quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Laís Souza, uma história de superação diária

Dois anos após acidente, Lais aprende a viver sobre rodas: "Consegui aceitar"

Ex-atleta se adapta a "mundo de rodas" e se torna inspiração para cadeirantes: "Meu objetivo é andar. Tem que ir no dia a dia e tentar não desistir. Tem que ir lutando"

Por Fernando Vidotto e Marcos Guerra

“Hoje eu vejo o mundo de uma forma diferente de quando andava.” O mundo de Lais Souza está bem diferente há exatamente dois anos. Ex-ginasta olímpica e ex-esquiadora, ela não se pergunta mais: “por que comigo?” Não tenta achar respostas para o que chama de destino. Até se sente confortável para recordar o acidente em uma pista de esqui que a deixou tetraplégica, mas prefere olhar para frente, prefere vislumbrar um milagre da medicina que a permita mexer os braços e as pernas. Lais sonha andar novamente, só que sua nova vida, seu “mundo de rodas”, não é feito apenas de fé, mas também da força de vontade de quem se arrisca - e sem pensar duas vezes - em um tratamento experimental com células-tronco, de quem encara a fisioterapia com a mesma garra de um treino, de quem valoriza a mais sutil evolução. Uma vida de resiliência e superação diária.

Video - Assistir em http://globoesporte.globo.com/olimpiadas-de-inverno/noticia/2016/01/dois-anos-apos-acidente-lais-aprende-viver-sobre-rodas-consegui-aceitar.html

- O que eu sonho hoje é que não estou na cadeira, que em algum momento a medicina vai evoluir, que minha saúde vai melhorar. Eu procuro ser positiva, porque já é difícil estar passando por essa situação e estar encarando isso. Então preciso encarar de forma positiva, me motivando. Meu objetivo é andar, agora a velocidade com que isso vai acontecer, não tenho como dizer. Tem que ir no dia a dia e tentar não desistir, porque sei que é um problema que vai ser lento para ser resolvido. Tem que ir indo e lutando. Vejo pessoas que estão na cadeira e não fazem nada para sair, não saem de casa, não tentam fazer diferente. Eu quero fazer diferente, quero voltar a andar, que seja mexer os braços. É o mínimo que espero - contou a ex-ginasta e esquiadora.

Dois anos após acidente, Lais é símbolo da luta do tetraplégico (Foto: Marcos Ribolli)

Dois anos depois do acidente, a luta diária de Lais Souza é cheia de brincadeiras, piadas e sorrisos, só desfeitos para dar lugar à expressão de esforço nos exercícios da fisioterapia. A tristeza por sua condição, de quem só consegue mexer a cabeça e os ombros, raramente dá as caras. Lais não deixa, é forte. Treina como uma atleta, mesmo que o estímulo seja passivo. Vai ao salão de beleza como qualquer jovem de vaidosa de 27 anos. Passeia com amigos como todo mundo. Trabalha dando palestras motivacionais, ainda que não chame isso de trabalho. Lais se adaptou ao “mundo de rodas”, à vida de cadeirante que o GloboEsporte.com mostra em parceria com o SporTV - assista ao terceiro e último episódio de série “Uma História de Superação Diária” nesta quarta-feira, no Tá na Área.



1 - Aceitar e inspirar

Lais Souza continua tão vaidosa quanto nos tempos de ginástica, mas já não se olha tanto no espelho. É difícil se ver tetraplégica para uma pessoa que encantou o Brasil com suas piruetas e que quase nada conhecia sobre o universo dos cadeirantes. Pouco a pouco, a atleta foi aprendendo a viver nesta nova condição. Foi percebendo que, com a ajuda da mãe Odete Vieira e do cuidador Willian Campi, pode fazer praticamente tudo que fazia antes do acidente. Pode ter uma vida feliz. Em agosto de 2015, Lais deu um passo importante em sua reabilitação, se aceitou e registrou o momento nas redes sociais com uma frase comovente: “Manter a cabeça erguida e aceitar”.

Desde o acidente, Lais Souza se olha menos no espelho (Foto: Marcos Ribolli)

- Nesse dia, fiquei parada na frente do espelho e olhei o meu corpo, o meu resto e foi essa frase que quis escrever, que era um momento que estava aceitando o que eu tinha, o que eu sou hoje. O problema é aceitar a forma que foi. Eu não tive nada, nenhuma fratura, não quebrei um braço, não quebrei uma perna, nem uma costela, nada. Simplesmente quebrei o pescoço. Tentar entender isso e aceitar é o que é difícil. Foi o que passei no primeiro ano. Hoje já estou com uma cabeça diferente, encarando de uma maneira diferente o meu problema. Já estou de um jeito que consegui aceitar o meu problema. A ideia de pensar que eu poderia estar morta é muito pior do que eu estar na cadeira, porque poderia estar morta. Eu pelo menos estou aqui agora, estou próxima da minha família e tudo mais. Agora para a morte ninguém dá jeito - disse a ex-atleta.

Com essa postura de força, fé e determinação, Lais ganhou ainda mais fãs e assumiu uma posição de símbolo de superação. Se no âmbito fisiológico a evolução se limitou à sensibilidade de pés, barriga e costas - o que ela comemora muito -, no âmbito social Lais colecionou vitórias: foi ao Rock in Rio, foi a baladas, foi à praia, pegou carona em um carro da Stock Car e até surfou em uma prancha adaptada. Ela se reintegrou à sociedade.

- A maior dificuldade hoje é que muita gente não sabe o que é ser cadeirante, como é encarar isso. O que eu queria era quebrar esse paradigma, mostrar que a pessoa que é cadeirante tem dificuldades, mas ela continua ali. São pessoas inteligentes. Acontece com qualquer um.

Em seus passeios, seja em Ribeirão Preto ou em São Paulo, Lais não raras vezes recebe o carinho de fãs, inclusive cadeirantes, que se inspiram nela. Nas redes sociais, o cenário é o mesmo. Ela, que usa o celular com uma espécie de caneta de contato presa à boca, nem consegue responder todas as pessoas que buscam informações sobre tratamentos, querendo seguir o mesmo caminho de reabilitação. Tatuado no braço um símbolo da luta do tetraplégico para voltar a andar, Lais se tornou porta-voz da causa.

Lais virou inspiração para cadeirantes (Fotos: Marcos Ribolli)

2 - "Ser coitada? não!"

Para quem não acompanha Lais Souza, seja no dia a dia ou nas redes sociais, parece até natural sentir pena dela, afinal, uma jovem atleta que rodopiava no ar, tanto na ginástica como no esqui, não pode fazer o que mais ama: voar. Só que ela não se coloca nessa posição de fragilidade, pelo contrário, se mostra forte, raramente chora por estar em uma cadeira de rodas.

- Ela não desanima, não bate tristeza nela. Eu não vejo a Lais chorar, mesmo nessa situação, porque ela é totalmente ativa. Vejo que ela é muito forte - disse Willian Campi, cuidador e amigo.

Lais Souza se diz uma menina de sorte por ter
suporte em seu tratamento (Foto: Marcos Ribolli)
A ex-atleta olha para frente, pronta para encarar tratamentos e exercícios de fisioterapia, pronta para encarar a vida no que chama de “mundo de rodas”.

- Ninguém gosta de ser coitado. O coitado é ruim, é fraco, não é positivo. Eu sou o contrário disso, gosto de coisas que chocam, que são positivas, que é bom, não gosto de ser para baixo. Ser coitada? Não! Não acho que tem de pensar: “Ah, ela mereceu!” Não é assim. Aconteceu. Tem que viver a realidade, tem que viver o momento e a situação pela qual está passando. O coitado não é ninguém, por isso que eu não gosto.

Lais foge da alcunha de coitada e até se diz uma menina de sorte. Não à toa. Seu acidente causou tamanha comoção no Brasil, que ela conquistou uma série de privilégios que outros brasileiros tetraplégicos não têm. Por ter representado o país desde os 12 anos, a ex-ginasta recebe uma pensão especial e vitalícia do Governo Federal no valor do teto da Previdência Social (Reajustado para R$ 5.189,82 a partir deste mês). O Comitê Olímpico do Brasil (COB) e a Confederação Brasileira de Desportos na Neve (CBDN) também a auxiliam financeiramente, além da Universidade Estácio de Sá, para quem a ex-esquiadora dá palestras. Ela conta com ajuda de uma empresa de roupa e da clínica Acreditando, onde faz o tratamento de fisioterapia.

Lais ainda recebe doações de anônimos e amigos famosos. O apresentador Luciano Huck a deu um carro adaptado, que usa no Brasil. Astro do Barcelona e da seleção brasileira, Neymar também dá uma ajuda importante para a ex-atleta. Lais se divide entre Ribeirão Preto, sua cidade natal, e São Paulo, onde faz fisioterapia e dá palestras. Quando está na capital paulista, ela se hospeda em um apart hotel bancado por Neymar. Apesar de todo o suporte, o tratamento de Lais é tão caro que ela ainda depende das doações na campanha “Eu Apoio a Lais”.

Neymar banca o apart hotel em que a amiga Lais mora em São Paulo (Foto: Marcio Iannacca)

3 - Vida de atleta

Com seu esforço, faz jus a todo o suporte que recebe, seja o financeiro, seja o incentivo de fãs. Mesmo em dias que sua pressão está mais baixa - fato normal na sua condição -, ela não se deixa abater e vai à fisioterapia - sempre cantando e com som alto no carro para animar. São cinco sessões semanais de três horas cada uma. Uma rotina puxada, digna de um atleta, tanto que Lais e as fisioterapeutas da clínica chamam os exercícios de treino.

- Não mudou muito meu dia a dia, porque eu vou para o treino e faço algum tipo de trabalho, ou alguma tarefa. Meu dia a dia parece de quando era atleta. Hoje dedico três horas do meu dia à fisioterapia e parece que corri uma maratona. Eu fico bem cansada. Minha saúde é mais sensível. Basicamente eu fico de olho na minha saúde, vou ao treino e ao mesmo tempo tenho que trabalhar, porque vida de cadeirante não é barata.

Lais Souza se esforça nos treinos (Foto: Marcos Ribolli)

O treino é composto por terapias baseadas em atividades, que buscam promover a recuperação do movimento e da sensibilidade que ela perdeu através de exercícios intensos. Elásticos, cordas e principalmente os fisioterapeutas ajudam na movimentação de braços e pernas. Ela, inclusive, anda em uma esteira ergométrica. O estímulo é passivo, mas o resultado é um real trabalho aeróbico. A frequência cardíaca chega a aumentar de 45 batimentos por minutos para 90 - a frequência cardíaca de um tetraplégico costuma ser menor do que o de um adulto saudável.



Lais Souza anda em esteira, com a ajuda de profissionais de educação física e cabos (Foto: Marcos Ribolli)

- É como se estivesse andando mesmo. As meninas sempre perguntam o que eu estou sentindo, como é que está meu batimento. Eu procuro reparar: sinto bastante meu pé bater no chão, sinto um pouco de pressão no meu quadril. Conforme elas vão mexendo minha perna, eu procuro movimentar o meu corpo, para ajudar e ver se alguma coisa entra em ação, se ativa. Para o cérebro, essa ligação de ficar tentando mostrar com o movimento do corpo que tem alguma coisa ali é muito boa. Você acaba mandando um sinal do corpo para o cérebro e vice-versa para que em algum momento os fiozinhos liguem lá de novo.

O trabalho de fisioterapia complementa o tratamento experimental com células-tronco. Lais já fez três aplicações e espera ser chamada pelo projeto de Miami ainda neste início de ano para mais uma bateria de exames e uma nova aplicação de células-tronco.
o mundo em um novo ritmo

4 - O mundo em um novo ritmo

Fora da fisio, a vida é mais tranquila, segue um ritual. Tomar café na cama, remédios, banho -quase sempre com música -, escovar os dentes, escolher uma roupa. E lá se vai a manhã inteira. Lais depende da mãe Odete e do cuidador Willian para fazer tudo, e as pequenas ações do dia a dia ganham um novo ritmo, uma cadência mais lenta como pede os cuidados com uma pessoa de saúde sensível como uma tetraplégica. Por exemplo, um bom banho, que durava quase uma hora, agora leva mais de duas horas.

- Eu sinto muita falta de tomar banho sozinha, eu mesma lavar meus cabelos, eu mesma escovar meus dentes. São pequenos detalhes que fazem toda a diferença. Hoje a gente já se acostumou. O Willian me dá banho, ele já sabe como eu quero escovar os dentes, como eu gosto, como gosto de deixar meu cabelo, roupa e tudo isso assim. Mas no começo foi bem chato, foi bem difícil adaptar e aprender, mas deu certo.

Lais saiu das casas dos pais ainda menina, com dez anos, para se dedicar à ginástica e, com isso, se tornou muito independente. Não foi fácil precisar de ajuda para as mais corriqueiras atividades. Hoje ela aceita sua condição, embora às vezes prefira assoprar ou usar os ombros para tirar uma mecha de cabelo. Não quer chamar a mãe ou o cuidador o tempo todo. Para quê incomodá-los de dois em dois segundos?

Lais Souza vai ao salão de beleza e mantém rotina como a de
qualquer jovem de 27 anos (Fotos: Marcos Ribolli)

- Com certeza minha paciência mudou. Eu era muito independente. Morava sozinha, tinha meu carro, tinha meu dinheiro. Comprava o que eu queria na hora que queria. Hoje dependo das pessoas para me mexer, para tomar banho, para tudo mais. Por isso eu tive de acabar aprendendo a ter essa paciência a mais, a passar o que eu quero, a me expressar direito para que dê certo.

Mais paciente e serena, Lais fala manso. Às vezes nem precisa abrir a boca para o cuidador Willian ou a mãe Odete entenderem o que ela precisa, tamanha a cumplicidade entre eles. Os dois sabem o que ela quer comer - e agora que não é atleta, tem uma dieta sem regras, pode comer de tudo, embora o estômago sensível só aceite pequenas porções. Até a moda dela mudou. Como não consegue controlar a temperatura do corpo, Lais sente muito frio. Nada que um casaco aconchegante não dê jeito. Tudo se adapta para o “mundo de rodas”, mesmo o sono, que tem de ser interrompido de duas em duas horas para mudar a posição do corpo e, assim, evitar feridas.

Lais Souza muda estilo por sentir frio, mas mantém passeios com amigos,
como Ingrid Messias (Foto: Marcos Ribolli)

5 - Anjos da guarda

Para tudo o que a jovem precisa, dois anjos de guarda se revezam e a amparam. A mãe, Odete Vieira, largou o emprego em uma fábrica de sapatos para se entregar à filha. Ao contrário de Lais, Odete ainda se pergunta quase todos os dias: “Por que com a gente?” Às vezes ela chora, mas não na frente da filha. Precisa ser forte para Lais, mantém a esperança de vê-la andar novamente.

- Ver um filho seu a vida toda andando e de repente ele estar na cadeira de rodas é complicado, mas não é um bicho de sete cabeças. Estamos tentando nos adaptar, tentando nos acostumar. Tenho os meus momentos de tristeza sim, em que imagino que não vou dar conta. Não posso ficar pensando muito e viver o que está acontecendo hoje, amanhã é outro dia. Eu penso dessa forma para não enlouquecer, porque se vai pensar em todas as dificuldades, você cai em depressão, você enlouquece. A esperança é a última que morre, né? Eu tenho muita esperança de ver minha filha andando ainda. Ela não é uma pessoa enferma, não é doente, só está tetraplégica. Acho que uma hora dessas, as coisas vão voltar, e ela vai caminhar - disse Odete.

Positivas como são, mãe e filha até encontram um lado bom da situação em que estão: agora podem se conhecer melhor. Com a rotina de treinos e viagens para competições, Lais pouco parava em casa, em Ribeirão Preto. Agora as duas raramente se separam.

- Sempre nos demos muito bem. O bom disso tudo é que estamos muito juntas. Tenho mais tempo de conhecer minha filha, de dar carinho para ela. A mesma coisa para ela, de se adaptar à família, porque saiu de casa muito cedo e acostumou. Acho que era uma coisa que devia estar faltando e Deus disse: “Para, vocês precisam ficar mais juntas.” - destacou Odete.

Cuidador Willian Campi e a mãe Odete Vieira são os anjos da guarda de Lais Souza
(Fotos: Marcos Ribolli)

Se a mãe não está por perto, pode ter certeza que um segundo anjo da guarda está: Willian Campi. Há 11 meses, o cuidador de 26 anos entrou na vida da ex-atleta, e a relação dos dois vai muito além do trabalho. Willian é o movimento de Lais, é conselheiro e confidente também.

- Virou um irmão, um amigo, um pai, virou tudo. Eu basicamente acho que ele me deu a minha vida de volta. Ele é jovem, ele me entende. Se eu estou com algum problema, se eu quero fazer alguma coisa, eu só o chamo, eu o olho, ele já sabe o que quero. Ele deu asas à Lais Souza, que está com aquele probleminha, e se Deus quiser vai passar logo. Ele me deu pernas, me deu braços. Às vezes eu dou uns ataques, e ele está lá, firme e forte - disse Lais.
amigo, estou aqui!

6 - Amigo, estou aqui!

Com um anjo da guarda também jovem como Willian, Lais se sentiu mais livre para ganhar o mundo. O amigo-irmão a leva para passear e encontrar outros amigos, principalmente em restaurantes e cinemas, mas até para baladas os dois vão.

- Não consegue dançar em uma balada, mas consegue ir e curtir de outra forma, vai ao teatro, vai ao cinema. Ela não vai ficar afastada por que está na cadeira. Ela é igual - disse Denise Lessio, fisioterapeuta e amiga de Lais, que acompanhou o início do tratamento, nos Estados Unidos.

Lais está sempre cercada por amigas como Ingrid Messias, Denise Lessio
e Daiane dos Santos (Foto: Marcos Ribolli)

A vida social é como a de qualquer jovem de 27 anos, chegou a namorar depois do acidente, mas o relacionamento não seguiu em frente. A ex-atleta está sempre cercada por amigos, a maioria da época da ginástica, como Ingrid Messias, que hoje é atleta do salto com vara. As duas se visitam frequentemente. Daiane dos Santos não consegue se manter tão perto de Lais por causa de seu trabalho como comentarista do Time de Ouro da TV Globo, mas também está sempre em contato, nem que seja por mensagens no celular.

- A Lais é muito carinhosa, adora beijo e abraço. Ela gostava muito de abraçar antes, e eu não gostava. Agora ela me pede: “Me dá um abraço, Daiane”. É uma amizade bem alegre. Esse jeitinho Lais de ser não mudou. É carismática, piadista. Até mesmo com a sua condição ela faz piada. Às vezes até assusta: “Nossa, ela está brincando com isso? É um assunto tão sério.” Eu acho legal esse jeito, porque ajuda a deixar mais leve essa situação - contou Daiane.

Lais Souza é muito carinhosa com amigos (Foto: Marcos Ribolli)

O mesmo jeito alegre e positivo com as amigas é o que Lais tenta mostrar em suas palestras motivacionais. Ela não consegue estar sempre trabalhando, a prioridade é cuidar do corpo, mas encanta e inspira quando palestra.

Lais Souza trabalha com palestras motivacionais
(Foto: Reprodução/Facebook)
- Eu normalmente quando vou pensar em uma palestra, ou em um bate-papo com alguém, fico pensando no que as pessoas querem ouvir de mim, no que é importante eu falar. São muitas coisas que eu junto e acabo fazendo de uma forma que eu possa me adaptar àquela situação, se é uma empresa ou uma escola. Eu nem chamo de trabalho. É saudável, é gostoso. É o que eu tento fazer para ajudar mesmo.

Ela pensa em voltar ao esporte, está para conhecer a bocha adaptada e também considera jogar pôquer, canoagem e mesmo esqui adaptado. A paixão de sua vida, a ginástica artística, ela continua acompanhando de perto e pretende estar na arquibancada dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro para transmitir aos amigos um pouco da força e da esperança que carrega em sua rotina de superação.

- Teve um tempo que eu falei que tinha como meta entrar andando nas Olimpíadas. É um sonho ainda distante, mas quem sabe até lá acontece.

* Colaboraram Erica Hideshima e Tiago Maranhão, do SporTV

Lais Souza mantém esperança de voltar a andar (Foto: Marcos Ribolli)

sábado, 23 de janeiro de 2016

PT se 'autoassassinou' e governo está em fase terminal, diz ex-ministro de Lula

             
Adriano Brito - @adrianobrito
Da BBC Brasil em São Paulo

Há pouco mais de dez anos, o senador Cristovam Buarque deixou o PT após uma série de desgastes que levaram à sua demissão, por telefone, do cargo de ministro da Educação e no embalo da eclosão do escândalo do mensalão - ele foi um dos integrantes que não concordaram com a resposta dada pelo partido e pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva às irregularidades reveladas à época.
Hoje, ensaia um novo desembarque, desta vez do PDT, que, nas palavras de Cristovam, "não existe" como partido, pois virou um "puxadinho do PT" controlado pelo ex-ministro Carlos Lupi que já colocou como candidato à próxima corrida presidencial um nome escolhido por Lula - Ciro Gomes - para "preencher o vazio" caso o petismo não se recupere a tempo de 2018.

Segundo o senador, "o PT se autoassassinou" ao desconsiderar a meritocracia na nomeação de cargos e não pensar um projeto de longo prazo para o país.

Diz ainda que o "fracasso" da gestão Dilma Rousseff se deve principalmente a erros cometidos pela presidente em seu governo, que está em "fase terminal".

Aos 71 anos, o ex-governador do Distrito Federal e ex-reitor da UnB (Universidade de Brasília) defende, porém, que se pense menos no resultado do pedido de impeachment da presidente, e mais em que governo o país terá após o processo - com ou sem Dilma.

Confira trechos da entrevista à BBC Brasil, feita por telefone.
                
BBC Brasil - A ex-senadora Marina Silva defendeu ao jornal "Folha de S.Paulo" que se agilize o processo contra a presidente Dilma Rousseff no TSE (Dilma e seu vice, Michel Temer, podem ter o mandato cassado se o Tribunal Superior Eleitoral entender que a chapa cometeu irregularidades na campanha), em detrimento ao pedido de impeachment em curso no Congresso. Como vê isso?
Cristovam Buarque - Para mim, o importante não é saber como isso termina, mas como começa o próximo momento. O chamado day after (dia seguinte). Acho que lamentavelmente a Marina não trabalha com o day after. Estou menos preocupado com se isso vai terminar com a continuação da Dilma, o impeachment ou a cassação.

Teremos o dia seguinte com o Temer em um governo de unidade nacional? Ou com a Dilma, com um governo de coalizão nacional? Se houver a cassação, a eleição em 90 dias vai permitir a construção dessa coalizão com um projeto alternativo? Essa é a minha preocupação.

Qual seria o cenário ideal?

Hoje, e nós dissemos isso a ela em agosto, a melhor alternativa seria a Dilma, mas com um governo que não fosse da Dilma. Ela sendo a "Itamar" dela própria. No que consiste isso: ela dizer que não é mais do PT, nem de qualquer outro partido, a não ser do "Partido do Brasil".

Dizer que precisa da oposição e de todos para governar, compor um ministério de unidade e com um programa de unidade, no qual a estabilidade monetária seja objetivo imediato, desde que não sacrifique conquistas sociais nem investimentos em infraestrutura. Definindo quem vai se sacrificar para que o Brasil seja reorientado e como vamos atravessar os três anos até a próxima eleição.

Seria a continuidade do governo Dilma sem Dilma, uma espécie de presidente sem ser chefe de governo, com um "primeiro-ministro" - entre aspas, não precisa de parlamentarismo para isso. O Itamar (Franco, ex-presidente) conseguiu: o Fernando Henrique (Cardoso) foi o primeiro-ministro. Isso seria o ideal.

Mas não vejo na Dilma condições para isso. Tanto que nós, um grupo de senadores, fomos até ela em agosto, levamos um documento, propusemos isso, dissemos que estávamos dispostos a apoiá-la. Ela ouviu com seriedade, carinho, nos dedicou muito tempo, mas não aconteceu nada. Perdeu a chance.

Na sua visão, por que o governo chegou a esse ponto? Quem tem mais culpa, Dilma ou o PT?

Acho que a grande culpa é do PT.
O PT se autoassassinou. Há uma diferença entre autoassassinato e suicídio: suicídio é um gesto consciente, em que existe até uma dignidade; o autoassassinato nem é consciente nem carrega dignidade.        
O PT se autoassassinou por recusar o mérito nos seus dirigentes: nomeava ministro, vice-ministro, subministro, diretores apenas por interesses imediatistas, corporativos. Se autoassassinou por não pensar o médio e longo prazo do Brasil, por ficar prisioneiro da próxima eleição, por abrir mão das reformas necessárias que poderia ter feito, sobretudo com a grande liderança que era Lula.

Agora, a Dilma colaborou. Ela poderia ter se "independizado" do PT, mas continuou dependente dele, e com isso destruiu seu governo.

Como vê o papel do seu partido, o PDT, na base aliada?

O PDT, como partido, não existe: é uma associação, um clube de militantes sob o comando absoluto do Carlos Lupi.

Em 2007, ele assumiu o Ministério do Trabalho. De lá para cá, continua sempre junto ao governo em troca de ministério e isso destruiu o PDT como partido, fez dele o que o Pedro Taques (ex-senador e atual governador do Mato Grosso) chamava de "puxadinho do PT".

E a situação é essa, ao ponto de hoje ele ter colocado um candidato a presidente escolhido pelo Lula, o Ciro Gomes, cujo papel é preencher o vazio que haverá se o PT e o Lula não se recuperarem do impacto.

Do impacto da Operação Lava Jato?

Da Lava Jato e do fracasso do governo Dilma. E é um erro achar que esse fracasso decorre da Lava Jato. Do ponto de vista ético, sim, mas também dos erros que ela cometeu na condução do governo.

Se fosse a Lava Jato sem inflação, com a economia crescendo, seria diferente: apenas o PT carregaria o problema. Mas temos recessão, inflação, infraestrutura desorganizada, crise de gestão. O problema é a soma com a crise socioeconômica.

E o PDT optou equivocadamente, e digo isso desde 2007, em vez de ser uma alternativa para o Brasil, por ser coadjuvante de um partido e de um governo em fase terminal.
               
O que o manteve no PDT até hoje, então?

Primeiro porque sair de um partido é algo muito dolorido, complicado. E você sempre fica acreditando que ele pode mudar.

E segundo, porque essa é uma crise geral dos partidos.
É como se não houvesse para onde ir?

É isso. Não é só o PDT. O PDT perdeu a vergonha, mas os outros não demonstram ainda o vigor transformador.

Creio que um partido precisa de duas coisas: vergonha, do ponto de vista ético, e vigor transformador, do ponto de vista político. A gente sente que muitos têm vergonha na cara, mas fica se perguntando se têm esse vigor.

Além disso, é importante dizer com clareza: há três anos o Carlos Lupi diz que vai sair do governo no mês seguinte. Reunia a nós senadores e dizia: "no próximo mês nós estamos fora do governo". Passava o mês, a gente esperava, ele nos reunia e dizia a mesma coisa. Não vou negar que cometi o erro de ficar esperando por esse mês seguinte.

            

A imprensa dá como certo que o senhor vai para o PPS, que o convite já foi feito.

O convite foi realizado pelo meu velho amigo Roberto Freire, que é meu companheiro desde a política estudantil em Pernambuco, ainda nos anos 60. Mas não vou tomar essa decisão em um período de recesso, antes de conversar com meus colegas do PDT do Distrito Federal e ouvir diferentes forças ligadas a mim.

Mas houve o convite, e eu não disse não.
O senhor foi procurado por outros partidos?
Outros partidos me procuraram, mas a sintonia com o PPS é maior.

Está em seus planos se candidatar à Presidência em 2018?

Quando conversei com o Roberto Freire, ele falou nisso. Mas deixei claro: não vou para o PPS exigindo ser candidato à Presidência, e nem com o compromisso de ser candidato se o PPS quiser. Não será por essa razão (a eventual mudança).

Até porque... Eu disse a ele que, na idade da gente, antes de tomar uma decisão tão ousada como ser candidato a presidente, precisamos pensar se já não é hora de começar a pensar mais na memória do que já fez do que na aventura do que vai fazer.
    
O senhor tem um histórico ligado aos chamados partidos de esquerda. Indo para o PPS, migraria para uma sigla que, para muitos, está mais à direita e é criticada como uma espécie de satélite do PSDB. Seus eleitores não estranhariam esse movimento?

Diferencio a palavra partido da palavra sigla. Não mudo de partido. Já mudei de sigla: era PT, virei PDT, mas sem mudar de partido. Se sair do PDT, e for para outra sigla, não mudarei de partido. Meu partido é de que a gente precisa transformar a sociedade brasileira, e isso exige uma revolução. E o elemento fundamental dessa revolução é garantir escola de qualidade para todos, por o filho do trabalhador na mesma escola do filho do patrão, entre outros aspectos.

Agora, a sigla PPS vem do Partido Comunista. Você pode dizer que o Roberto Freire esteve ao lado de gente do PSDB, mas você não pode dizer que ele e os militantes do PPS são conservadores e de direita.

Continuo dividindo a política entre direita e esquerda. Mas não divido por sigla, e sim por compromissos. Para mim, compactuar com corrupção é coisa de direitista. Mesmo que seja do PT, do PC do B.

O PT vai sobreviver a essa crise?

Veja bem, sobreviver, vai. Mas vai sobreviver cambaleante. E a pergunta para a qual eu gostaria de ter uma resposta é sobre o que virá depois desse período em que o PT vai cambalear.

Vai cambalear para o lado dos corruptos, dos acomodados socialmente? Ou vai cambalear para o lado dos éticos e dos revolucionários? Isso não dá para saber.

A Câmara e o Senado são comandadas por parlamentares implicados na Lava Jato. Como isso influencia o funcionamento do Congresso neste ano?

Se continuar nesse ritmo, o impeachment será um tema para todos, não só para a Dilma. E poderá vir, sim, o povo na rua pedindo eleição geral, para todos os cargos. Porque não é só a Dilma que está sob suspeição. Todos nós, que temos mandato, estamos.

Há os "Cunhas" da vida, os outros, mas também os que não aparecem. Somos hoje um Parlamento sob suspeição, e nenhum de nós, portanto estou no meio, está fora da suspeição, da dúvida, do questionamento da população.

Temo que, se não formos capazes de cassar logo os corruptos conhecidos, vamos cair num processo de reação tão forte da população que teremos de fazer uma eleição geral para todos.

http://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2016/01/22/pt-se-autoassassinou-e-governo-esta-em-fase-terminal-diz-ex-ministro-de-lula.htm

domingo, 17 de janeiro de 2016

"Os black blocs têm passe livre no vandalismo diversionista", por Valentina de Botas


Cresci num bairro simples, de casario tristonho. Era frequente faltar energia elétrica e, quando a luz voltava, toda a meninada gritava em festa. Não gritei, mas a sensação foi a mesma quando li que Mauricio Macri liberou todos os documentos oficiais sobre o procurador Alberto Nisman suicidado pela cumplicidade com o Irã a que Cristina Kirchner rebaixara a Argentina.
A luz volta ao país vizinho e meu coração bobo que zabumba esquisito pergunta como quem diz “não tem jeito”: por que não aqui, se até a oposição venezuelana reagiu ao leviatã vagabundo ainda mais raivoso do que o lulopetismo depravado?
No Brasil, enquanto a figura do jeca salta no esplendor da sua inteireza nos depoimentos da Lava Jato sobre o assalto à nação como a pedra de que Michelangelo dizia libertar Davi, Moisés e pietàs ocultos nela, os black blocs têm passe livre no vandalismo diversionista contra o aumento da passagem de ônibus e metrô em São Paulo e são incensados no altar inviolável que certo jornalismo, especialmente a Folha, consagra cotidianamente à estupidez das esquerdas e afins.
A coincidência é método: da confusão que intimida; da anarquia que depreda bens materiais públicos e privados e, sobretudo, bens imateriais caros ao Estado de Direito democrático; do esforço intimidador para que falácias perdurem confundindo tudo. Entre outras coisas, democracias e ditaduras se diferenciam pela interlocução entre os contrários disponível naquelas e inviabilizada nestas como meio estabelecido pela libido totalitária.
A deformação a que o lulopetismo e agregados ideológicos querem levar nossa democracia ainda não eliminou a interlocução que resta disponível aos seduzidos por essa luz civilizatória, principalmente no governo de Geraldo Alckmin cujos defeitos não incluem a intolerância. Mas, o MPL e respectivos mascarados, que só provocam a PM paulista porque a sabem diferente dos camisas pretas que Macri aposenta, anunciaram que não conversarão com o governo paulista eleito pela população da qual o movimento cassa o direito de ir e vir.














Os vândalos depredadores de ônibus e estações do metrô para o bem do povo que desconhece querem passagem grátis, como se a gratuidade não saísse ainda mais cara para o povo cuja ruína material e imaterial está garantida não pelos 30 centavos de aumento, mas pela permanência de Dilma Rousseff como presidente e pelo caldo tóxico em que fermentam movimentos assim. A respeito, indico textos recentes de Reinaldo Azevedo, indo às últimas consequências da lucidez audaciosa.
Quem se deixou levar pelo canto de sereia xarope segundo o qual a VEJA (site e revista) se rendeu ao PT, precisa reconhecer que ela continua fazendo o de sempre: o combate ao primitivismo do momento. Por exemplo, com a mesma lucidez de Reinaldo Azevedo, Augusto Nunes, sempre no conluio delicioso entre humor e charme, nos ajuda a manter a cabeça ligada ao essencial, sem que nos dispersemos por diferenças marginais, ambos lembrando a um coração bobo-bola-de-balão que não se iluda: a luz sempre pode voltar e, meninos outra vez, gritaremos em festa.

Valentina de Botas
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