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quinta-feira, 22 de outubro de 2020
sexta-feira, 24 de maio de 2019
Lais Souza publica vídeo em que levanta as duas pernas sozinha
Beatriz
Cesarini
Do UOL, em São Paulo
24/05/2019 12h00
Na manhã de hoje,
Lais Souza mostrou mais uma evolução conquistada no tratamento de reabilitação
que faz após o acidente que a deixou tetraplégica há cinco anos. Em vídeo
publicado em sua conta oficial no Instagram, a ex-ginasta mostra que consegue
levantar as duas pernas.
Nas imagens, Lais
está deitada de bruços em uma cama e, com o auxílio de fios de
eletroestimulação, ela consegue levantar e dobrar as duas pernas. A ex-ginasta
contou que realiza esse mesmo movimento até com 'uma ajudinha' do seu cachorro
Skank.
"Eu utilizo eletroestimulação para fortalecer o músculo e realizar
o movimento sozinha. Também faço esse movimento, por incrível que pareça, com
meu cachorro mordendo meu pé", explicou Lais ao UOL Esporte.
Sempre que possível, Lais Souza
mostra aos poucos sua recuperação do acidente que sofreu em 2014 enquanto
praticava esqui aéreo nos treinos para os Jogos Olímpicos de Inverno do mesmo
ano. Nos últimos meses, com a ajuda de um aparelho, ela tem realizado mais
movimentos e já consegue se manter em pé.
https://www.instagram.com/stories/lalikasouza/
sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018
"Parei de buscar explicações", por Lais Souza
Já se foram quatro anos desde o meu acidente em Salt Lake City, nos Estados Unidos. No começo, perguntei-me muito sobre o que aconteceu. Questionava Deus: por que não me deixou os movimentos de uma mão, ou de um dedo sequer? Fiquei me massacrando. Mas não adiantou, não encontrei a saída, era pior, uma perda de tempo. O começo foi bem complicado, porque saí de casa aos 10 anos para viver o sonho de atleta, e já não tinha tanta convivência com meus familiares. De repente volto para Ribeirão Preto, sem movimento nenhum, necessitando de tudo e precisando de uma adaptação para mim e para toda a família. Eu sempre fui muito independente, tinha minha casa, pagava minhas contas, tinha meus relacionamentos. E de repente eu me vi de fralda, com a minha mãe, como se tivesse voltado a ser criança.
Parei de buscar explicações, e muita coisa mudou em minha vida. Meu jeito de pensar, de ver as coisas, a relação com minha família. Hoje a pior coisa que poderia me acontecer seria perder meus pais. Mil vezes pior que o meu acidente. Minha mãe é uma guerreira, demonstra uma força que não sei se eu teria. Acho que estou bem mais sensível do que na época em que andava. Quando vejo uma criança passando fome ou problemas parecidos com o meu, isso me sensibiliza muito. Todos os dias me contam histórias nas redes sociais e percebo que às vezes meu problema nem é tão grande. Mas quase não choro, acho isso ruim. Cresci na seleção de ginástica com treinadores rigorosos, sofri muito para treinar, com a canela machucada, pé quebrado, tive de aprender a lidar com isso, adquiri um lado meio “cavalo”.
Ando mais séria também, em relação a tudo, à saúde, aos problemas. Acho que estou me sentindo velha, tenho quase 30 anos! Mas tem dias em que estou como antes, brincalhona. Às vezes estou forte, às vezes estou “franga”, depende, mais paciente, mas às vezes estouro, inevitavelmente. Não sou de ficar gritando muito ou tomar decisões loucas, a não ser que já estejam na minha cabeça há muito tempo. Às vezes acordo e acho que vou me mexer normalmente. Isso frustra… Quando converso, tenho a nítida sensação de que estou gesticulando. Pode ser que em algum momento eu me surpreenda e realmente me mexa.
Preencho meu tempo com meu trabalho, faço palestras e eventos, minha principal fonte de renda. A fisioterapia constante me faz sentir atleta, porque eu sou atleta ainda. Canso do mesmo jeito, faço um esforço parecido, sinto dor muscular, aquela sensação de vitória quando consigo completar um exercício novo ou quando apresento sensibilidade em algum lugar. Depois do acidente, achei que não fosse mais me surpreender, sentir adrenalina, mas a vida me mostrou que isso ainda é possível. Tenho sensibilidade embaixo do pé, na barriga, nas costas e em alguns pontos da mão. O músculo do meu bíceps também vibra muito nos exercícios, isso é novo. Eu me sinto mais forte, mas vou devagar.
Consigo viver normalmente dentro das minhas limitações. Para ser sincera, o que mais sinto falta é de sexo. Sempre fui uma pessoa muito física, estava sempre em movimento, liberando adrenalina. Hoje não consigo fazer mais nada, é muito difícil. Aliás, minha sexualidade foi muito comentada, não chegou a me incomodar, porque a minha família, que realmente importa, já sabia. Nunca escondi nada da minha mãe. Logo contei para ela, expliquei o que eu estava sentindo e fomos nos adaptando. Quando saiu a notícia (de que tinha uma namorada), eu pensei: Caramba, quebrei o pescoço, estou quase morrendo, e as pessoas estão preocupadas se eu gosto de homem ou mulher, em pleno século XXI?
Agora moro em Ribeirão Preto, com minha mãe, num pequeno apartamento, e minha rotina começa depois das 9h30. Não gosto de acordar cedo, cuido da minha higiene, tomo banho, almoço, depois treino, vou à faculdade (de psicologia) e tento sair com minhas amigas, uma delas a Daiane dos Santos (também ginasta), com quem tenho muito contato. Nessa fase, quando vejo uma prova de ginástica, não sinto tristeza, mas saudade. Hoje olho para o acidente de uma forma mais serena - nunca voltei ao local, mas pretendo, seria legal ver neve de novo. E eu teria a chance de esquiar, sentadinha, num trenó adaptado. Espero que não tenha nenhum trauma.
Depoimento colhido por Silvio Nascimento e Luiz Castro
Foto Felipe Cotrim/VEJA.com
Foto Felipe Cotrim/VEJA.com
segunda-feira, 4 de julho de 2016
"A maior vitória de Lais", por Cilene Pereira
Cilene Pereira
fotos André Lessa
02/07/2016
A sessão de fisioterapia começou por volta das 13 horas de uma tarde gelada em São Paulo. Lais Souza estava encapotada. Calçava bota revestida de pele, calça grossa e por cima da blusa de manga comprida tinha um blusão acolchoado. Na cabeça, uma touca de lã cinza. “De mano”, disse com um sorriso de canto de boca, desses que fazem as pessoas parecerem mais novas do que são. Lais tem 27 anos, mas nesses momentos qualquer um pode dar a ela 15, no máximo 16 anos. O sorriso brincalhão aparece quando o gorro de mano cai e encobre a testa e os olhos, e Lais não pode fazer nada a não ser balançar a cabeça sem parar até que alguém a seu lado perceba. A ex-atleta Lais é assim. Miúda, delicada, doce, bem humorada. É desse jeito, com uma leveza encantadora, que ela está fazendo história. Já tinha feito no esporte, por ter ganhado uma coleção de títulos e participado de duas Olimpíadas (Atenas, em 2004, e Pequim, em 2008) como integrante da equipe brasileira de ginástica artística. Agora, Lais faz história na medicina.
Desde o dia 27 de janeiro de 2014, Lais não pode mais se movimentar do pescoço para baixo. Naquele dia, ela esquiava em Salt Lake City, nos Estados Unidos, em mais um treino de preparação para a Olimpíada de Inverno que aconteceu naquele ano em Sochi, na Rússia. Ela concorreria com a equipe brasileira de esqui aéreo, esporte de altíssimo desempenho e de uma beleza plástica admirável proporcionada pelas manobras em pleno ar executadas pelos atletas. Um choque contra uma árvore enquanto descia a montanha causou um deslocamento na terceira vértebra (C3) e quarta vértebra (C4) da coluna cervical. A lesão impedia a passagem de qualquer sinal nervoso do cérebro para o resto do corpo, e vice-versa. A estrada por meio da qual eram transmitidas e recebidas as informações que abasteciam o cérebro de Lais tinha sido bloqueada. Por isso, a ex-atleta perdeu a capacidade de andar, mexer os braços e sentir coisas como um toque na pele ou saber quando a bexiga está cheia.
A tragédia de Lais poderia ter ficado circunscrita à lista de fatalidades que acometem atletas que praticam esportes de alto risco. Mas a combinação da força da ex-ginasta com o empenho, conhecimento e carinho da equipe médica que a atendeu transformou o drama da brasileira de Ribeirão Preto em uma história extraordinária. Desde o início, soube-se que a situação era grave. Tanto que, dois dias após o acidente, Lais foi submetida a uma traqueostomia (introdução de um tubo na traqueia para permitir a respiração) e a uma gastrostomia (colocação de uma sonda alimentar diretamente no estômago). Em geral, esses procedimentos são feitos mais tardiamente e não logo depois dos acidentes. Neste período, avalia-se se serão mesmo necessários ou se o quadro pode ser revertido. No caso de Lais, eram escassas a chance de isso acontecer.
No acidente de 2014, Lais sofreu lesões nas vértebras C3 e C4, o que impedia a passagem de qualquer sinal nervoso a partir daquele ponto
Ela havia sido internada no Hospital Universitário de Utah. Em Miami, o médico brasileiro Antonio Marttos Júnior foi informado do caso. Especialista em trauma, ele a conhecia desde a Olimpíada de Londres, em 2012. Pouco antes do início dos Jogos, ela sofreu uma fratura na mão e foi atendida por ele. Depois de uma videoconferência com outros médicos e de analisar os exames de imagem da ex-atleta, Marttos decidiu pedir ajuda ao médico Barth Green, do Miami Project. A instituição é um dos principais centros de tratamento e pesquisa da paralisia, junto com a Universidade da Califórnia, também nos Estados Unidos, e algumas outras poucas instituições mundo afora. Lais foi transferida para o Jackson Memorial Hospital, em Miami, onde passou a ser atendida.
Desde o início, a ideia era investir pouco a pouco na reabilitação da ex-ginasta. “Lais não tem pela frente uma corrida de 100 metros rasos”, compara Marttos Júnior. “Tem uma maratona.” Pequenos progressos, como respirar sozinha e conseguir engolir, foram festejados. O primeiro passeio fora do quarto, de cadeira de rodas nos jardins do hospital, também. Com as respostas positivas e a disposição de Lais para encarar o que viesse pela frente, a equipe médica decidiu dar um passo maior: testar a eficácia das células-tronco em lesões como a da ex-atleta.
Células-tronco são células que ainda não se especializaram. Não são células ósseas, sanguíneas ou neurônios, por exemplo. São como matrizes prontas para se transformar nas células do lugar onde estão ou onde forem colocadas. A ideia é que, infundidas no cérebro, possam virar neurônios ou enriquecer a rede de vasos sanguíneos. Induzidas a virarem cartilagem, podem ser usadas em áreas danificadas dos joelhos. Por essa capacidade, elas têm sido alvo de intensos investimentos da ciência nos últimos dez anos. O sonho é utilizá-las como espécies de peça de reposição para substituir as que foram quebradas.
Há bons resultados em seres humanos na recuperação do músculo cardíaco afetado pelo infarto. No tratamento da tetra ou paraplegia há muito ainda sendo estudado. O objetivo é melhorar as condições de funcionamento das áreas lesadas, fazendo com que elas auxiliem na regeneração de partes dos feixes nervosos e ajudem na recuperação de áreas danificadas.
Lais enfrenta as cansativas e, por vezes, dolorosas sessões de fisioterapia com otimismo. A bagagem adquirida como atleta é decisiva do ponto de vista físico e mental
Lais pouco sabia a respeito desse mundo novo da medicina. Quando descobriu a intenção da equipe que a atendia, perguntou tudo o que queria saber e, mais uma vez, confiou plenamente nos especialistas. “Esses médicos são todos doidos”, diz, dando risada. Com a ajuda do consulado brasileiro em Miami, do médico Marttos Júnior e de todo o pessoal do Miami Project, Lais tornou-se a primeira pessoa nos Estados Unidos a conseguir uma autorização do Food And Drug Administration (FDA) – agência americana responsável pela liberação de drogas e tratamentos – para usar célula-tronco em tratamentos de lesão medular.
Há várias fontes de células-tronco no corpo. Em dentes de leite ou no sangue menstrual, por exemplo. Também podem ser extraídas de embriões Estas últimas podem se transformar em ainda mais tecidos do que as retiradas de adultos, mas sua utilização esbarra na questão ética de usar embriões. Nos protocolos de estudo, o mais comum é tirar as células-tronco presentes na medula óssea (o órgão que produz as células sanguíneas). A extração costuma ser feita da medula óssea presente no osso da bacia.
Lais passou por esse processo. Depois de retiradas, suas células foram replicadas em grande número em laboratório e reinjetadas no local da lesão. O procedimento foi repetido três vezes, com intervalo de um mês entre cada um.“Após as injeções, ela dizia que sentia formigamento no corpo todo”, diz Marttos Junior
Hoje, passados pouco mais de dois anos do acidente, Lais apresenta progressos surpreendentes. “É uma melhora atípica para quem sofreu uma lesão como a dela”, afirma o médico. Antes, ela sentia pontos de sensibilidade abaixo do pescoço. Agora, são áreas inteiras que se tornaram sensíveis. “Não sei ainda dizer se é a mão de alguém tocando minha barriga ou água caindo, mas sinto”, conta ela. A ex-ginasta também já consegue perceber quando a bexiga está cheia ou se está em posição desconfortável. E é difícil não se emocionar ao vê-la girando o corpo usando a força dos ombros.
Não se sabe dizer o quanto da melhora se deve às células-tronco. O mais provável é que ela seja resultado de uma associação muito feliz de fatores. “Grande parte de seus progressos se deve a sua excelente forma física antes do acidente, sua determinação e disposição firme no trabalho de reabilitação”, diz o médico James Guest, do Miami Project, que acompanha Lais desde o começo. “Ela se dedica a sua recuperação como se estivesse treinando para mais uma Olimpíada.”
Os dias da ex-ginasta são de muito trabalho. Ela faz sessões praticamente diárias de fisioterapia com duração mínima de duas horas. Em São Paulo, o tratamento é feito no Acreditando, um centro especializado em reabilitação de pessoas com lesões medulares ou neurológicas criado por um casal de cadeirantes. Vê-la se esforçando para executar os movimentos pedidos pelos profissionais – quatro se revezam no atendimento a Lais – é ganhar uma lição de determinação. Gestos simples para a maioria das pessoas, como empurrar a mão de outra pessoa, exigem dela uma aplicação e concentração impressionantes. O esforço é visto nas caretas que faz durante a execução dos movimentos, e a recompensa vem com um semblante de alívio e de alegria por ter cumprido a tarefa pedida. “Todo dia faço um pouquinho mais”, conta.
Na clínica, todos torcem por todos e os progressos são muito comemorados. “No caso da Lais, os principais ganhos são o aumento da atividade nos braços, começando com sinais nos bíceps e tríceps”, diz a fisioterapeuta Natália Padula, uma das que a atende. Esse tipo de melhora ajuda a ex-ginasta a rolar, por exemplo. Já o fortalecimento do abdome permite que ela tenha uma postura mais correta quando está sentada e também que fique de pé, com auxílio dos equipamentos. Quando chegou à clínica, há um ano, ela ficava ereta por no máximo cinco minutos. Hoje, chega a permanecer nessa posição por até meia hora.
A bagagem adquirida por Lais como atleta é decisiva na sua reabilitação. No aspecto físico, ela guarda uma consciência corporal que a auxilia na execução dos movimentos, sabendo com precisão a região, os músculos a serem acionados. Do ponto de vista comportamental, Lais mantém a disciplina e o treino de todo atleta para superar os tombos e pensar adiante. “Por mais momentos de fraqueza que tenha, ela consegue se concentrar e pensar no próximo passo”, diz Marttos Júnior
Nos planos da ex-atleta, são muitos os próximos passos. A começar pela programação para os Jogos do Rio. No dia 24 de julho, ela participará da passagem da tocha olímpica por São Paulo. Durante as competições, trabalhará como consultora de uma rede de tevê esportiva e, depois, estará presente na Paraolimpíada.
Mas Lais está preocupada. Teme que depois dos Jogos as atenções aos atletas se enfraqueçam, como sempre acontece. Atualmente, ela tem dado palestras e contado com a ajuda da família, amigos e empresas para custear seu tratamento. O piloto Helio Castro Neves, o jogador Neymar e o cavaleiro Doda Miranda estão entre os que contribuíram. A Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, também.
Para aprimorar seu desempenho nas palestras, ela planeja tomar aulas de canto – ajudará na empostação da voz e na respiração – e de oratória. Em um futuro um pouco mais distante, mas nem tanto, está o plano de estudar psicologia. E se depender dos amigos que fez no Miami Project, ela continuará a fazer história na medicina. “Lais é tão motivada e uma pessoa tão boa para se trabalhar que queremos oferecer a ela toda terapia que considerarmos úteis”, diz o americano James Guest. Nas palavras do cientista, isso inclui a implantação de chips que fazem a interface entre o cérebro e o resto do corpo, permitindo que a mente controle os movimentos. Lais continuará a sua maratona – e certamente chegará bem longe.
NA VANGUARDA DA MEDICINA
Lais foi a primeira pessoa a receber autorização do FDA – agência americana responsável pela aprovação de remédios e tratamentos – para se submeter a uma terapia com células-tronco para tratar lesões medulares. Confira o que foi feito até agora
_O acidente com a ex-ginasta aconteceu no dia 27 de janeiro de 2014, quando ela se preparava para competir nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, na Rússia. Lais disputaria o esqui aéreo. Ao se chocar contra uma árvore, a atleta perdeu os movimentos e a sensibilidade do pescoço para baixo
_Desde o início do ano, Lais vem se submetendo a terapia com células-tronco. Elas são capazes de se transformar em vários tecidos do corpo. Por isso, a ideia é que elas ajudem na regeneração de partes dos feixes nervosos e ajudem na recuperação de áreas danificadas.
_Células-tronco foram extraídas da medula óssea de Lais contida no osso da bacia
_Foram replicadas em grande número em laboratório e reinjetadas no local da lesão
_Houve três aplicações, com intervalo de um mês entre cada uma
_Vários estímulos sensitivos e alguns motores começaram a chegar a regiões abaixo da lesão
_De completa, a lesão passou a ser considerada incompleta. Ou seja, há passagem de sinais nervosos para baixo da área lesada e chegando à região sacral
_Lais já sente, por exemplo, quando sua posição está desconfortável ou a bexiga está cheia. Também consegue se virar
_São grandes progressos, considerando a gravidade da lesão que a vitimou
http://www.istoe2016.com.br/a-maior-vitoria-de-lais/
sexta-feira, 15 de abril de 2016
A História de Lais Souza, por Patricia Vellenich
Um belo documentário sobre a maravilhosa Lais Sousa.
Imagens: Elias Fábio
Edição e Finalização: Samuel Wendel
Videografismo: Jessé Mariano
Produção: Alessandra Neves e Sueli Marques
Reportagem: Patricia Vellenich
Imagens: Elias Fábio
Edição e Finalização: Samuel Wendel
Videografismo: Jessé Mariano
Produção: Alessandra Neves e Sueli Marques
Reportagem: Patricia Vellenich
quarta-feira, 27 de janeiro de 2016
Laís Souza, uma história de superação diária
Dois anos
após acidente, Lais aprende a viver sobre rodas: "Consegui aceitar"
Ex-atleta se
adapta a "mundo de rodas" e se torna inspiração para cadeirantes:
"Meu objetivo é andar. Tem que ir no dia a dia e tentar não desistir. Tem
que ir lutando"
Por Fernando
Vidotto e Marcos Guerra
“Hoje eu
vejo o mundo de uma forma diferente de quando andava.” O mundo de Lais Souza
está bem diferente há exatamente dois anos. Ex-ginasta olímpica e
ex-esquiadora, ela não se pergunta mais: “por que comigo?” Não tenta achar
respostas para o que chama de destino. Até se sente confortável para recordar o
acidente em uma pista de esqui que a deixou tetraplégica, mas prefere olhar
para frente, prefere vislumbrar um milagre da medicina que a permita mexer os
braços e as pernas. Lais sonha andar novamente, só que sua nova vida, seu
“mundo de rodas”, não é feito apenas de fé, mas também da força de vontade de
quem se arrisca - e sem pensar duas vezes - em um tratamento experimental com
células-tronco, de quem encara a fisioterapia com a mesma garra de um treino,
de quem valoriza a mais sutil evolução. Uma vida de resiliência e superação
diária.
![]() |
Video - Assistir em http://globoesporte.globo.com/olimpiadas-de-inverno/noticia/2016/01/dois-anos-apos-acidente-lais-aprende-viver-sobre-rodas-consegui-aceitar.html |
- O que eu
sonho hoje é que não estou na cadeira, que em algum momento a medicina vai
evoluir, que minha saúde vai melhorar. Eu procuro ser positiva, porque já é
difícil estar passando por essa situação e estar encarando isso. Então preciso
encarar de forma positiva, me motivando. Meu objetivo é andar, agora a
velocidade com que isso vai acontecer, não tenho como dizer. Tem que ir no dia
a dia e tentar não desistir, porque sei que é um problema que vai ser lento
para ser resolvido. Tem que ir indo e lutando. Vejo pessoas que estão na
cadeira e não fazem nada para sair, não saem de casa, não tentam fazer
diferente. Eu quero fazer diferente, quero voltar a andar, que seja mexer os
braços. É o mínimo que espero - contou a ex-ginasta e esquiadora.
Dois anos após acidente, Lais é símbolo da luta do tetraplégico (Foto: Marcos Ribolli)
Dois anos
depois do acidente, a luta diária de Lais Souza é cheia de brincadeiras, piadas
e sorrisos, só desfeitos para dar lugar à expressão de esforço nos exercícios
da fisioterapia. A tristeza por sua condição, de quem só consegue mexer a
cabeça e os ombros, raramente dá as caras. Lais não deixa, é forte. Treina como
uma atleta, mesmo que o estímulo seja passivo. Vai ao salão de beleza como
qualquer jovem de vaidosa de 27 anos. Passeia com amigos como todo mundo.
Trabalha dando palestras motivacionais, ainda que não chame isso de trabalho. Lais se adaptou ao “mundo de rodas”, à vida de cadeirante que o
GloboEsporte.com mostra em parceria com o SporTV - assista ao terceiro e último
episódio de série “Uma História de Superação Diária” nesta quarta-feira, no Tá
na Área.
Veja o 1º episódio da série "Uma História de Superação Diária"
Veja o 2º episódio da série "Uma História de Superação Diária"
Veja o 2º episódio da série "Uma História de Superação Diária"
1 - Aceitar e inspirar
Lais Souza
continua tão vaidosa quanto nos tempos de ginástica, mas já não se olha tanto
no espelho. É difícil se ver tetraplégica para uma pessoa que encantou o Brasil
com suas piruetas e que quase nada conhecia sobre o universo dos cadeirantes.
Pouco a pouco, a atleta foi aprendendo a viver nesta nova condição. Foi
percebendo que, com a ajuda da mãe Odete Vieira e do cuidador Willian Campi,
pode fazer praticamente tudo que fazia antes do acidente. Pode ter uma vida
feliz. Em agosto de 2015, Lais deu um passo importante em sua reabilitação, se
aceitou e registrou o momento nas redes sociais com uma frase comovente:
“Manter a cabeça erguida e aceitar”.
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Desde o acidente, Lais Souza se olha menos no espelho (Foto: Marcos Ribolli) |
- Nesse dia,
fiquei parada na frente do espelho e olhei o meu corpo, o meu resto e foi essa
frase que quis escrever, que era um momento que estava aceitando o que eu
tinha, o que eu sou hoje. O problema é aceitar a forma que foi. Eu não tive
nada, nenhuma fratura, não quebrei um braço, não quebrei uma perna, nem uma
costela, nada. Simplesmente quebrei o pescoço. Tentar entender isso e aceitar é
o que é difícil. Foi o que passei no primeiro ano. Hoje já estou com uma cabeça
diferente, encarando de uma maneira diferente o meu problema. Já estou de um
jeito que consegui aceitar o meu problema. A ideia de pensar que eu poderia
estar morta é muito pior do que eu estar na cadeira, porque poderia estar
morta. Eu pelo menos estou aqui agora, estou próxima da minha família e tudo
mais. Agora para a morte ninguém dá jeito - disse a ex-atleta.
Com essa
postura de força, fé e determinação, Lais ganhou ainda mais fãs e assumiu uma
posição de símbolo de superação. Se no âmbito fisiológico a evolução se limitou
à sensibilidade de pés, barriga e costas - o que ela comemora muito -, no
âmbito social Lais colecionou vitórias: foi ao Rock in Rio, foi a baladas, foi
à praia, pegou carona em um carro da Stock Car e até surfou em uma prancha adaptada. Ela se reintegrou à sociedade.
- A maior
dificuldade hoje é que muita gente não sabe o que é ser cadeirante, como é
encarar isso. O que eu queria era quebrar esse paradigma, mostrar que a pessoa
que é cadeirante tem dificuldades, mas ela continua ali. São pessoas
inteligentes. Acontece com qualquer um.
Em seus
passeios, seja em Ribeirão Preto ou em São Paulo, Lais não raras vezes recebe o
carinho de fãs, inclusive cadeirantes, que se inspiram nela. Nas redes sociais,
o cenário é o mesmo. Ela, que usa o celular com uma espécie de caneta de
contato presa à boca, nem consegue responder todas as pessoas que buscam
informações sobre tratamentos, querendo seguir o mesmo caminho de reabilitação.
Tatuado no braço um símbolo da luta do tetraplégico para voltar a andar, Lais
se tornou porta-voz da causa.
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Lais virou inspiração para cadeirantes (Fotos: Marcos Ribolli) |
2 - "Ser coitada? não!"
Para quem
não acompanha Lais Souza, seja no dia a dia ou nas redes sociais, parece até
natural sentir pena dela, afinal, uma jovem atleta que rodopiava no ar, tanto
na ginástica como no esqui, não pode fazer o que mais ama: voar. Só que ela não
se coloca nessa posição de fragilidade, pelo contrário, se mostra forte,
raramente chora por estar em uma cadeira de rodas.
- Ela não
desanima, não bate tristeza nela. Eu não vejo a Lais chorar, mesmo nessa
situação, porque ela é totalmente ativa. Vejo que ela é muito forte - disse
Willian Campi, cuidador e amigo.
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Lais Souza se diz uma menina de sorte por ter suporte em seu tratamento (Foto: Marcos Ribolli) |
A ex-atleta
olha para frente, pronta para encarar tratamentos e exercícios de fisioterapia,
pronta para encarar a vida no que chama de “mundo de rodas”.
- Ninguém
gosta de ser coitado. O coitado é ruim, é fraco, não é positivo. Eu sou o
contrário disso, gosto de coisas que chocam, que são positivas, que é bom, não
gosto de ser para baixo. Ser coitada? Não! Não acho que tem de pensar: “Ah, ela
mereceu!” Não é assim. Aconteceu. Tem que viver a realidade, tem que viver o
momento e a situação pela qual está passando. O coitado não é ninguém, por isso
que eu não gosto.
Lais foge da
alcunha de coitada e até se diz uma menina de sorte. Não à toa. Seu acidente
causou tamanha comoção no Brasil, que ela conquistou uma série de privilégios
que outros brasileiros tetraplégicos não têm. Por ter representado o país desde
os 12 anos, a ex-ginasta recebe uma pensão especial e vitalícia do Governo
Federal no valor do teto da Previdência Social (Reajustado para R$ 5.189,82 a
partir deste mês). O Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a Confederação
Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) também a auxiliam financeiramente, além
da Universidade Estácio de Sá, para quem a ex-esquiadora dá palestras. Ela
conta com ajuda de uma empresa de roupa e da clínica Acreditando, onde faz o
tratamento de fisioterapia.
Lais ainda
recebe doações de anônimos e amigos famosos. O apresentador Luciano Huck a deu
um carro adaptado, que usa no Brasil. Astro do Barcelona e da seleção
brasileira, Neymar também dá uma ajuda importante para a ex-atleta. Lais se
divide entre Ribeirão Preto, sua cidade natal, e São Paulo, onde faz
fisioterapia e dá palestras. Quando está na capital paulista, ela se hospeda em
um apart hotel bancado por Neymar. Apesar de todo o suporte, o tratamento de
Lais é tão caro que ela ainda depende das doações na campanha “Eu Apoio a
Lais”.
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Neymar banca o apart hotel em que a amiga Lais mora em São Paulo (Foto: Marcio Iannacca) |
3 - Vida de atleta
Com seu
esforço, faz jus a todo o suporte que recebe, seja o financeiro, seja o
incentivo de fãs. Mesmo em dias que sua pressão está mais baixa - fato normal
na sua condição -, ela não se deixa abater e vai à fisioterapia - sempre
cantando e com som alto no carro para animar. São cinco sessões semanais de
três horas cada uma. Uma rotina puxada, digna de um atleta, tanto que Lais e as
fisioterapeutas da clínica chamam os exercícios de treino.
- Não mudou
muito meu dia a dia, porque eu vou para o treino e faço algum tipo de trabalho,
ou alguma tarefa. Meu dia a dia parece de quando era atleta. Hoje dedico três
horas do meu dia à fisioterapia e parece que corri uma maratona. Eu fico bem
cansada. Minha saúde é mais sensível. Basicamente eu fico de olho na minha
saúde, vou ao treino e ao mesmo tempo tenho que trabalhar, porque vida de
cadeirante não é barata.
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Lais Souza se esforça nos treinos (Foto: Marcos Ribolli) |
O treino é
composto por terapias baseadas em atividades, que buscam promover a recuperação
do movimento e da sensibilidade que ela perdeu através de exercícios intensos.
Elásticos, cordas e principalmente os fisioterapeutas ajudam na movimentação de
braços e pernas. Ela, inclusive, anda em uma esteira ergométrica. O estímulo é
passivo, mas o resultado é um real trabalho aeróbico. A frequência cardíaca
chega a aumentar de 45 batimentos por minutos para 90 - a frequência cardíaca
de um tetraplégico costuma ser menor do que o de um adulto saudável.
Lais Souza anda em esteira, com a ajuda de profissionais de educação física e cabos (Foto: Marcos Ribolli)
- É como se
estivesse andando mesmo. As meninas sempre perguntam o que eu estou sentindo,
como é que está meu batimento. Eu procuro reparar: sinto bastante meu pé bater
no chão, sinto um pouco de pressão no meu quadril. Conforme elas vão mexendo
minha perna, eu procuro movimentar o meu corpo, para ajudar e ver se alguma
coisa entra em ação, se ativa. Para o cérebro, essa ligação de ficar tentando
mostrar com o movimento do corpo que tem alguma coisa ali é muito boa. Você
acaba mandando um sinal do corpo para o cérebro e vice-versa para que em algum
momento os fiozinhos liguem lá de novo.
O trabalho
de fisioterapia complementa o tratamento experimental com células-tronco. Lais
já fez três aplicações e espera ser chamada pelo projeto de Miami ainda neste
início de ano para mais uma bateria de exames e uma nova aplicação de
células-tronco.
o mundo em
um novo ritmo
4 - O mundo em um novo ritmo
Fora da
fisio, a vida é mais tranquila, segue um ritual. Tomar café na cama, remédios,
banho -quase sempre com música -, escovar os dentes, escolher uma roupa. E lá
se vai a manhã inteira. Lais depende da mãe Odete e do cuidador Willian para
fazer tudo, e as pequenas ações do dia a dia ganham um novo ritmo, uma cadência
mais lenta como pede os cuidados com uma pessoa de saúde sensível como uma
tetraplégica. Por exemplo, um bom banho, que durava quase uma hora, agora leva
mais de duas horas.
- Eu sinto
muita falta de tomar banho sozinha, eu mesma lavar meus cabelos, eu mesma
escovar meus dentes. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Hoje a
gente já se acostumou. O Willian me dá banho, ele já sabe como eu quero escovar
os dentes, como eu gosto, como gosto de deixar meu cabelo, roupa e tudo isso
assim. Mas no começo foi bem chato, foi bem difícil adaptar e aprender, mas deu
certo.
Lais saiu
das casas dos pais ainda menina, com dez anos, para se dedicar à ginástica e,
com isso, se tornou muito independente. Não foi fácil precisar de ajuda para as
mais corriqueiras atividades. Hoje ela aceita sua condição, embora às vezes
prefira assoprar ou usar os ombros para tirar uma mecha de cabelo. Não quer
chamar a mãe ou o cuidador o tempo todo. Para quê incomodá-los de dois em dois
segundos?
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Lais Souza vai ao salão de beleza e mantém rotina como a de qualquer jovem de 27 anos (Fotos: Marcos Ribolli) |
- Com
certeza minha paciência mudou. Eu era muito independente. Morava sozinha, tinha
meu carro, tinha meu dinheiro. Comprava o que eu queria na hora que queria.
Hoje dependo das pessoas para me mexer, para tomar banho, para tudo mais. Por
isso eu tive de acabar aprendendo a ter essa paciência a mais, a passar o que
eu quero, a me expressar direito para que dê certo.
Mais
paciente e serena, Lais fala manso. Às vezes nem precisa abrir a boca para o
cuidador Willian ou a mãe Odete entenderem o que ela precisa, tamanha a
cumplicidade entre eles. Os dois sabem o que ela quer comer - e agora que não é
atleta, tem uma dieta sem regras, pode comer de tudo, embora o estômago
sensível só aceite pequenas porções. Até a moda dela mudou. Como não consegue
controlar a temperatura do corpo, Lais sente muito frio. Nada que um casaco
aconchegante não dê jeito. Tudo se adapta para o “mundo de rodas”, mesmo o
sono, que tem de ser interrompido de duas em duas horas para mudar a posição do
corpo e, assim, evitar feridas.
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Lais Souza muda estilo por sentir frio, mas mantém passeios com amigos, como Ingrid Messias (Foto: Marcos Ribolli) |
5 - Anjos da guarda
Para tudo o
que a jovem precisa, dois anjos de guarda se revezam e a amparam. A mãe, Odete
Vieira, largou o emprego em uma fábrica de sapatos para se entregar à filha. Ao
contrário de Lais, Odete ainda se pergunta quase todos os dias: “Por que com a
gente?” Às vezes ela chora, mas não na frente da filha. Precisa ser forte para Lais,
mantém a esperança de vê-la andar novamente.
- Ver um
filho seu a vida toda andando e de repente ele estar na cadeira de rodas é
complicado, mas não é um bicho de sete cabeças. Estamos tentando nos adaptar,
tentando nos acostumar. Tenho os meus momentos de tristeza sim, em que imagino
que não vou dar conta. Não posso ficar pensando muito e viver o que está
acontecendo hoje, amanhã é outro dia. Eu penso dessa forma para não
enlouquecer, porque se vai pensar em todas as dificuldades, você cai em
depressão, você enlouquece. A esperança é a última que morre, né? Eu tenho
muita esperança de ver minha filha andando ainda. Ela não é uma pessoa enferma,
não é doente, só está tetraplégica. Acho que uma hora dessas, as coisas vão
voltar, e ela vai caminhar - disse Odete.
Positivas
como são, mãe e filha até encontram um lado bom da situação em que estão: agora
podem se conhecer melhor. Com a rotina de treinos e viagens para competições,
Lais pouco parava em casa, em Ribeirão Preto. Agora as duas raramente se
separam.
- Sempre nos
demos muito bem. O bom disso tudo é que estamos muito juntas. Tenho mais tempo
de conhecer minha filha, de dar carinho para ela. A mesma coisa para ela, de se
adaptar à família, porque saiu de casa muito cedo e acostumou. Acho que era uma
coisa que devia estar faltando e Deus disse: “Para, vocês precisam ficar mais
juntas.” - destacou Odete.
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Cuidador Willian Campi e a mãe Odete Vieira são os anjos da guarda de Lais Souza (Fotos: Marcos Ribolli) |
Se a mãe não
está por perto, pode ter certeza que um segundo anjo da guarda está: Willian
Campi. Há 11 meses, o cuidador de 26 anos entrou na vida da ex-atleta, e a
relação dos dois vai muito além do trabalho. Willian é o movimento de Lais, é
conselheiro e confidente também.
- Virou um
irmão, um amigo, um pai, virou tudo. Eu basicamente acho que ele me deu a minha
vida de volta. Ele é jovem, ele me entende. Se eu estou com algum problema, se
eu quero fazer alguma coisa, eu só o chamo, eu o olho, ele já sabe o que quero.
Ele deu asas à Lais Souza, que está com aquele probleminha, e se Deus quiser
vai passar logo. Ele me deu pernas, me deu braços. Às vezes eu dou uns ataques,
e ele está lá, firme e forte - disse Lais.
amigo, estou
aqui!
6 - Amigo, estou aqui!
Com um anjo
da guarda também jovem como Willian, Lais se sentiu mais livre para ganhar o
mundo. O amigo-irmão a leva para passear e encontrar outros amigos,
principalmente em restaurantes e cinemas, mas até para baladas os dois vão.
- Não
consegue dançar em uma balada, mas consegue ir e curtir de outra forma, vai ao
teatro, vai ao cinema. Ela não vai ficar afastada por que está na cadeira. Ela
é igual - disse Denise Lessio, fisioterapeuta e amiga de Lais, que acompanhou o
início do tratamento, nos Estados Unidos.
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Lais está sempre cercada por amigas como Ingrid Messias, Denise Lessio e Daiane dos Santos (Foto: Marcos Ribolli) |
A vida
social é como a de qualquer jovem de 27 anos, chegou a namorar depois do
acidente, mas o relacionamento não seguiu em frente. A ex-atleta está sempre
cercada por amigos, a maioria da época da ginástica, como Ingrid Messias, que
hoje é atleta do salto com vara. As duas se visitam frequentemente. Daiane dos
Santos não consegue se manter tão perto de Lais por causa de seu trabalho como
comentarista do Time de Ouro da TV Globo, mas também está sempre em contato,
nem que seja por mensagens no celular.
- A Lais é
muito carinhosa, adora beijo e abraço. Ela gostava muito de abraçar antes, e eu
não gostava. Agora ela me pede: “Me dá um abraço, Daiane”. É uma amizade bem
alegre. Esse jeitinho Lais de ser não mudou. É carismática, piadista. Até mesmo
com a sua condição ela faz piada. Às vezes até assusta: “Nossa, ela está
brincando com isso? É um assunto tão sério.” Eu acho legal esse jeito, porque
ajuda a deixar mais leve essa situação - contou Daiane.
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Lais Souza é muito carinhosa com amigos (Foto: Marcos Ribolli) |
O mesmo
jeito alegre e positivo com as amigas é o que Lais tenta mostrar em suas
palestras motivacionais. Ela não consegue estar sempre trabalhando, a
prioridade é cuidar do corpo, mas encanta e inspira quando palestra.
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Lais Souza trabalha com palestras motivacionais (Foto: Reprodução/Facebook) |
- Eu
normalmente quando vou pensar em uma palestra, ou em um bate-papo com alguém,
fico pensando no que as pessoas querem ouvir de mim, no que é importante eu
falar. São muitas coisas que eu junto e acabo fazendo de uma forma que eu possa
me adaptar àquela situação, se é uma empresa ou uma escola. Eu nem chamo de
trabalho. É saudável, é gostoso. É o que eu tento fazer para ajudar mesmo.
Ela pensa em
voltar ao esporte, está para conhecer a bocha adaptada e também considera jogar
pôquer, canoagem e mesmo esqui adaptado. A paixão de sua vida, a ginástica artística,
ela continua acompanhando de perto e pretende estar na arquibancada dos Jogos
Olímpicos do Rio de Janeiro para transmitir aos amigos um pouco da força e da
esperança que carrega em sua rotina de superação.
- Teve um
tempo que eu falei que tinha como meta entrar andando nas Olimpíadas. É um
sonho ainda distante, mas quem sabe até lá acontece.
*
Colaboraram Erica Hideshima e Tiago Maranhão, do SporTV
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Lais Souza mantém esperança de voltar a andar (Foto: Marcos Ribolli) |
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Linda e Corajosa Lais
Lais faz novos exercícios, volta a 'andar' e sonha com tocha olímpica
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Ver video AQUI |
PAULO ROBERTO CONDE
DE SÃO PAULO
DE SÃO PAULO
Vinte e dois meses após o acidente que marcou sua vida, Lais Souza, 26, caminha.
Suspensa por cordas e com as mãos amarradas em barras que ladeiam a esteira, para conferir estabilidade, ela desenvolve ritmo moderado.
Mas andar mesmo ainda é uma quimera. Desde 27 de janeiro de 2014, quando se acidentou em Park City, nos EUA, onde treinava esqui aéreo, ela não sente nada do pescoço para baixo.
Na clínica paulistana onde ela faz reabilitação, o exercício requer ajuda de três pessoas. Uma sustenta o quadril, outra move a perna direita e uma terceira, a esquerda. A Lais cabe manter a fleuma.
Em dois anos, esse é o gesto mais próximo que ela faz do movimento de andar.
Quando a Folha chegou à clínica às 10h30 da terça (27), ela se exercitava havia uma hora e meia. "Já consegui 15 minutos na esteira."
Sobre a cabeça, um xale rosa. "Sinto muito frio. Dizem que tetraplégico tem disso."
A caminhada termina e William Campi, 26, orienta a cuidadosa remoção de Lais, que dali parte para outro aparelho. É ele quem dá o aval para descer a roldana do macacão que a prende à esteira.
Natural de Ribeirão Preto, ele é conterrâneo da ex-ginasta e se tornou, em janeiro, o cuidador dela, a quem acompanha nas viagens entre interior e capital paulista.
Tira cisco do olho, maquia, penteia, dá banho, limpa, consola e serve de divã. "Ficamos muito amigos, tipo irmãos", conta William.
Ele e a mãe de Lais, Odete, se revezam nos cuidados da ex-ginasta. Quando ela precisa viajar para dar palestras, William vai a tiracolo, com funções como virá-la na cama a cada duas horas durante a noite.
CHEESEBURGER
Nos últimos meses, Lais, 51 kg, readquiriu os movimentos nos ombros e sensibilidade em algumas áreas do corpo.
"Já consigo comer sozinha e sinto menos dor. Mas o que gostaria é de mexer os braços. Sinto muito falta", afirma.
Um de seus maiores prazeres recentes foi comer um cheeseburger. Uma mordida. Até há pouco, só recebia alimentação líquida, por sonda.
Poder se alimentar de outro modo lhe agrada, mas também a preocupa. "Como minha garganta ficou menor, se eu aspirar errado pode ser que dê merda. Ou melhor, vai dar merda."
Embora tudo seja extremamente difícil, a realidade se distancia do cenário mais trágico que, por alguns dias, o acidente parecia reservar.
Socorrida às pressas, chegou ao hospital da Universidade de Utah com risco de morte –no voo por helicóptero, aspirou o próprio vômito, causando-lhe pneumonia.
O impacto fraturou seu pescoço, deslocou a terceira vértebra cervical e impediu a respiração. Uma cirurgia de oito horas realinhou sua coluna, mas havia riscos. Uma semana depois, foi transferida para o Jackson Memorial Hospital, em Miami.
No fim de 2014, ela voltou a morar no Brasil, mas viaja com frequência para a Flórida, onde se submete a tratamento com células-tronco. "Não deixo de crer que é possível voltar a andar."
Lais foi parar na clínica Acreditando, em São Paulo, por causa da proprietária, Fernanda Fontenele, 29, que enviou carta à família da ex-ginasta ao saber do acidente.
Fernanda se solidarizou com a situação por também ter sido tetraplégica –hoje, mexe os membros superiores. Lais não paga a clínica, cuja hora custa até R$ 130.
Fernanda e o marido, Felipe Costa, 27, que é paraplégico, gerem o estabelecimento. Vítimas de acidente, conheceram-se em tratamento nos EUA, de onde trouxeram o método que utilizam.
A educadora Roberta Gaspar fica encarregada de sistematizar o programa de Lais.
"Ela só não teve mais evolução porque viaja muito e não é tão assídua", afirma.
Lais contra-argumenta que falta porque precisa trabalhar para pagar as contas. Participa de eventos e faz palestras, mas tem dificuldade para fechar o orçamento no azul.
Recebe pensão vitalícia de R$ 4.600 mensais aprovada neste ano pela presidente Dilma e tem apoiadores pessoais, mas gasta R$ 5.000 por mês com medicamentos e banca o salário de William. "A maior parte da minha recuperação sai do meu bolso", conta Lais, que não se estende nas queixas. Considera-se com sorte por receber tanta atenção.
Uma pausa na entrevista para que ela chame o escudeiro. Quer descruzar a perna. "Dá uns tapas, assim, ó, papapapapapa", diz. É para reativar a circulação.
Retomada a conversa, este repórter pergunta a ela como lida com o fato de ter revelado sua bissexualidade no início deste ano. "É natural para mim. Estamos no século 21. Minha opção, se sou bissexual, se gosto de mulher, de homem, não faz diferença."
Parece mais preocupada com um desejo para o ano que vem, participar dos Jogos do Rio. Pretende levar a tocha olímpica no revezamento que vai percorrer o Brasil.
"Me fizeram convite para levá-la em Ribeirão. É mágico, é o maior evento do mundo", lembra ela, saudosa.
Lais participou de Atenas-2004 e Pequim-2008, e as atuações estão eternizadas em tatuagens na sua pele.
Suspensa por cordas e com as mãos amarradas em barras que ladeiam a esteira, para conferir estabilidade, ela desenvolve ritmo moderado.
Mas andar mesmo ainda é uma quimera. Desde 27 de janeiro de 2014, quando se acidentou em Park City, nos EUA, onde treinava esqui aéreo, ela não sente nada do pescoço para baixo.
Na clínica paulistana onde ela faz reabilitação, o exercício requer ajuda de três pessoas. Uma sustenta o quadril, outra move a perna direita e uma terceira, a esquerda. A Lais cabe manter a fleuma.
Em dois anos, esse é o gesto mais próximo que ela faz do movimento de andar.
Quando a Folha chegou à clínica às 10h30 da terça (27), ela se exercitava havia uma hora e meia. "Já consegui 15 minutos na esteira."
Sobre a cabeça, um xale rosa. "Sinto muito frio. Dizem que tetraplégico tem disso."
A caminhada termina e William Campi, 26, orienta a cuidadosa remoção de Lais, que dali parte para outro aparelho. É ele quem dá o aval para descer a roldana do macacão que a prende à esteira.
Natural de Ribeirão Preto, ele é conterrâneo da ex-ginasta e se tornou, em janeiro, o cuidador dela, a quem acompanha nas viagens entre interior e capital paulista.
Tira cisco do olho, maquia, penteia, dá banho, limpa, consola e serve de divã. "Ficamos muito amigos, tipo irmãos", conta William.
Ele e a mãe de Lais, Odete, se revezam nos cuidados da ex-ginasta. Quando ela precisa viajar para dar palestras, William vai a tiracolo, com funções como virá-la na cama a cada duas horas durante a noite.
Editoria de arte/Folhapress |
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O DRAMA DE LAIS - o acidente da ex-ginasta |
Nos últimos meses, Lais, 51 kg, readquiriu os movimentos nos ombros e sensibilidade em algumas áreas do corpo.
"Já consigo comer sozinha e sinto menos dor. Mas o que gostaria é de mexer os braços. Sinto muito falta", afirma.
Um de seus maiores prazeres recentes foi comer um cheeseburger. Uma mordida. Até há pouco, só recebia alimentação líquida, por sonda.
Poder se alimentar de outro modo lhe agrada, mas também a preocupa. "Como minha garganta ficou menor, se eu aspirar errado pode ser que dê merda. Ou melhor, vai dar merda."
Embora tudo seja extremamente difícil, a realidade se distancia do cenário mais trágico que, por alguns dias, o acidente parecia reservar.
Socorrida às pressas, chegou ao hospital da Universidade de Utah com risco de morte –no voo por helicóptero, aspirou o próprio vômito, causando-lhe pneumonia.
O impacto fraturou seu pescoço, deslocou a terceira vértebra cervical e impediu a respiração. Uma cirurgia de oito horas realinhou sua coluna, mas havia riscos. Uma semana depois, foi transferida para o Jackson Memorial Hospital, em Miami.
No fim de 2014, ela voltou a morar no Brasil, mas viaja com frequência para a Flórida, onde se submete a tratamento com células-tronco. "Não deixo de crer que é possível voltar a andar."
Lais foi parar na clínica Acreditando, em São Paulo, por causa da proprietária, Fernanda Fontenele, 29, que enviou carta à família da ex-ginasta ao saber do acidente.
Fernanda se solidarizou com a situação por também ter sido tetraplégica –hoje, mexe os membros superiores. Lais não paga a clínica, cuja hora custa até R$ 130.
Fernanda e o marido, Felipe Costa, 27, que é paraplégico, gerem o estabelecimento. Vítimas de acidente, conheceram-se em tratamento nos EUA, de onde trouxeram o método que utilizam.
A educadora Roberta Gaspar fica encarregada de sistematizar o programa de Lais.
"Ela só não teve mais evolução porque viaja muito e não é tão assídua", afirma.
Lais contra-argumenta que falta porque precisa trabalhar para pagar as contas. Participa de eventos e faz palestras, mas tem dificuldade para fechar o orçamento no azul.
Recebe pensão vitalícia de R$ 4.600 mensais aprovada neste ano pela presidente Dilma e tem apoiadores pessoais, mas gasta R$ 5.000 por mês com medicamentos e banca o salário de William. "A maior parte da minha recuperação sai do meu bolso", conta Lais, que não se estende nas queixas. Considera-se com sorte por receber tanta atenção.
Uma pausa na entrevista para que ela chame o escudeiro. Quer descruzar a perna. "Dá uns tapas, assim, ó, papapapapapa", diz. É para reativar a circulação.
Retomada a conversa, este repórter pergunta a ela como lida com o fato de ter revelado sua bissexualidade no início deste ano. "É natural para mim. Estamos no século 21. Minha opção, se sou bissexual, se gosto de mulher, de homem, não faz diferença."
Parece mais preocupada com um desejo para o ano que vem, participar dos Jogos do Rio. Pretende levar a tocha olímpica no revezamento que vai percorrer o Brasil.
"Me fizeram convite para levá-la em Ribeirão. É mágico, é o maior evento do mundo", lembra ela, saudosa.
Lais participou de Atenas-2004 e Pequim-2008, e as atuações estão eternizadas em tatuagens na sua pele.
terça-feira, 11 de agosto de 2015
Lais Souza: 'Eu me vejo trabalhando com esporte'
O que posso dizer de minha admiração por Lais Souza que já não tenha dito antes?
E esse sorriso maravilhoso, capaz de inspirar um país inteiro?
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E esse sorriso maravilhoso, capaz de inspirar um país inteiro?
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Lais Souza: 'Eu me vejo trabalhando com esporte.
Competindo ou comentando'
A
atleta ficou tetraplégica após acidente em treino com esqui. Mas exibe bom
humor e pensa em se tornar ou paratleta ou comentarista de ginástica ou esqui
11/08/2015 às 18:14 - Atualizado em 11/08/2015
às 19:12
Lais Souza: 'Tenho momentos ruins,
mas preciso de energia para melhorar,
nada é fácil' (Rodrigo Antonio/VEJA)
A
ex-ginasta e ex-esquiadora Lais Souza participou nesta terça-feira dos debates
olímpicos promovidos pela Abril no Rio, projeto da editora Abril para os Jogos
Olímpicos de 2016. Alegre e espontânea, com tiradas cheias de humor, Lais deu
detalhes do acidente que a deixou tetraplégica, há um ano e sete meses, durante
um treino de esqui nos Estados Unidos. Ela falou sobre as dificuldades de viver
em uma cadeira de rodas, da importância do auxílio de seu cuidador e dos
familiares, dos avanços em sua recuperação, e do seu futuro, que deve ter o
esporte como centro, seja competindo ou como comentarista.
"Não
tenho muitas opções, mas tenho pensado bastante em ser paratleta, conheci há
pouco tempo a bocha adaptada. E também penso em trabalhar como comentarista de
ginástica ou esqui, ou os dois né? Por que não?", disse Laís, em São
Paulo.
Ela
não se constrange em nenhum momento em falar do acidente. "Aconteceu
quando treinava velocidade e freada na neve, a uns 70 km/h, perdi o timing, não
sei extamente o que aconteceu...", contou Lais sobre o momento em que se
chocou contra uma árvore, em Salt Lake City, onde treinava para os Jogos de
Inverno de Sochi, em 27 de abril de 2014. Aos 26 anos, Lais contou que ter
sobrevivido ao acidente foi "a vitória mais importante de sua carreira"
e disse estar respondendo bem aos tratamentos. "Depois de aplicação de
células-tronco nos Estados Unidos, tenho mais sensibilidade no corpo."
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Lais
não recuperou os movimentos dos membros inferiores e superiores, mas não perdeu
as esperanças. "Acredito que vou me recuperar, nem que seja apenas num
dedo. Acredito nisso", contou, exibindo a tatuagem em seu braço direito,
que representa um cadeirante voltando a andar. Disse ser muito agitada,
"espoleta", e revelou um de seus hobbies no momento - que ainda a
ajuda no tratamento. "Para fortalecer o diafragma e respirar sozinha eu
cantava muito na UTI."
Lais: bom humor e muita esperança(Rodrigo Antonio/VEJA)
Acompanhada
de seu curador, Willian Campi, a jovem natural de Ribeirão Preto agradeceu ao
apoio dos fãs e das pessoas mais próximas. "Agradeço por tanta gente me
ajudar ainda a ser eu mesma novamente. Como não me movimento, minha equipe tem
umas dez pessoas. Hoje se eu quiser tomar um banho com calma preciso de três
horas, é tudo difícil. Tenho hoje nova relação com minha família. Estamos nos
conhecendo novamente."
Lais
disputou as Olimpíadas de Atenas-2004, Pequim-2008 e Londres-2012 como ginasta.
Ela disse aguardar um convite da organização dos Jogos do Rio para acompanhar
de perto as partidas. "Além da ginástica, sou fã de basquete, vôlei,
handebol. Fui a várias Olimpíadas, mas não tinha tempo de ver os jogos,
gostaria de aproveitar isso agora."
(Da redação)
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