segunda-feira, 26 de setembro de 2022

"Manifesto à Nação", por Ciro Gomes




MANIFESTO À NAÇÃO

Na maioria das vezes em que um movimento nacionalista se levanta no Brasil, ele é  destruído pelas forças do atraso ou se autodestrói por acordos eleitorais espúrios.

É um  jogo de culpa-desculpa, trágico e repetitivo.

Para  esconder a culpa da renúncia covarde aos verdadeiros  ideais de mudança, muitos se escondem na desculpa de que para governar é necessária uma aliança com as forças do atraso.

E para eliminar, na raiz, a diversidade do embate democrático tentam transformá-lo, de forma artificial e prematura, no embate de duas forças que utilizam falsos argumentos morais para se tornarem hegemônicas.

Aqueles que ousam resistir —como é nosso caso—, são vítimas das mais violentas campanhas de intimidação, mentiras e de operações de destruição de imagem.

É o que está acontecendo agora quando estou sendo vítima de uma gigantesca e virulenta  campanha, nacional e internacional, para retirada da minha candidatura.

Mas nada deterá nossa disposição de seguir em  frente a empunhar a bandeira do novo Projeto Nacional de Desenvolvimento e, também, a denunciar os corruptos, farsantes e demagogos que tentam ludibriar a fé popular com suas falsas promessas.

Hoje, a máscara desta farsa cobre duas faces que, mesmo possuindo certos conteúdos e   contornos diferentes, trazem, de forma profunda,a matriz histórica dos erros que há décadas atrasam o Brasil e escravizam nosso povo.

É esta matriz —escrava de um modo corrupto de governar e de um modelo econômico  submisso aos interesses do mercado financeiro— que une Lula e Bolsonaro.

Bolsonaro não existiria se não fosse a grave crise econômica e moral dos governos petistas.

E Lula não sobreviveria, em sua ameaçadora decadência, se não fossem os desatinos criminosos de Bolsonaro.

Mesmo assim, as máquinas poderosas do lulismo e do bolsonarismo estão conseguindo ludibriar a percepção popular, passando a falsa ideia de que apenas um pode derrotar o outro.

E que este passo atrás é o único meio de levar o país adiante.

Esse rito suicida tem o incentivo comodista e covarde de setores da mídia e da  inteligência  que, em uma mistura de cumplicidade, amnésia e medo, perderam a nitidez dos fatos, das  causas, dos efeitos e de suas perigosas consequências.

Reduziram o debate a um choque vazio e oportunista entre um suposto bem e um suposto mal, enquanto produzem a campanha mais sem propostas e sem projeto da nossa história recente.

De forma deliberada, não questionam o fato de o Brasil vir adotando, há 30 anos, um modelo político baseado no conchavo, na corrupção e no toma lá dá cá; e de vir prolongando a vida de um modelo econômico  que  entrega  a riqueza do país para quem já tem muito e que distribui migalhas para quem tem pouco.

Em uma  das engenharias financeiras mais perversas da história mundial conseguiram  transformar, de 2003 a 2021, uma dívida pública de pouco mais de 600 bilhões de reais em uma dívida que ultrapassa 7 trilhões, mesmo tendo pago praticamente outros 7 trilhões.

Em termos  gerais, a cada trilhão que pagamos da dívida, ela aumenta em mais um  trilhão,  ao invés de diminuir, algo completamente absurdo, ainda mais se lembrarmos que as taxas de juros são definidas pelo próprio governo.

Não por acaso, esta trágica engenharia  financeira  transformou-se em uma pavorosa tragédia social.

Por esta e outras razões, o Brasil tem uma das piores concentrações de renda e desigualdades sociais do mundo.

Aqui, os cinco mais ricos acumulam uma fortuna equivalente a tudo que os 100 milhões  de brasileiros  mais pobres  possuem,  e cinco bancos  concentram 85% do mercado, o que lhes permite impor à população os juros mais altos do planeta.

Esquecem-se, ou fingem esquecer, que, exatamente por isso, cerca de 40 mil indústrias e mais de 350 mil comércios fecharam as portas do governo Dilma para cá; e que mais de 66,6 milhões de pessoas e 6 milhões de micro, pequenas e médias empresas estão com o nome sujo no SPC ou no Serasa.

É por conta desse esquecimento deliberado e criminoso que ostentamos tantos outros números que nos causam vergonha e indignação.

Somos o segundo maior produtor de alimentos do mundo, porém aqui mais de 33 milhões  de brasileiros passam fome, 125 milhões não conseguem fazer as três refeições diárias e  até carcaças de animais são vendidas como alimento.

Somos uma das maiores economias do planeta, mas aqui 55,5 milhões de pessoas vivem só com 14 reais ou menos ainda por dia; o desemprego ronda a casa dos 10 milhões; 5 milhões são desalentados, ou seja, pessoas que  já desistiram de procurar emprego; e o subemprego, que paga menos que o mínimo e não garante nenhum direito, tornou-se a regra geral e não a exceção.

Lula e o PT passaram 14 anos no poder e deixaram o Brasil com os mesmos problemas que encontraram. A prova disso é a rápida evaporação dos efeitos da fugaz benesse que   conseguiram produzir impulsionada por ciclos favoráveis das commodities.

Lula continua a repetir que colocou os pobres no orçamento quando, na verdade, os contentou com migalhas, deixando-os onde sempre estiveram: na escravidão da pobreza.

Bolsonaro, sua cria maligna, seguiu parte desta cartilha, aliando-se ao Centrão e vendendo-se à corrupção e ao clientelismo.

E acrescentou, sem dúvida, conteúdos gigantescamente mais pavorosos: o desrespeito às instituições e crimes contra a humanidade.

Mas estas diferenças não conseguem os separar de todo.

Ao contrário, conteúdos políticos e econômicos profundos mais os aproximam do que os separam.

Por isso tudo, o Brasil está na iminência de sofrer a maior fraude eleitoral da nossa história.

Não a mentirosa fraude das urnas eletrônicas, inventada por Bolsonaro.

Mas a fraude do estelionato eleitoral que sofrerão as vítimas que apertarem, nas umas invioláveis, o 13 ou o 22.

As urnas são de fato invioláveis, mas a legítima vontade popular está sendo tremendamente  violada.

Pois os que pensam que ao apertar o 13 elegerão Lula (mesmo que com seus defeitos), estarão, na verdade, elegendo os mesmos que saquearam o país nos últimos anos, com os quais Lula vergonhosamente de novo se aliou.

Aqueles que pensam que ao apertar  o 22 elegerão  Bolsonaro  (mesmo  que com suas deformidades) estarão, na verdade, elegendo  a outra parte da corja que  saqueou  o país  em  governos  anteriores, e que pularam  agora para um novo barco que disputa, com a mesma rota, a reta de chegada ao caos.

Mas ninguém traz isso para o debate.

Agora, na reta final da campanha mais vazia da história, embalam tudo no falso argumento do “voto útil”.

Com esta pregação, querem eliminar a liberdade das pessoas de votarem, no regime de  dois  turnos,  primeiro  no  candidato  que  mais  representa  seus valores, e, se for o caso, de optarem depois por aquele que mais se aproxime de suas ideias.

Querem privá-las do direito de expressar  seus sonhos e de testar a força de suas posições, enriquecendo o debate e fortalecendo  a pluralidade de ideias.

Querem calar as vozes das dissidências e submetê-las, sob o regime do medo e do terror velado, a dois blocos rivais que se escondem no maniqueísmo e no personalismo para disfarçar as profundas semelhanças  de suas candidaturas.

Por mais jogo sujo que pratiquem, eles não me intimidarão.

Não fugirei do verdadeiro embate democrático e não compactuarei com esta farsa.

Tenho compromisso de vida e morte com a luta por um Brasil melhor e nada me amedrontará nem irá me deter!

Minha candidatura está de pé para defender o Brasil em qualquer circunstância. E meu nome continua posto, como firme e legítima opção, para livrar nosso país de um presente covarde e de futuro amedrontador.

Com rebeldia e esperança ainda podemos, juntos, salvar nossa pátria.

Levanta, Brasil!



"Luloafetivos não sabem se voto útil é para derrotar Bolsonaro ou Ciro", por Madeleine Lacsko



Madeleine Lacsko
Colunista do UOL

22/09/2022 09h02

Tenho muita fé de que duas coisas salvarão o Brasil: matemática e antidoping. Ambas são mais que necessárias nesses últimos dez dias de campanha, com redes sociais pegando fogo e fígados falando muito mais alto que cérebros.

Se esculhambação fosse esporte olímpico, acho que nós nem poderíamos competir. O país seria hors concours. Mal começou a campanha luloafetiva pelo "voto útil", já desceu a ladeira completamente.

É normal das democracias a tentativa de convencer adultos a tratar eleições presidenciais como se fosse uma corrida do Jockey Clube. Em vez de escolher um futuro, você aposta no cavalo que ganha. E isso funciona porque, enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé.

Jair Bolsonaro não faz um governo, faz um acidente de trem. Natural que o oponente mais cotado nas pesquisas, Lula, pregue a utilidade de acabar com a agonia de uma vez só. São democráticos e legítimos os argumentos no sentido de liquidar a fatura no primeiro turno.

A coisa começa a esculhambar na absoluta falta de matemática e lógica básica da artilharia pesada contra Ciro Gomes. Até outro dia, ele e sua militância eram chamados de insignificantes e turma dos 7%.

É preciso decidir: ou são insignificantes ou a existência deles ameaça o futuro do Brasil. Não tem como ser as duas coisas ao mesmo tempo.

A outra coisa é a fake news surgida e sedimentada no imaginário nacional devido à falência absoluta do ensino de matemática. Se Ciro não tivesse "ido a Paris", Haddad teria vencido Bolsonaro.

Primeiro que Ciro estava no Brasil e votou em Haddad. Depois que, se ele fosse ao cartório e doasse ao petista todos os votos dele, Bolsonaro ganharia do mesmo jeito.

A campanha petista em 2018 foi sectária e incompetente. Nos dois quesitos, Jair Bolsonaro ganha de lavada. E foi isso o que ocorreu.

Como diria Homer Simpson "a culpa é minha, coloco em quem eu quiser". É o que fazem sistematicamente o PT e sua gloriosa trupe de apoiadores progressistes gourmet.

Passam anos xingando de fascista, tesourando profissionalmente e difamando todo mundo que não se ajoelha diante de Lula. Depois exigem apoio incondicional para continuar com o mesmo comportamento. Quando não dá certo, arrumam um culpado.

A moda da semana entre os Che Guevara de apartamento é dizer que a candidatura de Ciro não pode existir em nome da democracia. Seria cômico se não fosse trágico.

O eurocentrismo da nossa elite urbana impede que a manobra de construção de um "Arquitecto da Paz" fique clara. Dançam à beira do precipício ao som da perigosa ideia de um único fiador da paz nacional.

Acompanhassem as ideias de algum pensador além dos colonialistas, veriam que é uma forma de destruir democracias e liberdades individuais. Você ergue uma força que seria a pacificadora ou estabilizadora às custas do esmagamento dos direitos e até da dignidade de todas as demais.

José Eduardo dos Santos, falecido ditador de Angola e o mais longevo do continente africano, foi conhecido como o "Arquitecto da Paz". Esmagando qualquer um que o questionasse, acabou com a guerra civil e os conflitos que impediam o país de viver um mínimo de normalidade.

É uma espécie de "paz" diferente da que pregava, por exemplo, Martin Luther King. Para ele, a paz não é a ausência de conflitos, mas a presença de justiça.

Não é esse tipo de paz social pela qual lutam os luloafetivos. Miram mais em Ciro que em Bolsonaro, apelam para o pânico moral diante de eleitores que não sejam de Lula ou Bolsonaro, pregam eliminação de representatividade em nome da democracia, são lenientes com as fake news e a virulência do janonismo.

O desengajamento moral dos luloafetivos já está feito. Consideram que a existência de Lula basta para se opor ao chiqueiro moral do bolsonarismo. Por isso, agem da mesma forma que os bolsonaristas agiam em 2018, achando que o país colherá frutos diferentes. Oremos.

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