quarta-feira, 9 de julho de 2014

Plínio

Meus caros,
acabo de saber que morreu Plínio de Arruda Sampaio. Não sei o que houve com ele nos últimos anos e o porquê da radicalização de seus pontos de vista. Não precisaria ter descido à esquerda hidrófoba para declarar seu repúdio à corrupção sistemática de Lula e do PT.

Essa impressão aumenta quando constatamos que Plínio foi uma das melhores figuras que a política paulista produziu nos últimos 60 anos. Vê-lo em debate televisivo, sendo criticado e fustigado por uma desqualificada como Dilma Rousseff era de embrulhar o estômago de qualquer um. Plínio deveria ter sabido o momento de parar. Não precisava mais ser candidato na eleição de 2010. Sua obra já era conhecida. 

Escreverei mais sobre ele quando puder. Neste momento trago a magnífica entrevista dele para a coluna de Mônica Bérgamo, em março deste ano. É um primor de inteligência e lucidez. Um canto do cisne digno de uma cerebração admirável como Plínio.
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SUCESSO NO TWITTER, PLÍNIO SAMPAIO FAZ CRÍTICAS A DILMA, LULA,
SERRA E MARINA

09/03/2014


"É a favor da legalização da maconha?", "É vascaíno?", "Pretende se candidatar a algum cargo?". As perguntas pulam na página do Twitter. Plínio de Arruda Sampaio, 84, pousa as mãos sobre seu MacBook Air da Apple (e só não responde às perguntas pornográficas): é, sim, a favor de descriminalizar a erva. Torce pelo São Paulo. E não, não vai disputar as eleições.

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"Já cumpri o que eu tinha que cumprir", explica ao repórter Joelmir Tavares. "E seria muito ruim ir para Brasília e deixar a Marietta sozinha aqui em São Paulo", diz o ex-deputado federal, citando a companheira há 60 anos, com quem teve seis filhos.

Candidato do PSOL derrotado nas eleições para presidente de 2010 -recebeu 886 mil votos, 0,87% do total-, Plínio é o único dos quatro postulantes mais votados conformado em ficar fora da urna eletrônica em outubro. Dilma Rousseff (PT) concorre à reeleição, José Serra (PSDB) indica disposição para disputar algum cargo e Marina Silva (PSB) pode ser vice de Eduardo Campos (PSB).

Plínio, nas manifestações do ano passado

Enquanto mantém diálogo com os 81 mil seguidores do perfil @pliniodearruda -onde ganhou popularidade por se oferecer, quase todo dia, para responder a "perguntas sobre política e religião"-, corre por fora como cabo eleitoral do pré-candidato de seu partido a presidente, Randolfe Rodrigues, 41.

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Ao senador do Amapá ("novinho, mas craque pra burro"), Plínio aconselha: é preciso partir para o ataque, até com "ofensas morais". "Se não for agressivo no debate em um partido pequeno, os eleitores esquecem você."

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Mas o arsenal retórico de Plínio, se fosse requisitado agora, estaria pronto para ser disparado. Contra Dilma ("cortou benefícios previdenciários, entregou a Petrobras"), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos ("representam interesses que os impedem de falar as coisas importantes, e aí têm que fazer promessinha") e Marina ("uma fofoqueira habilidosa, ultra-ambiciosa; se o Eduardo bobear, ela sai candidata").

Plínio no Twitter: brilhante sempre

Afirma que a adversária que mais atacou em 2010 foi Marina. E poupou Serra, de quem diz ser amigo. "Objetivamente, ele é um governante melhor do que a Dilma e os demais. Ele é meio reacionário e violento, mas competente. Pessoalmente, é uma simpatia, um cara simples."

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Diz que o PSOL não tem chance de vencer agora. Acredita na reeleição de Dilma.

Defensor da gratuidade no transporte, Plínio tenta convencer o partido a buscar o apoio do MPL (Movimento Passe Livre), que teria "tudo a ver" com a legenda. As manifestações de rua foram positivas, para ele, por criar "um fato novo no processo eleitoral".

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Mas discorda da tática do "black bloc" ("sem propósito") e defende o deputado estadual do Rio Marcelo Freixo (PSOL), sobre quem recaiu a suspeita de ligação com os acusados da morte do cinegrafista Santiago Andrade. "Não sei qual a intenção dos que fizeram essas ilações. Estão totalmente enganados."


Fundador do PT, alega que deixou o partido em 2005 porque, no poder, ele fazia as vontades da "burguesia". Diz que o julgamento do mensalão foi "íntegro". Mas ficou "triste" ao ver ex-companheiros presos, como José Dirceu ("ele roubou mesmo") e José Genoino ("vivia com dificuldade, pegou para o partido").

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O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) "é um incompetente". Alexandre Padilha, pré-candidato petista ao governo do Estado, "é um desconhecido, um poste". Lula "é uma figura admirável, sujeito malandrão, ótimo de coração", mas "um desastre" como presidente. Eduardo Suplicy (PT-SP) "é o melhor senador em atividade, um comunista 'sui generis'". O ministro Joaquim Barbosa, do STF, é "extraordinário".

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E mais: o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), tido como homofóbico, "é um fanático". Geraldo Alckmin (PSDB-SP) "é um governador meio reaça, mas um homem correto", de quem o escândalo do cartel do metrô "não vai passar nem perto" e por quem põe "a mão no fogo".


Assim como nega contradição em ser de esquerda e elogiar políticos da direita, diz administrar bem a devoção ao marxismo e à Igreja Católica. "O Marx é um instrumento para analisar a realidade. Mas, quando extrapola, aí já não me interessa. Sou cristão, acredito em Deus." Lamenta que os filhos não tenham apego à religião.

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No Twitter, mesmo com dificuldade para dominar a tecnologia, une duas paixões. "Faço um trabalho de formação política e de apostolado."

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Foge de brigas. Diz só responder a questões sérias e sobre os assuntos de que entende. Não dá bola para piadas. "Estou respondendo a perguntas sobre roupas pretas e cortes de cabelo" e "sobre política e requeijão" são exemplos de brincadeiras de usuários que imitam Plínio.

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No Facebook, não faz tanto sucesso com a própria página. Tem 9.000 seguidores. A sátira Plínio Comenta, na mesma rede, tem 66 mil. Nela são postados pitacos sobre temas do momento. São frases curtas escritas em fotos do ex-deputado, na forma de "memes" (mensagens que se espalham em larga escala). O autor é um professor de 25 anos filiado ao PSOL.

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O partido vai usar muito a internet neste ano, segundo o veterano. "O [Barack] Obama ganhou por isso. A Dilma está ligada. Até voltou ao Twitter", diz o entusiasta das redes sociais. Quando quer desanuviar do frenético ambiente digital, ele pega papel e lápis. E começa a desenhar. "É uma forma de abstração, sem pretensão artística", diz Plínio, em sua versão analógica.

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domingo, 11 de maio de 2014

Nicolau Tuma e o Dia das Mães

Meus caros,
foi há quinze anos. Em uma de minhas visitas ao grande e saudoso Nicolau Tuma, terminada a prosa sobre política e a contribuição dele à edilidade paulistana e à Câmara Federal, peço-lhe que deixe registrada a poesia que recitou originalmente em 8 de maio de 1955 - primeira vez em que se comemorou o Dia das Mães no Brasil - na Record, junto a Guilherme de Almeida e Carmen Prudente.

Ele aceitou. Recitou-a com aquela voz de velho speaker, voz aveludada, almofadada pelo tempo. Ouçam. É uma poesia triste, porque Nicolau - segundo ele mesmo conta - já perdera sua mãe, a mãe de sua mãe e a mãe de sua filha, que morreu no parto, aos 25 anos. A poesia é portanto, para as mães que não puderam ter seus filhos nos braços.

Sofrido Nicolau. Saudade.

terça-feira, 29 de abril de 2014

LAIS SOUZA, o Brasil todo está com VOCÊ!


Meus caros,
como não se comover com essa menina maravilhosa? Essa menina fantástica, lição de vida ontem, quando ginasta, lição de vida hoje em que luta corajosa e diuturnamente para recobrar seus movimentos?

Estamos com você na torcida SEMPRE, Lais!

Abaixo o depoimento exclusivo dela a Isabel Fleck, da Folha:
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Lais Souza conta como enfrenta
'a maior prova de superação' da sua vida


DEPOIMENTO A ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A MIAMI
28/04/2014 03h51

Ao cair de esqui nos EUA em 27 de janeiro, Lais Souza, 25, lesionou a coluna e ficou paralisada dos ombros para baixo. Agora internada no Jackson Memorial Hospital, em Miami, já respira sem aparelhos, conseguiu mover um pouco o braço direito, e, na última semana, ficou de pé numa cadeira especial.

A atleta, que representou o Brasil na ginástica nas Olimpíadas de 2004 e 2008, treinava para competir pela primeira vez no esqui aéreo nos Jogos de Inverno.



DEPOIMENTO

Quando eu acordei da cirurgia e vi que estava na UTI, logo pensei: "Eu não morri. Mas, imagina, gente... não é possível que não consiga me mexer". Foi só com o tempo que a ficha começou a cair.

Eu sempre tive menos medo de sofrer um acidente no esqui do que quando eu fazia ginástica [olímpica]. Na ginástica, se você pula, tem o risco de cair de cabeça, ou quebrar um braço, um pé. E isso é a toda hora.

O esqui faz você ir muito alto, mas eu não tinha medo de cair de pescoço. O meu medo era machucar o joelho de novo –mas uma lesão normal.


No dia do acidente, eu estava bem, sem a dor de sempre no joelho. Era perto da hora do almoço e estávamos fazendo um treinamento de velocidade numa montanha em Park City [Utah] em que eu nunca tinha esquiado.

Ia atrás do meu técnico, e a Josi [Santos, atleta brasileira], mais atrás. Uma hora eu falei para ela vir de lado, freando, porque estávamos muito rápido. Depois disso, eu não lembro de mais nada.

Só tenho flashes de depois do acidente: me lembro de pedir ajuda para o meu técnico e de uma dor que não consigo explicar. Me lembro de entrar no helicóptero, deitada, e de depois, na UTI, já acordando depois da cirurgia. Foi muito bom perceber que estava viva.

Lais e a colega Josi Santos

Eu tive que levar numa boa no começo, porque já estava me sentindo mal. Não conseguia respirar sozinha, não estava comendo, não falava.

Eu ainda fiquei um tempão na UTI com pneumonia. Eu tinha muita febre, 40 graus. Foi essa a parte crítica, em que corria risco de morrer.

Hoje me sinto bem melhor, e a dor forte na coluna e no pescoço está bem mais leve.

A cada coisa que vai acontecendo, a gente comemora. Eu sinto quando a minha bexiga está cheia e sinto pontos no dedinho e no anelar da mão esquerda. Na mão direita, sinto o indicador, na raiz.


Quando faço exercício na bicicleta, eu também sinto um formigamento na planta do pé.

A dor agora tem um outro significado no meu corpo. Hoje, como ela é rara, é bom quando acontece.

Os médicos sempre trabalham com calma quando aparece algo novo, e, como ainda tem o edema na área da cirurgia, ainda tem muito para acontecer. Mas, para mim, cada ponto que sinto é como uma luz no fim do túnel.


Primeira entrevista de Lais, ao Fantástico do dia 23 de março de 2014. Para assistir na íntegra, clique AQUI (a Globo é escrota e não permite o embed de seus vídeos)


Mensagem de Páscoa de Lais para o Fantástico, na qual ela mexe seu braço. (Consegui fazer
o download do site da Globo. Continuo tentando baixar o outro)

Um dia, deitada, deixei o braço direito de lado, pendurado, e consegui mexer um pouco o antebraço para o lado.

Não fiquei assustada, mas me surpreendeu. Fiquei um pouco emocionada, porque é pouca coisa, mas é, né? Em termos de movimento, foi minha maior conquista até agora.

Respirar sem aparelho foi outra. Minha família tinha ouvido dos médicos que eu poderia nunca mais respirar sozinha. Quando falaram isso para mim, eu simplesmente fingi que não ouvi.

Eu continuo fazendo exercícios para dilatar o pulmão, e ainda não consigo gritar alto, por exemplo. Se eu quiser cantar, também tenho um pouco de dificuldade.


Reportagem do UOL com Lais

Esperança eu tenho de mexer todo o meu corpo. Se depender de mim, é isso que vai acontecer. Mas como tem muita coisa acontecendo agora –a lesão, a cirurgia–, tem que esperar tudo se assentar para eu ter a real conclusão do que foi o meu acidente.

Quero principalmente mexer meus braços. Eu não consigo arrumar meu cabelo, comer, coçar o nariz. Essa coisa de ter que pedir para alguém fazer para mim é muito difícil, porque eu sempre fui muito independente.

Hoje, quando quero sentir alguma coisa, como o tecido de uma blusa nova, eu ponho no meu rosto, ou na boca.

É um mundo novo que estou vivendo, mas que consigo comparar com muita coisa que já tive, quando competia ou treinava.

Lais e a competente equipe que a orienta e acompanha em sua recuperação

A cada exercício que faço na fisioterapia, eu tenho que lutar para mexer alguma fibra muscular que sobrou no meu corpo. E para tentar, faço uma força imensa, como se estivesse treinando mesmo.

O fato de ser atleta com certeza tem me ajudado, com a disciplina, a maneira de pensar. Eu já era acostumada, por exemplo, a me esforçar demais e a tentar ultrapassar o meu limite. Mas esta está sendo a maior prova de superação da minha vida.

Eu faço duas sessões de fisioterapia, uma delas de terapia ocupacional, de manhã e duas à tarde. Tenho gostado mais da ocupacional, porque eles pensam na adaptação do paciente no dia a dia.

Também estou tendo aulas de inglês, aprendendo termos mais específicos, para que eu possa falar mais corretamente com as enfermeiras e com os terapeutas.


Quando tenho tempo livre, às vezes eu vejo um seriado ou um filme. Vi um dia desses "Orange is The New Black", mas só tem uma temporada. Fiquei triste quando acabou. Mas eu amo mesmo é ouvir música. Gosto de tudo um pouco, só não ouço muito samba e pagode.

Meu domingo é para passear ou descansar. Nós [ela, a mãe e a fisioterapeuta] pegamos o metrô, vamos ao shopping. Ainda não consegui ir à praia, mas estamos planejando.

Eu não consigo concluir o pensamento ainda sobre como será meu futuro, porque tem muita coisa em jogo. Sei que para um futuro mais próximo, eu quero ajudar pessoas que têm a mesma lesão.

Tem muita gente que sofre o acidente e não sabe por onde começar. Estou tendo muita sorte. Estão acontecendo muitas coisas boas pra mim.
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Campanha EU APÓIO LAIS




segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

"Frei Genebro", de Eça de Queirós, por Paulo Autran

Meus caros,
nestes tempos de tão apaixonada defesa dos animais, vale a pena conhecer o conto "Frei Genebro", de Eça de Queirós (1845/1900), lançado postumamente no livro "Contos", de 1902. E melhor ainda que venha na voz do amado e saudoso Paulo Autran. Para um gênio da literatura, um gênio da interpretação.

Eça e Paulo
 

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