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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

"Luloafetivos não sabem se voto útil é para derrotar Bolsonaro ou Ciro", por Madeleine Lacsko



Madeleine Lacsko
Colunista do UOL

22/09/2022 09h02

Tenho muita fé de que duas coisas salvarão o Brasil: matemática e antidoping. Ambas são mais que necessárias nesses últimos dez dias de campanha, com redes sociais pegando fogo e fígados falando muito mais alto que cérebros.

Se esculhambação fosse esporte olímpico, acho que nós nem poderíamos competir. O país seria hors concours. Mal começou a campanha luloafetiva pelo "voto útil", já desceu a ladeira completamente.

É normal das democracias a tentativa de convencer adultos a tratar eleições presidenciais como se fosse uma corrida do Jockey Clube. Em vez de escolher um futuro, você aposta no cavalo que ganha. E isso funciona porque, enquanto houver cavalo, São Jorge não anda a pé.

Jair Bolsonaro não faz um governo, faz um acidente de trem. Natural que o oponente mais cotado nas pesquisas, Lula, pregue a utilidade de acabar com a agonia de uma vez só. São democráticos e legítimos os argumentos no sentido de liquidar a fatura no primeiro turno.

A coisa começa a esculhambar na absoluta falta de matemática e lógica básica da artilharia pesada contra Ciro Gomes. Até outro dia, ele e sua militância eram chamados de insignificantes e turma dos 7%.

É preciso decidir: ou são insignificantes ou a existência deles ameaça o futuro do Brasil. Não tem como ser as duas coisas ao mesmo tempo.

A outra coisa é a fake news surgida e sedimentada no imaginário nacional devido à falência absoluta do ensino de matemática. Se Ciro não tivesse "ido a Paris", Haddad teria vencido Bolsonaro.

Primeiro que Ciro estava no Brasil e votou em Haddad. Depois que, se ele fosse ao cartório e doasse ao petista todos os votos dele, Bolsonaro ganharia do mesmo jeito.

A campanha petista em 2018 foi sectária e incompetente. Nos dois quesitos, Jair Bolsonaro ganha de lavada. E foi isso o que ocorreu.

Como diria Homer Simpson "a culpa é minha, coloco em quem eu quiser". É o que fazem sistematicamente o PT e sua gloriosa trupe de apoiadores progressistes gourmet.

Passam anos xingando de fascista, tesourando profissionalmente e difamando todo mundo que não se ajoelha diante de Lula. Depois exigem apoio incondicional para continuar com o mesmo comportamento. Quando não dá certo, arrumam um culpado.

A moda da semana entre os Che Guevara de apartamento é dizer que a candidatura de Ciro não pode existir em nome da democracia. Seria cômico se não fosse trágico.

O eurocentrismo da nossa elite urbana impede que a manobra de construção de um "Arquitecto da Paz" fique clara. Dançam à beira do precipício ao som da perigosa ideia de um único fiador da paz nacional.

Acompanhassem as ideias de algum pensador além dos colonialistas, veriam que é uma forma de destruir democracias e liberdades individuais. Você ergue uma força que seria a pacificadora ou estabilizadora às custas do esmagamento dos direitos e até da dignidade de todas as demais.

José Eduardo dos Santos, falecido ditador de Angola e o mais longevo do continente africano, foi conhecido como o "Arquitecto da Paz". Esmagando qualquer um que o questionasse, acabou com a guerra civil e os conflitos que impediam o país de viver um mínimo de normalidade.

É uma espécie de "paz" diferente da que pregava, por exemplo, Martin Luther King. Para ele, a paz não é a ausência de conflitos, mas a presença de justiça.

Não é esse tipo de paz social pela qual lutam os luloafetivos. Miram mais em Ciro que em Bolsonaro, apelam para o pânico moral diante de eleitores que não sejam de Lula ou Bolsonaro, pregam eliminação de representatividade em nome da democracia, são lenientes com as fake news e a virulência do janonismo.

O desengajamento moral dos luloafetivos já está feito. Consideram que a existência de Lula basta para se opor ao chiqueiro moral do bolsonarismo. Por isso, agem da mesma forma que os bolsonaristas agiam em 2018, achando que o país colherá frutos diferentes. Oremos.

sábado, 6 de março de 2021

"Na casa da tua mãe", por Ascânio Seleme

 


A frase foi usada por Bolsonaro, em agenda em Uberlândia (MG), para falar sobre "idiota que pede compra de vacina"

06/03/2021 - 04:30

Jair, onde você absorveu tanta arrogância? Onde você iniciou o processo involutivo que o transformou no indivíduo tosco que deixa o Brasil atônito? Foi na casa da tua mãe.

Onde você emburreceu tanto e virou esse indivíduo desconectado do mundo civilizado? Onde você encontrou tanta gente obtusa como você para reunir ao seu redor? Foi na casa da tua mãe.

Onde você teve seu caráter desviado de forma tão radical que alcança até mesmo todos os zeros que você criou? Foi na casa da tua mãe.

Capitão, onde você construiu toda a perversidade que escorre em suas veias e baba da sua boca? Onde você foi encontrar tanto ódio que se percebe claramente no seu olhar e na sua risada sádica? Foi na casa da tua mãe.

Onde foi concebido este espírito antidemocrático que o domina de maneira irrevogável e que ameaça um país inteiro? Foi na casa da tua mãe.

Onde o seu coração de pedra foi lapidado, ou dilapidado? Onde foi que o endureceram de tal forma que a empatia não consegue penetrar? Foi na casa da tua mãe.

Diga, onde talharam e envernizaram esta sua lustrosa cara de pau? Onde você aprendeu a mentir tanto, Jair? Foi na casa da tua mãe.

Onde mesmo foi que te ensinaram que chorar por seus mortos é frescura e mimimi?

Onde foi que você descobriu que os corajosos enfrentam o vírus e saem às ruas? Na casa da tua mãe.

Onde você aprendeu a roubar, a desviar dinheiro público para comer gente? Teria sido no mesmo lugar em que você ensinou seus filhos a fazer rachadinhas? Foi na casa da tua mãe.

Jair, onde você se tornou homofóbico e misógino? Onde começou a entender que mulher é filha da fraqueza e gay deve levar porrada? Foi na casa da tua mãe.

Conte onde foi que você descobriu que o Brasil é um país de maricas? Foi na casa da tua mãe.

E onde você percebeu que há excessos de direitos no Brasil? Foi na casa da tua mãe.

Capitão, onde você se afastou da luz e mergulhou nas trevas? Onde você aprendeu que torturar e matar fazem parte da vida? Foi na casa da tua mãe.

Onde te ensinaram que a ditadura errou por torturar e não matar? Aposto que foi no mesmo lugar onde você ouviu que os porões deveriam ter fuzilado 30 mil corruptos e erraram por não matar Fernando Henrique Cardoso. Foi na casa da tua mãe.

Diga, onde você entendeu que Pinochet, o mais sanguinário ditador latino americano, devia ter matado mais gente? Foi no mesmo lugar em que você passou a idolatrar o torturador Brilhante Ustra? Foi na casa da tua mãe.

Onde foi, Jair, que você descobriu que fazer cocô dia sim, dia não, melhora o meio ambiente? Que comer menos resolve o problema das queimadas? Foi na casa da tua mãe.

Explique, onde você percebeu que trabalho infantil, de meninos e meninas com menos de dez anos de idade, não prejudica em nada as crianças? Foi na casa da tua mãe.

Conte, onde foi mesmo que te disseram que é uma grande mentira falar que tem gente passando fome no Brasil? Que isso só acontece em outros países? Foi na casa da tua mãe.

Onde te ensinaram que é correto beneficiar filhos, como os zeros que você tem, quando se exerce cargo público, capitão? Foi na casa da tua mãe.

Finalmente, onde foi mesmo que você virou este monstro que assombra o país e espanta o mundo? Foi na casa da tua mãe.

https://oglobo.globo.com/brasil/na-casa-da-tua-mae-24912396

sábado, 13 de abril de 2019

"Ativista liberal critica mistura de política e religião por Jair Bolsonaro"


A ativista liberal guatemalteca Gloria Álvarez - Karime Xavier/Folhapress

Escritora guatemalteca Gloria Álvarez propõe capitalizar a Previdência, cortar gastos e legalizar drogas e aborto

13.abr.2019 às 2h00
Fábio Zanini
São Paulo

A escritora e ativista liberal guatemalteca Gloria Álvarez queria ser candidata à Presidência de seu país na eleição em junho, mas esbarrou na Constituição: ela tem 34 anos, e a idade mínima para o cargo é 40 anos.
Lançou então uma candidatura “alternativa” nas redes sociais, em que propõe imposto único, redução do número de ministérios de 14 para 4, sistema de vouchers para educação e a capitalização da Previdência. Ela também defende a legalização das drogas, do aborto, da prostituição e da venda de órgãos.
Filha de pai cubano exilado após a revolução comunista, Álvarez ficou conhecida em 2015, quando seu vídeo de uma palestra na Espanha atacando o populismo latino-americano se espalhou pela internet.
Veio ao Brasil para o lançamento de seu livro “O Embuste Populista” (editora LVM, 320 páginas, R$ 59,90) e eventos com grupos liberais.
Em conversa com a Folha, distribuiu petardos contra a direita, a esquerda, as feministas e a mistura de política e religião no governo do presidente Jair Bolsonaro
Candidatura 
 É uma candidatura libertária e inconstitucional [risos]. Proponho descentralização, “flat tax” [imposto único], redução de 14 para 4 ministérios, destinação de 50% do orçamento para segurança e justiça, vouchers para a educação e pensões individuais. 
E coloco dez pontos para que a população escolha cinco: legalização da maconha, da cocaína, do aborto e da prostituição, casamento de pessoas do mesmo sexo, adoção homoparental, permissão da eutanásia e da venda de órgãos, eliminação de voto em listas partidárias e fim do controle alfandegário.
Estado Mínimo
A população mais pobre da Guatemala está acostumada a que o Estado não exista. Se você vai a um hospital público, pode morrer, então recorre a organizações de caridade privadas. Assim, é mais fácil aceitarem o Estado mínimo do que é para argentinos ou espanhóis, por exemplo.
Direita
Ao governar, nos anos 1990, a direita não favoreceu o livre mercado. Houve privatizações e abertura, mas foram beneficiados os que estavam mais próximos dos presidentes. A direita é uma coisa em teoria e outra na prática. Na prática, sacrificaram a verdadeira liberdade econômica. Quando isso acontece, as pessoas se voltam ao socialismo. [Hugo] Chávez, [Evo] Morales surgem em reação a essa elite oligárquica protegida do livre mercado.
Bolsonaro
Não gosto de quem mescla religião com política. Para os políticos latino-americanos, nunca falta Deus no discurso. Espero que Bolsonaro não tenha medo de ser liberal. Muitas vezes candidatos são eleitos com discurso de baixar impostos, liberar o mercado e, no poder, se preocupam que os eleitores vão se incomodar. Concretamente, o que o governo já fez? O que já reduziu? 
Claro que os presidentes não são o mago Merlin, com uma varinha mágica. Mas no caso da Previdência, por exemplo, o que mudaria de verdade é a capitalização. Se conseguirem, ótimo. Senão, está colocando um curativozinho num câncer terminal. Eu tinha esperança de que [Maurício] Macri [presidente da Argentina] fizesse um contraponto à  esquerda na América Latina, mas isso não ocorreu, e esse posto está vago. Talvez Bolsonaro tenha aí um nicho de oportunidade.
O que se deve fazer é estrangular a ditadura diplomática e economicamente. Os países deveriam expulsar as embaixadas venezuelanas. E baixar decretos para que os venezuelanos possam trabalhar, num processo expresso de migração. E também deixar de comprar petróleo, porque uma ditadura aguenta enquanto tem dinheiro.
Populismo 
É como uma árvore cheia de maçãs. Cada populista arma seu combo, com suas próprias maçãs. Na árvore do populismo, há várias coisas que são chave. Uma é dividir a sociedade com ódio, seja entre ricos e pobres, ou militares e comunistas; outra é prometer coisas que não obedecem a nenhuma lógica econômica, como crescer 15% ao ano.
A maçã econômica é usada mais pelos populistas de esquerda; a direita usa a maçã do nacionalismo.
Feminismo
Eu me considero uma individualista. O feminismo é marxista. A ironia é que feministas dizem que não gostam do patriarcado, mas são súditas do pior pai, o papai governo.
A esquerda se reinventou, não fala mais de expropriações ou controle de preços, se disfarçou de ecologistas, defensores de direitos de gays, feministas. Quando sou insultada, acham normal, porque sou mulher, mas não sou mulher marxista. E apenas as mulheres marxistas merecem respeito.
RAIO-X
Gloria Álvarez, 34 - Autora do livro “O Embuste Populista”, é ligada ao centro de estudos Caminos de la Libertad (México). Graduada em ciência política e relações internacionais pela Universidade Francisco Marroquín (Guatemala), tem mestrado em desenvolvimento internacional pela Universidade Georgetown.



quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

“Bolsonaro admira um assassino e ladrão", por Clóvis Rossi

Clóvis Rossi
Ao chamar o general paraguaio Alfredo Stroessner de “estadista", Jair Bolsonaro desqualifica a si próprio como presidente de um regime democrático.
Stroessner nunca foi um estadista e, sim, um nefando déspota assassino.
Bolsonaro nem precisaria recorrer à ampla bibliografia que conta a história da ditadura do período 1954-1989. Bastaria conhecer, por exemplo, decisão de 2003 da justiça paraguaia que determinou o embargo dos bens de Stroessner (então exilado no Brasil), em uma causa por violação aos direitos humanos.
Foi responsabilizado pela morte sob tortura, em 1974, de Celestina Pérez de Almeida, esposa do educador Martín Almada.
Mas esse fato, por si só, não comoveria Bolsonaro, cujo ídolo chama-se Carlos Alberto Brilhante Ustra, o primeiro militar condenado pela justiça pela prática de tortura. Quem admira um torturador admira todos eles.
Mas Stroessner não era apenas um ditador. Era também tão corrupto que o juiz Arnaldo Fleitas estimou, certa vez, a sua fortuna de Stroessner em US$ 500 milhões (equivalentes hoje a R$ 1,8 bilhão), distribuídos em contas secretas na Suíça ou abertas em nomes de terceiros e da empresa Sur Inmobiliaria, administrada por alguns de seus netos.
O ditador Alfredo Stroessner, em desfile em 1963 em Assunção - Reuters
 
Se uma pessoa assim é um estadista, para Bolsonaro, então Sérgio Cabral também o é, assim como Paulo Preto, certo?
Se se desse ao trabalho de ler alguma coisa além dos tuítes de seus filhos, Bolsonaro ficaria sabendo, por exemplo, que a ditadura de Stroessner ficou marcada, entre outros pontos, pela violação sistemática aos direitos humanos (práticas de torturas físicas e psicológicas, assassinatos, exílios forçados, desaparecimentos, violações sexuais, entre outros); por gordo esquema de corrupção e pela censura aos órgãos de imprensa (talvez a admiração de Bolsonaro se explique por aí).
Quem quiser se informar sobre o que foi de fato o regime do “estadista” de Bolsonaro pode consultar o chamado “Archivo del Terror", uma penca de documentos encontrados em 1992 em uma delegacia de polícia de Lambaré, a 30 quilômetros de Assunção. Os documentos estão armazenados no Palácio de Justiça e comprovam não só as práticas bárbaras da ditadura como o trabalho conjunto com outros regimes autoritários do Cone Sul, Brasil inclusive.
É claro que, ao rotular um déspota como estadista, Bolsonaro não vai conseguir reescrever a história. O perigo é que esse tipo de avaliação idiotizada destapa uma caixa de Pandora da qual tendem a emergir boçalidades como, para ficar na mais recente, a proposta de cantar o hino e filmar as crianças fazendo-o.
Clóvis Rossi
Repórter especial, membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

domingo, 4 de novembro de 2018

"Os Desesperados", editorial do Estadão


Os petistas prometem "construir uma frente de resistência pelas liberdades democráticas", como se o País estivesse às portas da ditadura

O Estado de S.Paulo
04 Novembro 2018 | 04h00

Uma oposição “propositiva” ao governo de Jair Bolsonaro é o que prometem alguns partidos de esquerda que já começam a se organizar com vista à próxima legislatura. Não por acaso, esse bloco excluirá o PT. Segundo explicou o deputado André Figueiredo (CE), líder do PDT na Câmara, o partido do ex-presidente e hoje presidiário Lula da Silva “tem um modus operandi próprio dele”, enquanto o bloco formado por PDT, PSB e PCdoB “tem um outro modelo de oposição”, isto é, “um modelo construtivo para o País”.
Ainda será preciso esperar que esses partidos passem das belas palavras aos atos concretos, mas é significativo que agremiações que tão fortemente antagonizaram com Bolsonaro durante a campanha agora se digam dispostas a fazer oposição responsável ao próximo governo.
Também é significativo que o grupo tenha dispensado o PT e sua linha auxiliar, o PSOL, das conversas para a formação de um bloco de oposição. O pedetista André Figueiredo explicou que não é mais possível aceitar “o hegemonismo que o PT quer impor aos demais partidos” e que nenhuma dessas legendas de esquerda aceita ser “um puxadinho do PT”.
O isolamento do PT no campo da oposição é a consequência natural do comportamento autoritário do partido, incapaz de uma convivência democrática mesmo com aqueles com os quais nutre alguma afinidade ideológica. Para os petistas, nada que não tenha sido ditado pelo PT tem legitimidade.
À medida que foi sendo desossado pelas urnas e pela Justiça, o partido de Lula da Silva recrudesceu seu autoritarismo, expondo cada vez mais seu desespero. Depois de passar a campanha inteira a denunciar como “golpe” o impeachment constitucional de Dilma Rousseff, a exigir a libertação de Lula, como se este não tivesse que cumprir pena pelos crimes que cometeu, e a exigir apoio a seu candidato como única forma de “salvar a democracia” ante o perigo do “fascismo” supostamente representado pela candidatura de Bolsonaro, o PT agora trata de dizer que a vitória do oponente resultou de um processo “eivado de vícios e fraudes”, conforme declarou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.
Os petistas, assim, fazem exatamente aquilo que deles se esperava – isto é, em vez de aceitar o resultado das urnas e se organizar para fazer oposição decente e leal ao futuro governo, preferem deflagrar campanha para deslegitimar a vitória de Bolsonaro. Do alto de sua prepotência, os petistas dizem que Bolsonaro foi eleito depois de “uma campanha de ódio e de mentiras, que nos últimos anos manipulou o desespero e a insegurança da população”, como diz uma resolução da Executiva Nacional do PT aprovada logo após a eleição. Ou seja, para o PT, se não houvesse “manipulação” e “mentiras” o candidato petista seria eleito com folga.
Um partido que em documento oficial chama um presidente democraticamente eleito de “aventureiro fascista”, como faz o PT, não tem a menor intenção de fazer oposição. Para esta atitude verdadeiramente golpista já chamávamos a atenção no editorial Desespero, de 19 de outubro. Sua intenção é inviabilizar o governo e, por tabela, impedir que o País saia da crise que os próprios petistas criaram em sua desastrosa passagem pela Presidência. Os desesperados petistas prometem “construir uma frente de resistência pelas liberdades democráticas”, como se o País estivesse às portas da ditadura, e essa “resistência” se estende a tudo o que interessa à maioria da população, a começar pela reforma da Previdência.
Enquanto isso, os grupelhos a serviço do lulopetismo mostram do que é feita a “democracia” que defendem: uma manifestação convocada pelo notório Guilherme Boulos para exigir que Bolsonaro “respeite a oposição” e “as liberdades democráticas” acabou em tumulto e depredação na terça-feira passada em São Paulo.
Não surpreende, assim, que a tal “frente de oposição” que o PT pretende liderar não tenha apoio. O grave momento do País exige um esforço de todos para a superação da crise, o que implica a existência de uma oposição dura, porém prudente. Os sabotadores – aqueles que não se importam com o interesse público – devem ser isolados, para que fique patente de vez sua profunda irresponsabilidade.
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,os-desesperados,70002583377

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

"Bolsonaro, o 'mito', derrotou a 'ideia' Lula", por José Nêumanne

Os quase 60 milhões de eleitores que votaram no capitão só queriam se livrar do ladrão
JOSÉ NÊUMANNE, O Estado de S.Paulo
31 Outubro 2018 | 03h00

Nêumanne
Desde 2013 que o demos (povo, em grego) bate à porta da kratia (governo), tentando fazer valer o preceito constitucional segundo o qual “todo poder emana do povo” (artigo 1.º, parágrafo único), mas só dá com madeira na cara. Então, em manifestações gigantescas na rua, a classe média exigiu ser ouvida e o poste de Lula, de plantão no palácio, fez de conta que a atendia com falsos “pactos” com que ganhou tempo. No ano seguinte, na eleição, ao custo de R$ 800 milhões (apud Palocci), grande parte dessa dinheirama em propinas, ela recorreu a um marketing rasteiro para manter a força.
Na dicotomia da época, o PSDB, que tivera dois mandatos, viu o PT chegar ao quarto, mas numa eleição que foi apertada, em que o derrotado obtivera 50 milhões de votos. Seu líder, então incontestado, Aécio Neves, não repetiu o vexame dos correligionários derrotados antes – Serra, Alckmin e novamente Serra – e voltou ao Senado como alternativa confiável aos desgovernos petistas. Mas jogou-a literalmente no lixo, dedicando-se à vadiagem no cumprimento do que lhe restava do mandato. O neto do fundador da Nova República, Tancredo Neves, deixou de ser a esperança de opção viável aos desmandos do PT de Lula e passou a figurar na galeria do opróbrio ao ser pilhado numa delação premiada de corruptores, acusado de se vender para fazer o papel de oposição de fancaria. O impeachment interrompeu a desatinada gestão de Dilma, substituída pelo vice escolhido pelo demiurgo de Garanhuns, Temer, do MDB, que assumiu e impediu o salto no abismo, ficando, porém, atolado na própria lama.
Foi aí que o demos resolveu exercer a kratia e, donas do poder, as organizações partidárias apelaram para a força que tinham. Garantidas pelo veto à candidatura avulsa, substituídas as propinas privadas pelo suado dinheiro público contado em bilhões do fundo eleitoral, no controle do horário político obrigatório e impunes por mercê do Judiciário de compadritos, elas obstruíram o acesso do povo ao palácio.
Em janeiro, de volta pra casa outra vez, o cidadão sem mandato sonhou com o “não reeleja ninguém” para entrar nos aposentos de rei pelas urnas. Chefões partidários embolsaram bilhões, apostaram no velho voto de cabresto do neocoronelismo e pactuaram pela impunidade geral para se blindarem. Mas, ocupados em só enxergar seus umbigos, deixaram que o PSL, partido de um deputado só, registrasse a candidatura do capitão Jair Bolsonaro para conduzir a massa contra a autossuficiência de Lula, ladrão conforme processo julgado em segunda instância com pena de 12 anos e 1 mês a cumprir. O oficial, esfaqueado e expulso da campanha, teve 10 milhões de votos a mais do que o preboste do preso.
Na cela “de estado-maior” da Polícia Federal em Curitiba, limitado à visão da própria cara hirsuta, este exerceu o culto à personalidade com requintes sadomasoquistas e desprezo pela sorte e dignidade de seus devotos fiéis. Desafiou a Lei da Ficha Limpa, iniciativa popular que ele sancionara, transformou um ex-prefeito da maior cidade do País em capacho, porta-voz, pau-mandado, preposto, poste e, por fim, portador da própria identidade, codinome, como Estela foi de Dilma na guerra suja contra a ditadura. Essa empáfia escravizou a esquerda Rouanet ao absurdo de insultar 57 milhões, 796 mil e 986 brasileiros que haviam decidido livrar-se dele de nazistas, súditos do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, que não se perca pelo nome, da Alemanha de Weimar: a ignorância apregoada pela arrogância.
Com R$ 1,2 milhão, 800 vezes menos do que Palocci disse que Dilma gastara há quatro anos, oito segundos da exposição obrigatória contra 6 minutos e 3 segundos de Alckmin na TV, carregando as fezes na bolsa de colostomia e se ausentando dos debates, Bolsonaro fez da megalomania de Lula sua força, em redes sociais em que falou o que o povo exigia ouvir.
A apoteose triunfal do “mito” que derrotou a “ideia” produziu efeitos colaterais. Inspirou a renovação de 52% da Câmara; elegeu governadores nos três maiores colégios eleitorais; anulou a rasura na Constituição com que Lewandowski, Calheiros e Kátia permitiram a Dilma disputar e perder a eleição; e forçou o intervalo na carreira longeva de coveiros da república podre.
O nostálgico da ditadura, que votou na Vila Militar, tem missões espinhosas a cumprir: debelar a violência, coibir o furto em repartições públicas e estatais, estancar a sangria do erário em privilégios da casta de políticos e marajás e seguir os exemplos impressos nos livros postos na mesa para figurarem no primeiro pronunciamento público após a vitória, por live. Ali repousavam a Constituição e um livro de Churchill, o maior estadista do século 20.

Não lhe será fácil cumprir as promessas de reformas, liberdade e democracia, citadas na manchete do Estado anteontem. Vai enfrentar a oposição irresponsável, impatriótica e egocêntrica do presidiário mais famoso do Brasil, que perdurará até cem anos depois de sua morte. E não poderá fazê-lo com truculência nem terá boa inspiração nos ditadores que ornam a parede do gabinete que ocupou. Sobre Jânio e Collor, dois antecessores que prometeram à cidadania varrer a corrupção e acabar com os marajás, tem a vantagem de aprender com os erros que levaram o primeiro à renúncia e o outro ao impeachment.
Talvez o ajude recorrer a boas cabeças da economia que trabalharam para candidatos rivais, como os autores do Plano Real e a equipe do governo Temer, para travarem o bom combate ocupando o “posto Ipiranga” sob a batuta de Paulo Guedes. Poderá ainda atender à cidadania se nomear bons ministros para o Supremo Tribunal Federal e levar o Congresso a promover uma reforma política que ponha fim a Fundo Partidário, horário obrigatório e outros entulhos da ditadura dos partidos, de que o povo também quer se livrar em favor da desejável igualdade.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

"Um voto impossível", por Carlos Alberto Sardenberg


Lulistas e bolsonaristas falam de duas imagens falsas. Mídia não pode ser ao mesmo tempo elitista e comunista
Vamos falar francamente: eleger Fernando Haddad é absolver Lula e condenar a Lava-Jato; eleger Bolsonaro é absolver o capitão da direita radical e populista e condenar a tolerância política e moral.
Um candidato é a soma do que fala, do que falou e de seu comportamento pessoal e político. Mas é também a imagem que os seguidores fazem de seu líder.
No caso do PT, claro, o líder é Lula, e não Haddad. Sua vitória seria a revanche não apenas contra os promotores e juízes da Lava-Jato, mas contra uma operação legal e institucional que flagrou o maior escândalo corporativo do mundo. Não é exagero. Não se encontra por aí um modelo de corrupção tão organizado, envolvendo praticamente todos os órgãos do governo.
Com Haddad/Lula eleito, tudo isso seria um não acontecimento ou, como dizem, uma invenção das elites reunidas no Judiciário, na mídia, nas empresas e nos bancos — tudo para massacrar os pobres.
No caso de Bolsonaro, sua vitória, como dizem o candidato e seus seguidores, seria o triunfo sobre os canalhas, que é como se referem aos adversários. E sobre uma grande conspiração.
Bolsonaro e seus seguidores veem em toda parte uma armação de comunistas, ateus, infiéis, amigos dos bandidos e corrompidos moralmente, todos contra o homem comum. Desconfiam da urna eletrônica, das pesquisas eleitorais, da mídia. Gostam das Forças Armadas e das polícias, mas desconfiam da Polícia Federal se esta não demonstrar que o atentado contra Bolsonaro também foi parte de uma grande conspiração.
Não é por acaso que os dois extremos — lulistas e bolsonaristas — têm um mesmo alvo. Para os petistas, a mídia é golpista e dominada pelas elites reacionárias. Para os bolsonaristas, é dominada por uma esquerda imoral.
É claro que não podem estar falando da mesma coisa. Estão falando da imagem que cada lado tem da imprensa, formando-se duas imagens necessariamente falsas. A mesma mídia não pode ser ao mesmo tempo elitista e comunista.
Vai daí que a opinião dos outros não tem a menor importância para esses dois extremos. Muito menos a prática democrática da controvérsia e da diversidade.
A esta altura, perguntarão os leitores: mas os eleitores de Bolsonaro e Lula/Haddad são todos assim?
Há muitos que são. Sim, há extremistas e intolerantes entre nós. Mas isso não explica tudo.
No lado do PT, muitos eleitores votam pela lembrança de bons anos do governo Lula. De fato, emprego, salários e crédito cresceram de modo expressivo. Não foi uma obra do lulismo, mas uma combinação clássica de estabilidade econômica (neoliberal!) e uma onda externa favorável. Todos os países emergentes se deram bem — e até melhor que o Brasil. Nenhum emergente, por exemplo, passou pela dura recessão gestada aqui pelos governos Lula e Dilma. O lulismo, ao final, entregou desemprego.
Nesse aspecto, o impeachment de Dilma foi até uma sorte. Livrou Lula do peso do governo, permitiu que sua intensa propaganda passasse para a oposição e convencesse muita gente de que foi tudo culpa dos golpistas. Mentir foi a tática. Como essa agora de dizer que a ONU considerou legítima a candidatura de Lula, quando há apenas um parecer dado por dois membros (alinhados à esquerda) de um comitê acessório formado por não diplomatas.
Mais uma vez, o lulismo contou com a incompetência e as hesitações do centro político e liberal.
No lado de Bolsonaro, muitos eleitores simplesmente estão fartos do governo, do excesso de impostos e da falta de serviços públicos, dos políticos corruptos eternamente no poder e, sim, da imposição do chamado politicamente correto. Reparem: muitos eleitores dessa direita são liberais no sentido de achar que cada um se comporta como quer. Mas não apreciam quando a agenda progressista é imposta por meio de leis e obrigações.
Também aqui, o centro liberal — nos costumes e na política — não soube contar e colocar sua história.
E assim chegamos a uma eleição em que uma agenda é tirar Lula da cadeia e anular a Lava-Jato. A outra é prender Lula e todos os demais canalhas.
https://oglobo.globo.com/opiniao/um-voto-impossivel-23104963
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