maior virtude dos poderosos.
Eu sei que hoje é sexta, dia de festa, mas não esperem deste velho e desacorçoado profissional da comunicação condescendência com a malandragem. Nesta véspera de folga, cabe-me apenas destilar fel que nem o vício da  água de coco consegue amenizar. Cuide-se, camarada! Estão fechando a torneira da Lava Jato. A sorte de Sérgio Moro, alvo da inveja vil e da covardia parva, está em nossas mãos. Se relaxarmos, teremos de conviver com a impunidade que ele tenta desafiar.
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