Não temos tradição de enfrentar o
Estado. Pelo contrário.
POR MARCO
ANTONIO VILLA*
12/05/2016
14:00
RIO - O projeto criminoso de poder foi
ferido de morte. Se a crise econômica e a Lava-Jato tiveram importante papel
neste processo, foram as ruas que decidiram a parada. As quatro manifestações
de massa de 2015 sinalizaram que não havia mais meios de uma conciliação pelo
alto. De uma saída à la brasileira, dentro da velha tradição nacional. O ponto
final foi o dia 13 de março, quando milhões saíram às ruas e apontaram que o
impeachment era a única solução para a mais grave crise política do Brasil.
No Senado — já são favas contadas — o
julgamento vai condenar o governo petista por crime de responsabilidade. A pena
(política) de Dilma é amena: será inabilitada, por oito anos, para o exercício
de função pública. Mas o PT foi destroçado. Saiu do governo com a pecha de
corrupto. Pior ainda: de ter organizado o maior desvio de recursos públicos da
história. Diferentemente de 1992, a condenação não será individualizada. Não. A
condenação foi do partido — e de seus asseclas, como PC do B, PSOL e parte da
Rede — e de um projeto que construiu, no interior do Estado, o que o ministro
Celso de Mello chamou, em um dos votos da AP-470, de “macrodelinguência
governamental.” Conseguir reabilitação política a curto prazo é impossível. O
PT vai se fragmentar em pequenos partidos, sem força eleitoral expressiva. E o
projeto de poder que sustentou parte da esquerda brasileira morreu.
O que chama a atenção foi como tudo ruiu tão
rapidamente, no sentido político, claro, pois a crise econômica tinha sido
gestada no segundo governo Lula e já dava sinais de agravamento desde 2012. Ter
devassado os “marginais do poder”, expressão também de Celso de Mello, deu à
Lava-Jato um importante papel. Porém, o governo ainda apresentava condições de
conviver com o escândalo, tentando diminuir seus efeitos políticos, mantendo
sob seu jugo a base da pirâmide social — os mais pobres —, o andar de cima, via
bolsa BNDES e o colchão de amortecimento representado por intelectuais,
artistas, docentes universitários e movimentos sociais que funcionavam como os tonton-macoute do petismo em troca de
generosos apoios às suas ações.
Este bloco parecia invencível. E o Brasil
condenado a sustentá-los ad eternum.
Coube à sociedade civil desatar o nó górdio do projeto criminoso de poder. Não
temos tradição de enfrentar o Estado. Pelo contrário. O Estado é fonte de tudo.
Mas desta vez a sociedade deixou de ser invertebrada. Foi um processo maturado
nas redes sociais e nos movimentos autônomos que foram surgindo nos últimos
anos. A espontaneidade foi a marca deste momento. Quem imaginaria o sucesso da
manifestação de 15 de março de 2015?
Os velhos formadores de opinião ficaram
olhando para o passado. Foram aliados — alguns entusiásticos — do projeto
criminoso de poder. Acharam que tinham um poder de influência fantástico.
Coitados. Ficaram falando sozinhos. Ninguém mais os lia ou os ouvia. Seus
gritos foram recebidos com risos. Falavam de golpe quando se estava cumprindo o
que era determinado pela Constituição. Perderam feio. Quiseram até acionar o
Papa. Patético!
*Marco Antonio Villa é historiador
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