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segunda-feira, 14 de março de 2016

"A esperança é mesmo essa coisa linda que brilha mais no escuro", por Valentina de Botas



Faltava ainda uma hora para o futuro, mas eu, familiares, amigos e mais um rio de asfalto e gente entornando pelas ladeiras já estávamos na Paulista. A avenida mais famosa da minha cidade natal onde não nasci fica logo ali ao lado de Boa Viagem no Recife do meu Pernambuco, pertinho de Copacabana, quase grudada à Esplanada dos Ministérios, nas imediações da Ponta Negra em Manaus, contígua à Praça da Liberdade de Belo Horizonte, vizinha da Praça Alencastro em Cuiabá, também não fica longe de Nova York, Londres, Lisboa, Vancouver, Paragominas, Teresina e das demais cidades que unificaram poderosamente a voz do Brasil farto e desperto.
Nos últimos meses, o arsenal de sobrevivência do governo incluiu a adesão de uma coisinha chamada Picciani; a denúncia de Mirian Dutra de que FHC sustentou o filho de ambos com recursos próprios – um escândalo na república dos pixulecos –; e as bravatas repugnantes do jeca. Nada funcionou, o que faltou? Os brasileiros, a quem o lulopetismo ignora e infelicita.
Pixuleco e Dilmalandra
O governo que já não há, entontecido de podridão e arrogância, não entende: brasileiros, como assim? Desse arsenal, o artefato mais poderoso foi a rasteira institucional do STF no impeachment em dezembro. A súcia passou o Natal comemorando o assassinato do impeachment, pois, renascido, ele será a única presença viva no almoço de Páscoa do governo.
A oposição omissa anunciava semanalmente que na semana que que vem se reuniria para decidir ou decidiria que se reunirá; pois o futuro, este domingo avisa, não é na semana que vem, mas agora. Contudo, discordo da hostilização a Aécio e Alckmin na Paulista já que, como políticos, representam, se não o Brasil indignado, a via institucional para encaminharmos nossos anseios, fato característico da civilização.
"Jararaleco", invenção do bom povo alagoano para as manifestações
Afinal, a destituição legal de Dilma Rousseff passa forçosamente pelos políticos, já que repudiamos o golpismo. Como o lulopetismo abole tal arranjo civilizatório, ele esvaziou de sentido o exercício da política brasileira para vicejar à sombra dos primitivismos dela. O trabalho mafioso resultou tão eficaz que não foi um político ou um partido que exterminou o poder do lulopetismo, e sim a Justiça, na figura admirada de Sérgio Moro. Mas a nação que se reergue só fará a necessária transição, da treva lulopetista para o futuro, com os políticos e não é hora de acertar contas com o passado, deixemos que o passado passe.
Depois, serão depurados pelo nosso voto. Quanto ao anúncio exagerado da morte do impeachment, muitos indignados acharam que não havia mais esperança para a esperança, pois hoje, na Paulista e pelo resto do Brasil espalhado pelo mundo, os brasileiros constataram que a esperança é mesmo essa coisa linda que brilha mais no escuro e cantávamos emocionados porque de tudo se faz canção. Isso me fez lembrar a lição de Goethe, segundo a qual é nos sentimentos que encontramos a liberdade. Os farsantes recrudescerão o combate ao futuro, especialmente porque sabem que tudo ainda vai piorar para eles, para o país em ruína também. Mas enquanto à súcia só restam as ruínas, para o Brasil é chegado o tempo de a esperança florescer.

domingo, 17 de janeiro de 2016

"Os black blocs têm passe livre no vandalismo diversionista", por Valentina de Botas


Cresci num bairro simples, de casario tristonho. Era frequente faltar energia elétrica e, quando a luz voltava, toda a meninada gritava em festa. Não gritei, mas a sensação foi a mesma quando li que Mauricio Macri liberou todos os documentos oficiais sobre o procurador Alberto Nisman suicidado pela cumplicidade com o Irã a que Cristina Kirchner rebaixara a Argentina.
A luz volta ao país vizinho e meu coração bobo que zabumba esquisito pergunta como quem diz “não tem jeito”: por que não aqui, se até a oposição venezuelana reagiu ao leviatã vagabundo ainda mais raivoso do que o lulopetismo depravado?
No Brasil, enquanto a figura do jeca salta no esplendor da sua inteireza nos depoimentos da Lava Jato sobre o assalto à nação como a pedra de que Michelangelo dizia libertar Davi, Moisés e pietàs ocultos nela, os black blocs têm passe livre no vandalismo diversionista contra o aumento da passagem de ônibus e metrô em São Paulo e são incensados no altar inviolável que certo jornalismo, especialmente a Folha, consagra cotidianamente à estupidez das esquerdas e afins.
A coincidência é método: da confusão que intimida; da anarquia que depreda bens materiais públicos e privados e, sobretudo, bens imateriais caros ao Estado de Direito democrático; do esforço intimidador para que falácias perdurem confundindo tudo. Entre outras coisas, democracias e ditaduras se diferenciam pela interlocução entre os contrários disponível naquelas e inviabilizada nestas como meio estabelecido pela libido totalitária.
A deformação a que o lulopetismo e agregados ideológicos querem levar nossa democracia ainda não eliminou a interlocução que resta disponível aos seduzidos por essa luz civilizatória, principalmente no governo de Geraldo Alckmin cujos defeitos não incluem a intolerância. Mas, o MPL e respectivos mascarados, que só provocam a PM paulista porque a sabem diferente dos camisas pretas que Macri aposenta, anunciaram que não conversarão com o governo paulista eleito pela população da qual o movimento cassa o direito de ir e vir.














Os vândalos depredadores de ônibus e estações do metrô para o bem do povo que desconhece querem passagem grátis, como se a gratuidade não saísse ainda mais cara para o povo cuja ruína material e imaterial está garantida não pelos 30 centavos de aumento, mas pela permanência de Dilma Rousseff como presidente e pelo caldo tóxico em que fermentam movimentos assim. A respeito, indico textos recentes de Reinaldo Azevedo, indo às últimas consequências da lucidez audaciosa.
Quem se deixou levar pelo canto de sereia xarope segundo o qual a VEJA (site e revista) se rendeu ao PT, precisa reconhecer que ela continua fazendo o de sempre: o combate ao primitivismo do momento. Por exemplo, com a mesma lucidez de Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, sempre no conluio delicioso entre humor e charme, nos ajuda a manter a cabeça ligada ao essencial, sem que nos dispersemos por diferenças marginais, ambos lembrando a um coração bobo-bola-de-balão que não se iluda: a luz sempre pode voltar e, meninos outra vez, gritaremos em festa.

Valentina de Botas

segunda-feira, 27 de julho de 2015

"A nação espera", por Valentina de Botas

Meus caros,
na semana passada surgiram notícias de que Lula pretendia solicitar a FHC um encontro para tratar de alternativas ao impeachment de Dilma Rousseff. O ex-presidente tucano foi rápido em declinar o pedido, e o fez através desta nota: “O momento não é para a busca de aproximações com o governo, mas sim com o povo. Qualquer conversa não pública com o governo pareceria conchavo na tentativa de salvar o que não deve ser salvo”. Segue o artigo de Valentina de Botas publicado em 26/07/2015, sobre o assunto. É irretocável. Traduz com absoluta perfeição o sentimento de nojo que os brasileiro têm em relação a essa quadrilha sórdida que se aboletou no Planalto.

Bernardo
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A nação espera que a oposição oficial assimile a lição de FHC

Valentina de Botas

A FHC só restava ser ele mesmo, como ao jeca só restou ser o lula que é. Lula se negou a apoiar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral; deputado constituinte, comandou o PT no voto contra a Constituição “burguesa” de 1988, o registro – prolixo e imperfeito, mas legítima expressão da sociedade brasileira quanto ao que ela queria ser quando crescesse – do renascimento de uma nação depois de parto tão difícil, da ressuscitação da democracia que ainda não havia passado da primeira infância em 100 anos de república; desdenhou do apoio de Covas contra Collor.

Vinte anos depois, fez um mea culpa quanto à Constituição reconhecendo que ela ensejou a eleição dele: eis aí, ele, outra vez ele, outra vez os desejos dele com as perversões intrínsecas. É patológico. Cego para os interesses do país e por índole, pela deformação do peleguismo do sindicalismo ou tudo somado, prefere acertos sorrateiros, fora dos espaços e limites institucionais.


Jamais reconhece interlocutores onde não vê comparsas porque só enxerga o projeto de si mesmo. O protagonismo máximo que os interesses do país alcançam nesta fábula primitiva é como plataforma do projeto que significou o revés do parto da nação moderna em que já poderíamos ter nos transformado se as reformas da era FHC tivessem sido aperfeiçoadas e outras iniciadas. Mas aí veio o lulopetismo arcaizante fazendo nosso futuro retroceder.

Como o Brasil real é mais intrigante do que qualquer Macondo fictícia, os portais críticos que logo cruzaremos talvez sejam uma oportunidade de restabelecermos o futuro, fazermos da política nacional menos policial e estupidamente ideológica, enfim, levar para tomar sol nosso sonho de um país civilizado. Esse horizonte fica mais próximo com a resposta de FHC ao assédio cafajeste da súcia que buscava uma sobrevida à custa do prolongamento da nossa agonia.


Quando olha para FHC, o jeca não vê uma reserva moral da nação no interlocutor que nunca reconheceu e cuja trajetória atacou de todas as formas no inconformismo secretamente nítido de jamais poder vivê-la, vislumbra apenas a chance última de exercer o oportunismo de salvação não do país, mas outra vez do mesmo projeto canalha, do que não tem conserto nem nunca terá. Claro que FHC não está se vingando das infâmias que apequenaram só o homenzinho bisonho que nunca foi grande; ele simplesmente respondeu ao jeca com o que este desconhece: a estatura moral de uma biografia compatível com um país decente do qual a de Lula é antagonista.

Resistindo com naturalidade de estadista ao assédio desesperado de um caudilho ridículo que adivinha o camburão chegando e já escuta a sétima trombeta que ribombará em 16 de agosto, FHC foi leal não somente à própria biografia, mas ao país que é inseparável dela. A nação exaurida que quer se reerguer, ter a si mesma como assunto e projeto, espera que a lição de lealdade e coerência dele seja assimilada pela oposição oficial. Não merecemos menos do que isso.
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