terça-feira, 29 de março de 2016

"Chapadão", por Tom Jobim

Soube recentemente, completamente sem querer, de um DVD lançado pela Biscoito Fino chamado "A Casa do Tom", dirigido pela viúva do maestro, Ana Lontra, com imagens preciosas de seu acervo particular e narração da própria Ana. É um belíssimo documento.

Segue abaixo o poema "Chapadão", constante do DVD, lido por Tom.

Saudade do amado Tom.



Chapadão
(Tom Jobim)

Vou fazer a minha casa
No alto do chapadão
Vou levar o meu piano
Que ficou no Canecão

Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão
Vou levar a don'Aninha
Prá me dar inspiração

Vou fazer a minha casa
No alto de uma quimera
Vou criar um mundo novo
Inventar nova megera

Vou fazer a minha casa
Com largura e comprimento
E peço ao Paulo uma sala
Pra botar Aninha dentro

Vou botar minha biruta
No taquaruçu de espinho
Vou fazer cama macia
Pra te amar devagarinho

Seremos dois belezudos
Neste mundo de feiosos
As noites serão tranquilas
E os dias tão radiosos

Quero minha casa feita
Com régua, prumo e esmero
Quero tudo bem traçado
Quero tudo como eu quero

Quero tudo bem medido
De largura e comprimento
Não quero que minha casa
Me traga aborrecimento

Vou fazer a minha casa
Do alto de uma canção
E agradecer a Deus Pai
A sobrante inspiração

Sob a axila do Cristo
Neste sovaco cristão
Vou fazer a minha casa
No alto do Chapadão

E vou dar festa bonita
Com bebida e com garçon
E ao Lufa que foi amigo
Dou champagne com bombom

Vou fazer a minha casa
No centro do ribeirão
Quero muita água limpa
Pra lavar meu coração

Minha casa não terá
Nem sábado nem domingo
Todo dia é dia santo
Todo dia é dia lindo

Todo dia é sexta-feira
Sexta-feira da paixão
Vou convidar Alberico
Para o peixe com pirão

E dentro da minha casa
Nunca vai juntar poeira
Pelo meio dela passa
Uma enorme cachoeira

Quero água com fartura
Quero todo o riachão
Quero que no meu banheiro
Passe inteiro o ribeirão

Quero a casa em lugar alto
Ventilado e soalheiro
Quero da minha varanda
Contemplar o mundo inteiro

Vou fazer o meu retiro
Na grota do chororão
A minha casa será
Uma casa de oração

Vou me esquecer do pecado
Entrar em meditação
E não saio mais de casa
Só saio de rabecão

Vou entrar pra Academia
Vou comer muito feijão
E com a ajuda de Maria
Vou vestir o meu fardão

Mas na minha Academia
Sem chazinho e sem garçom
Só entra Mário Quintana
Paulinho e Carlos Drummond

Que já chega de besteira
Já basta de decoreba
Que a cultura verdadeira
Tá na asa do jereba

Porque tem urubu-rei
E tem urubu-ministro
Dois de cabeça amarela
E um preto que registro 

Registro neste debuxo
Os dois condores também
Embora urubus de luxo
Têm direitos no além

Sob a axila cristã
Neste sovaco cristão
Vou fazer de telha-vã
A casa do Chapadão

Vou dormir meu sono velho
Neste sovaco do Cristo
Vou comprar muito sossego
Vou regar o meu hibisco

Vou viver na minha casa
Vou viver com a minha gente
Vou viver vida comprida
Prá não morrer de repente

Vou contemplar grandes pedras
Vazio de compreensão
Vou esquecer o meu nome
No alto do Chapadão

Vou plantar um roseiral
Vou cheirar manjericão
Vou ser de novo menino
Vou comprar o meu caixão

E vou dormir dentro dele
Bem relax, tranqüilão
Dormir de banho tomado
Já pronto pra extrema-unção

Vou fazer a minha casa
No alto do cemitério
Vou vestir a beca negra
E exercer o magistério

Vou vestir a roupa lenta
Que leva ao desconhecido
E eis que chego aos sessenta
Como um homem sem partido

Nesta passagem de vento
Nesta eterna viração
Vou fazer a minha casa
Com as pedras do ribeirão

Vou fazer a minha toca
No bico d'urubutinga
No pico da marambaia
Lá na ponta da restinga

Será no rastro das anta
Na trilha da sapateira
Que é pras onça do telhado
Cair dentro da fogueira

Que eu gosto de onça assada
Mas na brasa da lareira
Conversando ao pé do fogo
A conversa rotineira

Das queixadas, dos macucos
Conversa pra noite inteira
Da memória das caçadas
Na floresta brasileira

Deste planalto central
Este projeto cristão
A ninguém faltará teto
A ninguém faltará pão

Desta prancheta ideal
Na luminosa manhã
Dr. Lúcio faz o risco
Do projeto telha-vã

Nesta oficina serena
Carpintaria cristã
Dr. Lúcio mais Oscar
No projeto telha-vã

Neste canteiro de obras
Onde manda mestre Adão
Os milhares de operários
Colocar as telhas vão

Neste desvão principal
Nesta branca e azul manhã
Vou erguer a minha casa
De vermelha telha-vã

Vou fazer a minha casa
No meio da confusão
Que o jereba se alevanta
No olho do furacão

Vou fazer a minha casa
Na asa d'urubu peba
Que casa só é segura
Feita em asa de jereba

Vai ser na vertente seca
Na virada da chapada
Onde o peba se suspende
Na fumaça da queimada

Não quero mais ter galinha
Vendo toda a capoeira
Vou mandar cortar o mato
E vender toda a madeira

Mas quem pôs fogo no mato ?
É espontânea a combustão ?
Esse fogo vem de longe
Isse fogo é de balão 

Inda que mal lhe pergunte
Esse fósforo aí grandão
O compadre me desculpe
E só de acender balão ?

Vou botar fogo no mato
Comandar rebelião
Incendiar a floresta
Tacar fogo no sertão

E o urubu de queimada
Vai surgir na ocasião
Pra comer todas as cobras
Sapos, ratos, pois então !

Caracóis e lagartixas
e todos bichos do chão
Urubu, santo lixeiro
Tu é da Comlurb, então ?

Trabalhando o ano inteiro
Tem décimo terceiro não ?

Camiranga meu amigo
Obrigado meu irmão
Que limpa toda sujeira
Desse povo porcalhão

Q'inda por cima te xinga
De feioso e azarão
«Doação ilimitada
A uma eterna ingratidão»

E vou viver no deserto
Quero o ar puro do sertão
Não quero ninguém por perto
E nem que passe avião

Não pode ter venda perto
Nem estrada de caminhão
Não quero plantas nem bichos
Nem quero mulher mais, não

Quero vestir meu pijama
Smith e Wesson na mão
Quero ler na minha cama
Papo-amarelo no chão

As histórias do corisco
Vividas nesse sertão
Que Sérgio Ricardo e Glauber
Cantavam ao violão

«Eu não sou passarinho
Prá viver lá na prisão
Não me entrego ao tenente
Nem me entrego ao capitão
Eu só me entrego na morte
De parabelum na mão»

Minha casa é por aí
E no mundo, monde, mondo
Que eu só durmo no sereno
Quem faz casa é marimbondo

Vou cerzir a minha asa
Na casa do Sylvio então
Pra voar que nem jereba
Bem longe do Chapadão

Vou vender o meu pandeiro
Vou levar meu violão
Favor mandar meu piano
De volta pro Canecão

Vou-me embora vou-me embora
Aqui não fico mais, não
Adeus minha bela morena
Vou pegar meu avião

Adeus minha roxa morena
Minha índia tupiniquim
O meu amor por você
É eterno até o fim

Não quero partir chorando
Já tá tudo tão ruim
Não chore, meu bem, não chore
Não me deixes triste assim
Adeus minha moreninha
Não vá se esquecer de mim

Mas não vou ficar solteiro
Você pára de chorar
Que com a sobra do dinheiro
Mando logo te buscar

Avião papa jereba
Passa mal e cai no chão
Avião foge do peba
Peba derruba avião

Por favor seu urubu
Me deixe passar então
Não entre em minha turbina
Não derrube o avião

Eu já tô tão tristezinho
E tantos outros já estão
Não derrame meu uisquinho
Não abata o meu jatão

Vou-me embora desta terra
Meu desgosto não escondo
O afeto aqui se encerra
Quem faz casa é marimbondo

Vou-me embora vou-me embora
Você não me leve a mal
Se Deus quiser fevereiro
Venho ver o carnaval

E não quero mais ter casa
Precisa de casa, não
Quem tem casa é marimbondo
Minha casa é o avião

Telefonei pro aeroporto
Não tinha avião mais, não
Vou fazer minha viagem
Na asa do peba então

(Acho asa de jereba
Mais segura que avião)

"Não vai ter golpe. Vai ter impeachment!", por Roberto Freire

Encurralados pela velocidade dos acontecimentos e pela força implacável dos fatos, o governo de Dilma Rousseff e os áulicos do lulopetismo parecem ter abandonado o pouco que lhes restava de dignidade ao qualificar o processo de impeachment deflagrado no Congresso Nacional como um “golpe”. Ferramenta prevista na Constituição Federal, regulamentada por lei e utilizada em todas as democracias do mundo, o impedimento nada tem de golpista e serve como instrumento de defesa das instituições contra uma presidente da República que não se cansa de atacá-las.

Golpismo não é afastar a chefe de um governo corrupto e incompetente que cometeu diversos crimes de responsabilidade, como determina a lei e ocorreu em 1992, com Fernando Collor, na época com o apoio entusiasmado do PT. Golpe é, na verdade, tentar sucessivamente obstruir as investigações da Operação Lava Jato que abriram a porta do Palácio do Planalto e chegaram ao gabinete presidencial. Sem condições mínimas para governar, é a isso que Dilma se dedica diuturnamente, como revelaram ao país as gravações autorizadas pela Justiça das conversas pouco republicanas entre a petista e o ex-presidente Lula, em um desavergonhado e indecoroso conluio para prejudicar o trabalho dos investigadores.

Se antes havia o crime de responsabilidade configurado pela prática das chamadas “pedaladas fiscais”, que por si só configuram um evidente descumprimento da Lei Orçamentária, agora é preciso ter em conta o fato maior e mais grave: a tentativa de Dilma e seu governo de impedirem o livre funcionamento das instituições da República, no caso a própria Justiça, com uma evidente obstrução. Mesmo que, eventualmente, não conste do pedido de impeachment brilhantemente formulado por Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr., mais esta ilegalidade cometida pela presidente da República deve ser debatida no momento em que o Congresso votar o impedimento de Dilma, seja na comissão que analisa o processo na Câmara, seja em plenário.

A nomeação de Lula para o ministério da Casa Civil, questionada na Justiça e que, provavelmente, será rejeitada em análise do plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) na próxima semana, teve dois únicos objetivos: garantir o foro privilegiado ao ex-presidente, livrando-o das investigações da Lava Jato na Vara Federal de Curitiba, sob os auspícios do juiz Sérgio Moro, e reorganizar a articulação política do governo, como se o petista ainda tivesse capacidade de resolver todos esses problemas. Ao contrário: desde que foi nomeado ministro – para logo depois ter a indicação suspensa pelo STF –, Lula só fez agravar a crise na qual sua sucessora está mergulhada e que deve levá-la ao impeachment.

Como se não bastassem todas essas tentativas de golpe contra as instituições, o Palácio do Planalto se transformou em um “bunker” de onde partem ordens aos seus aliados espalhados pelos Poderes da República e ações que têm como objetivos atropelar e empastelar a Lava Jato, desmoralizando o juiz Moro. Uma das consequências mais nefastas desse processo são as contradições e incoerências flagrantes que atingem até mesmo a mais alta Corte do país, por meio de decisões inexplicáveis tomadas ao arrepio da lei, o que dá a medida exata do grau de degradação a que chegamos nesses tristes tempos de lulopetismo. Trata-se de algo sobre o qual precisamos estar atentos, sempre lembrando o que houve na Itália, com a Operação Mãos Limpas, que não foi concluída devido a pressões de forças políticas e grupos econômicos. Não podemos permitir que esse empastelamento aconteça também no Brasil.    


Diante de um quadro de absoluto desmantelo, em meio à mais grave crise econômica de nossa história e com 68% dos brasileiros favoráveis ao impeachment, de acordo com a última pesquisa do Datafolha, a situação da presidente é insustentável sob qualquer perspectiva. Os milhões que foram às ruas no último dia 13 de março em todo o país disseram claramente, em alto e bom som, que o ciclo do PT no governo federal chegou ao fim. Não há outra alternativa além da saída democrática e constitucional do impeachment, que nada tem de golpista – e, ao contrário, livrará o Brasil de um governo que tenta golpear as instituições.

O país está pronto para virar esta página e começar a escrever um novo capítulo de sua história. As forças políticas instaladas no Palácio do Planalto que saquearam o Estado em nome de um projeto de poder, como vem sendo demonstrado pelas investigações da Lava Jato, serão desmanteladas pela força da lei. É preciso colocar um ponto final neste desgoverno, e é isso que o Parlamento brasileiro fará nas próximas semanas.

Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

http://www.robertofreire.org.br/site/noticias/item/3405-artigo-de-roberto-freire-no-di%C3%A1rio-do-poder-n%C3%A3o-vai-ter-golpe-vai-ter-impeachment

domingo, 27 de março de 2016

"Reflexões de um suposto coxinha", por Artur Xexéo

Gente que dividia comigo a mesma ideologia hoje se comporta como inimiga. Um muro foi erguido para me separar desses amigos
Artur Xexéo
Ando sensível. Acho que já contei isso aqui. Choro à toa. Antes era com comercial de margarina, cenas de novela, trechos do filme. Agora, é lendo jornal. Cada notícia da Lava-Jato, de início, me enche de indignação. Em seguida, fico triste. É aí que choro. Ando tendo vontade de chorar também em discussões com amigos. Gente que tempos atrás dividia comigo a mesma ideologia hoje se comporta como inimiga. Ou sou eu o inimigo? De qualquer maneira, num mundo que derrubava muros, de repente, um muro foi erguido para me separar desses amigos. Tento explicar como vejo o trabalho de Sergio Moro e nunca consigo terminar o raciocínio. No meio da discussão, me emociono, fico com vontade de chorar e prefiro interromper o pensamento. “Coxinha”, me xingam nas redes sociais. Bem, se o mundo está obrigatoriamente dividido entre coxinhas e petralhas, não tenho como fugir: sou coxinha!
Leio na internet que “coxinha” é uma gíria paulista cujo significado se aproxima muito do ultrapassado “mauricinho”. Mas, desde a reeleição de Dilma, esse conceito se ampliou. Serviu para definir de forma pejorativa os eleitores de Aécio Neves. Seriam todos arrumadinhos, malhadinhos, riquinhos e votavam em seu modelo. Isso não tem nada a ver comigo. Mas, nesta briga de agora, estou do lado que é contra Lula, logo sou contra os petralhas, logo sou coxinha.
Gostaria de falar em nome da democracia. Mas não posso. A democracia agora é direito exclusivo dos meus amigos que estão do outro lado do muro. Só eles podem falar em nome dela. Então, como coxinha assumido, deixo uma pergunta. Vocês acharam muito normal o ex-presidente Lula incentivar os sindicalistas para os quais discursou esta semana a irem mostrar ao juiz Sergio Moro o mal que a Operação Lava-Jato faz à economia brasileira? Vocês acreditam sinceramente nisso? O que a Operação Lava-Jato faz? Caça corruptos pelo país. Não importa se são pobres ou ricos. Não importa se são poderosos. Não era isso o que todos queríamos, quando estávamos todos do mesmo lado, quando ainda não havia um muro nos separando, e fomos às ruas pedir Diretas Já? Não era no que pensávamos quando voltamos às ruas para gritar Fora Collor? E, principalmente, não era nisso que acreditávamos quando votamos em Lula para presidente uma, duas, três, quatro, cinco vezes!!! Não era o Lula quem ia acabar com a corrupção? Ele deixou essa tarefa pro Sergio Moro porque quis.
Como, do lado de cá do muro, me decepcionei com o ex-líder operário, o lado de lá deu pra dizer que sou de direita. Se for verdade, está aí mais um motivo para eu estar com raiva de Lula. Foi ele quem me levou pra direita. Confesso que tenho dificuldades de discutir com qualquer petralha que não se irrita quando Lula diz se identificar com quem faz compras na Rua 25 de Março. Vem cá, já faz tempo que os ternos de Lula são feitos pelo estilista Ricardo Almeida. Será que Ricardo Almeida abriu uma lojinha na rua de comércio popular de São Paulo? Por mim, Lula pode se vestir com o estilista que quiser. Mas ele tem que admitir que o discurso da 25 de Março ficou fora do contexto. A gente não era contra discursos demagógicos? O que mudou?
Meus amigos petralhas dizem que é muito perigoso tornar Sergio Moro um herói. Que o Brasil não precisa de um salvador da pátria. Mas, vem cá, não foi como salvador da pátria que Lula foi convocado para voltar ao governo? Não é ele mesmo quem diz que é “a única pessoa” que pode incendiar este país? Não é ele mesmo quem diz que é a “única pessoa” que pode dar um jeito “nesses meninos” do Ministério Público? Será que o verdadeiro perigo não está do outro lado do muro? Não é lá que estão forjando um salvador da pátria?
Há muitas décadas ouço falar que as empreiteiras brasileiras participam de corrupção. Nunca foi provado. Agora, chegou um juiz do Paraná, que investigava as práticas de malfeito de um doleiro local, e, no desenrolar das investigações, botou na cadeia alguns dos homens mais poderosos do país. Enfim, apareceu alguém que levou a sério a tarefa de desvendar a corrupção que há muitos governos atrapalha o desenvolvimento do país. E, justo agora, quando a gente está chegando ao Brasil que sempre desejamos, Lula e seus soldados querem limites para a investigação. Pensando bem, rejeito a acusação de ser coxinha, rejeito ser enquadrado na direita, rejeito o xingamento de antidemocrata, só porque apoio o juiz Sergio Moro e a Operação Lava-Jato. Coxinha é o Lula que se veste com Ricardo Almeida e mantém uma adega de razoáveis proporções no sítio de Atibaia. E, para encerrar, roubo dos petralhas sua palavra de ordem: sinto muito, mas não vai ter golpe. Sergio Moro vai ficar.

sábado, 19 de março de 2016

Para jurista, tentar salvar Lula é mais grave que as 'pedaladas fiscais'

Para jurista, tentar salvar Lula é mais grave que as 'pedaladas fiscais'
RODRIGO RUSSO
DE SÃO PAULO
18/03/2016  02h00

Para um dos principais advogados do país, não há dúvida: a presidente Dilma Rousseff (PT) cometeu crime de obstrução da Justiça, dando à Câmara motivos mais que suficientes para abrir um processo de impeachment.

Coordenador do "Livro Negro da Corrupção" (ed. Paz e Terra) e autor do recente "Considerações sobre a Lei Anticorrupção" (ed. Revista dos Tribunais), doutor e livre-docente em direito pela USP, o jurista Modesto Carvalhosa, 83, afirma que o termo de posse acertado entre a presidente Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva é a prova material indiscutível de um crime que vinha sendo praticado desde a nomeação do ex-presidente para o cargo.

Carvalhosa, ex-presidente do Tribunal de Ética da OAB-SP, nunca teve filiação partidária, e lutou contra a ditadura quando presidiu a associação de docentes da USP, durante os anos 1970.

O advogado falou à Folha na tarde desta quinta-feira (17), após a suspensão da posse de Lula. Leia abaixo os principais trechos da entrevista, feita por telefone.

O advogado Modesto Carvalhosa, ex-presidente do Tribunal de Ética da OAB-São Paulo
Bruno Poletti - 30.nov.2015/Folhapress

Folha - Como o senhor avalia os grampos telefônicos e a suspensão do sigilo dessas ligações pelo juiz Sergio Moro?

Modesto Carvalhosa - As pessoas estão desviando o foco do assunto. As gravações são evidentemente legais, e o juiz estava autorizado a suspender o sigilo. Isso é inquestionável. Não podemos fugir do principal, que é da mais profunda relevância: o crime de obstrução praticado pela presidente. O juiz Sergio Moro tinha o dever de tomar uma providência.

O juiz podia, então, retirar o sigilo de uma conversa entre a presidente e Lula?

Não era uma questão de poder. Era uma obrigação irrecusável, um dever funcional absoluto de fazê-lo. Se não o fizesse, era inclusive caso de prevaricação. A Constituição prevê que qualquer cidadão tem a obrigação de prender quem for encontrado em flagrante delito. Imagine, então, um juiz diante dessa situação, tentando interromper um crime.

Qual o enquadramento do crime da presidente?

Dilma infringiu o artigo 85 da Constituição Federal [que trata dos crimes de responsabilidade] e violou os artigos 6º e 9º da Lei do Impeachment [crimes contra o livre exercício dos Poderes constitucionais e contra a probidade na administração]. Foi uma manobra para tirar o processo de Lula da primeira instância, um crime que começa com a nomeação, passa pelo termo de posse –como se fosse um salvo-conduto para o político– e chega à posse de fato.

O senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS) foi preso preventivamente por suspeita de obstrução da Justiça. São casos similares?

O crime cometido por Dilma Rousseff é de outro patamar. No caso de Delcídio, houve tentativa de obstrução, que não havia se materializado. Aqui, temos um crime material, um delito que está comprovado no documento que produziram para empossar Lula.

Se Lula tivesse no cargo de ministro de Estado, o processo seria remetido ao Supremo Tribunal Federal. Com a suspensão de sua posse determinada pela Justiça, como fica a situação do processo?

No momento em que Lula tem suspensa sua condição de ministro, parece-me claro que Sergio Moro volta a ter jurisdição plena do inquérito que investiga o ex-presidente. Há a complicação da remessa dos autos, que já havia sido determinada para o Supremo Tribunal Federal e precisa ser alterada novamente, mas Lula é um cidadão comum investido de cargo público por um ato administrativo que teve efeitos suspensos, não importando que tenha sido determinado pela mais alta instância do Executivo.

Nesse cenário, como fica a questão do processo de impeachment de Dilma Rousseff na Câmara Federal?

Os deputados têm agora um grande argumento para dar início a esse processo. Não é sequer preciso um novo pedido, basta fazer um aditamento ao já existente, e é possível fazer isso na hora, sem necessidade de prova. É o chamado aditamento por fato notório.

Há, repito, crime de obstrução da Justiça cometido pela presidente da República em coautoria com Luiz Inácio Lula da Silva, não se trata de uma tentativa.
Isso é muito grave, mais do que as chamadas pedaladas fiscais que anteriormente motivavam o pedido de impeachment.


http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/03/1751317-para-jurista-tentar-salvar-lula-e-mais-grave-que-as-pedaladas-fiscais.shtml

quarta-feira, 16 de março de 2016

"Dilma decidiu inflar Lula", por Elio Gaspari

Perfeito. Como, em geral, tudo que é escrito por Élio Gaspari.
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Dilma decidiu inflar Lula

Elio Gaspari

Dizer que o 13 de março foi a maior manifestação política da história do país é pouco. Ao contrário dos grandes comícios das Diretas, as manifestações de domingo não tiveram participação relevante de governos estaduais, muito menos transporte gratuito. Isso para não mencionar o vexame dos tucanos que tentaram surfar a cena, foram para a avenida Paulista e ouviram o ronco da rua.

Em 1984, o palanque do comício da Sé tinha 120 metros quadrados e foi montado pela Paulistur. No do Rio, os palanques foram dois, um só para VIPs, mais um pódio e passarela para os artistas que se acomodavam num prédio próximo. Sinal dos tempos: em 1984, receando vaias da militância petista, o governador de São Paulo, Franco Montoro, chegou ao proscênio ao lado de Lula. (A cena foi coordenada pelo advogado Marcio Thomaz Bastos.) Passou o tempo e Lula, onipresente nas ruas com seus bonecos infláveis, foi convidado pela doutora Dilma para voltar a Brasília como regente do ocaso do governo e do PT.

O que houve no dia 13 foi povo na rua repudiando o governo e uma oligarquia ferida pela Lava Jato. A prova disso esteve na beatificação do juiz Sergio Moro. O paralelo com as Diretas resume-se a uma questão numérica, mas difere nos desdobramentos.

Nos dois casos, a iniciativa caduca se não conseguir dois terços dos votos dos deputados. Caducou em 1984, pois, apesar de ter conseguido 298 votos, faltaram-lhe 22. Hoje, 171 votos dos 513 deputados seriam suficientes para arquivar o pedido.

Admita-se que num improvável gesto de ousadia dos oligarcas, o impeachment seja mandado ao arquivo. Em 1984, o arquivamento da emenda fechou a porta. Hoje há outra. É a possibilidade da cassação da chapa Dilma-Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral. Os dois processos têm origens diversas. O impedimento está ancorado nas pedaladas fiscais. O TSE julgará a conexão das contas da campanha da doutora com as propinas confessadas por empresários e políticos. A votação do impeachment ocorrerá antes do julgamento. Entre um e outro poderá ressurgir o grito de Diretas-Já, pois nesse caso seriam convocadas eleições para até 90 dias depois da sentença.

O ministro Jaques Wagner tem toda a razão quando diz que a Operação Lava Jato está criminalizando a política. Ele e o PT não perceberam que o juiz Moro está botando na cadeia criminosos que se meteram em transações políticas para atacar a bolsa da Viúva. Quem criminalizou a política foram os criminosos, seguindo um velho hábito da oligarquia. O PT se meteu nesse jogo porque quis.

Jaques Wagner atribui o tamanho do 13 de março à crise econômica. Novamente, tem razão, mas expõe a ruína do governo. Essa crise foi inteiramente fabricada pela doutora Dilma e pelo comissariado. Pode-se dizer que ela não sabia que o PT tinha uma cloaca de pixulecos. (Isso seria o mesmo que dizer que o presidente Médici não sabia das torturas do DOI, onde esteve a Estela-Dilma em 1970.) No caso da crise econômica, a responsabilidade é dela, e só dela.

Os críticos da Lava Jato repetem com frequência que a Operação Mãos Limpas italiana levou ao poder o teatral Silvio Berlusconi. Se as coisas continuarem dando errado, o PT poderá pensar que Lula é o seu Berlusconi.

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2016/03/1750425-dilma-decidiu-inflar-lula.shtml

"O estilo é o homem", por Ruy Castro


Ruy Castro


Análise boa de Ruy Castro, sobre o estilo asqueroso de Lula. Só lamento que o comentário acerca Jânio seja reduzido à piadinha, como sempre. Ruy perdeu uma bela oportunidade de comparar o estilo de se relacionar com povo e imprensa, dos dois ex-presidentes mais populares do Brasil em toda a República. Um deles, inteligente e culto, o outro, cretino e falastrão. Mas vale pelas verdades que diz sobre o ex-sindicalista, hoje considerado um dos piores corruptos da história do Brasil.
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O Estilo é o Homem

Ruy Castro

Os presidentes não precisam ser eruditos. Mas, na República Velha, o Brasil teve um: Washington Luiz, historiador, autor de livros e ensaios. Rodrigues Alves e Afonso Pena também eram homens cultos. Já o marechal Hermes da Fonseca era famoso pela burrice, e só. Com a Monarquia ainda na memória, todos os presidentes daquela época buscavam uma postura que lembrasse a do imperador recém-derrubado, ereta e digna.

Getúlio e Dutra eram austeros; Juscelino, exuberante; e Jango, tímido. Mas não se conhece uma frase deles que não pudesse ser lida por senhoras no café da manhã. E Janio, sempre três uísques à frente da humanidade, nunca errou uma mesóclise.

Castello Branco achava-se um intelectual, fazia citações em francês. Costa e Silva era grosso, mas sóbrio. Médici tinha a profundidade de um manequim de vitrine. Geisel amarrava a cara para não ter de falar. Figueiredo, sim, deixou frases para a história ("Prefiro o cheiro de cavalo ao cheiro de povo"), mas que só chocavam pelo conteúdo. E Sarney, Collor e FHC eram bons de verbo e divergiam apenas na maneira de mentir – com sinceridade ou cinismo.

Lula, por sua vez, transferiu a Presidência para o mictório do botequim. Em 2004, ao ouvir de um assessor que a Constituição o proibia de expulsar um jornalista estrangeiro, ejaculou, "Foda-se a Constituição!". O único a registrar a frase foi o repórter Ricardo Noblat, em seu blog. Não era algo a sair em letra de forma. Mas, hoje, como um ex-presidente em tempos mais liberais, Lula pode exercer seu estilo.

Está "de saco cheio" quanto a perguntas sobre "a porra" do seu tríplex que não é dele. A história do pedalinho é uma "sacanagem homérica". "Ninguém nasce com 'Eu sou um filho-da-puta' carimbado na testa". E eles que "enfiem no cu tudo o processo". O estilo é o homem. Perdão, leitores.

segunda-feira, 14 de março de 2016

"A esperança é mesmo essa coisa linda que brilha mais no escuro", por Valentina de Botas



Faltava ainda uma hora para o futuro, mas eu, familiares, amigos e mais um rio de asfalto e gente entornando pelas ladeiras já estávamos na Paulista. A avenida mais famosa da minha cidade natal onde não nasci fica logo ali ao lado de Boa Viagem no Recife do meu Pernambuco, pertinho de Copacabana, quase grudada à Esplanada dos Ministérios, nas imediações da Ponta Negra em Manaus, contígua à Praça da Liberdade de Belo Horizonte, vizinha da Praça Alencastro em Cuiabá, também não fica longe de Nova York, Londres, Lisboa, Vancouver, Paragominas, Teresina e das demais cidades que unificaram poderosamente a voz do Brasil farto e desperto.
Nos últimos meses, o arsenal de sobrevivência do governo incluiu a adesão de uma coisinha chamada Picciani; a denúncia de Mirian Dutra de que FHC sustentou o filho de ambos com recursos próprios – um escândalo na república dos pixulecos –; e as bravatas repugnantes do jeca. Nada funcionou, o que faltou? Os brasileiros, a quem o lulopetismo ignora e infelicita.
Pixuleco e Dilmalandra
O governo que já não há, entontecido de podridão e arrogância, não entende: brasileiros, como assim? Desse arsenal, o artefato mais poderoso foi a rasteira institucional do STF no impeachment em dezembro. A súcia passou o Natal comemorando o assassinato do impeachment, pois, renascido, ele será a única presença viva no almoço de Páscoa do governo.
A oposição omissa anunciava semanalmente que na semana que que vem se reuniria para decidir ou decidiria que se reunirá; pois o futuro, este domingo avisa, não é na semana que vem, mas agora. Contudo, discordo da hostilização a Aécio e Alckmin na Paulista já que, como políticos, representam, se não o Brasil indignado, a via institucional para encaminharmos nossos anseios, fato característico da civilização.
"Jararaleco", invenção do bom povo alagoano para as manifestações
Afinal, a destituição legal de Dilma Rousseff passa forçosamente pelos políticos, já que repudiamos o golpismo. Como o lulopetismo abole tal arranjo civilizatório, ele esvaziou de sentido o exercício da política brasileira para vicejar à sombra dos primitivismos dela. O trabalho mafioso resultou tão eficaz que não foi um político ou um partido que exterminou o poder do lulopetismo, e sim a Justiça, na figura admirada de Sérgio Moro. Mas a nação que se reergue só fará a necessária transição, da treva lulopetista para o futuro, com os políticos e não é hora de acertar contas com o passado, deixemos que o passado passe.
Depois, serão depurados pelo nosso voto. Quanto ao anúncio exagerado da morte do impeachment, muitos indignados acharam que não havia mais esperança para a esperança, pois hoje, na Paulista e pelo resto do Brasil espalhado pelo mundo, os brasileiros constataram que a esperança é mesmo essa coisa linda que brilha mais no escuro e cantávamos emocionados porque de tudo se faz canção. Isso me fez lembrar a lição de Goethe, segundo a qual é nos sentimentos que encontramos a liberdade. Os farsantes recrudescerão o combate ao futuro, especialmente porque sabem que tudo ainda vai piorar para eles, para o país em ruína também. Mas enquanto à súcia só restam as ruínas, para o Brasil é chegado o tempo de a esperança florescer.

sexta-feira, 4 de março de 2016

"A hora é agora", de Marco Antônio Villa

Dilma aprofunda desastre econômico. Perdeu a capacidade de governar. Quanto mais cedo sair, melhor para o Brasil

Vivemos uma quadra histórica decisiva. Retirar Dilma Rousseff do Palácio do Planalto é um imperativo de sobrevivência para o nosso país. E esta é a hora. Afastar Eduardo Cunha da presidência da Câmara é o primeiro passo para viabilizar o impeachment. Sua permanência é um elemento que enfraquece a legitimidade de todo o processo. É absurdo um réu no Supremo Tribunal Federal conduzir uma ação de moralização da coisa pública. Sem esquecer que ele desmoraliza também a ação que corre no Tribunal Superior Eleitoral, que pode anular o pleito de 2014 e convocar novas eleições em 90 dias. Quem assume, neste caso, a Presidência da República? Eduardo Cunha. Diria Bussunda: “Fala sério!”


Depois de hibernar por um decênio, a oposição acordou. Criou um comitê pró-impeachment suprapartidário com participação da sociedade civil. Mobilizou seus parlamentares e as estruturas partidárias. Assumiu o compromisso de ir — finalmente! — às ruas. E serão as manifestações populares que vão dar a temperatura para a luta parlamentar. A ponte entre o Parlamento e as ruas é essencial para o sucesso do impeachment: é a conexão da cidadania com seus representantes. Daí a importância de cada brasileiro acompanhar como votará o seu deputado no momento da autorização da abertura do processo do impeachment.


Já o empresariado continua em silêncio. Registre-se a honrosa exceção da Fiesp, que, em dezembro do ano passado, se manifestou em defesa do impeachment. As outras federações estaduais ficaram caladas. A CNI fez cara de paisagem. As entidades vinculadas ao agronegócio, os banqueiros e representantes do setor terciário da economia, até agora, se omitiram. Isto em plena recessão de -4% em 2015 e, provavelmente, também em 2016, podendo se aproximar de -5%. Em meio à depressão, os dirigentes empresariais optaram por coonestar, através do silêncio, a “macrodelinquência governamental,” tão bem definida pelo ministro Celso de Mello. Estão descolados de suas bases, pois os reclamos são diários. Agem como os velhos pelegos, usufruem das benesses dos sindicatos e das associações — aguardam a solução da crise de braços cruzados e de costas para seus representados.


O brilhante trabalho da 13ª Vara Federal do Paraná não pode ser o principal — e quase único — instrumento de moralização da coisa pública. A Justiça está fazendo o seu papel. Agora cabe aos políticos tomarem a liderança do processo, rompendo com a inércia e não ficar esperando — oportunisticamente — o desgaste do governo, pois, assim como o hábito não faz o monge, a crise, por si só, não levará a queda do petismo.


O governo não governa. Está paralisado — assim como o país. Dilma Rousseff não tem mais qualquer capacidade permanente de interlocução com o Congresso e nem com os setores empresariais. Com a sociedade em geral, nem se fala. É um zumbi. O isolamento é tão patente que inclui o seu próprio partido, o PT. Seus principais ministros — como o da Fazenda ou da Casa Civil — desapareceram do noticiário.


A presidente se sustenta no vazio e aprofunda o desastre econômico. Perdeu a capacidade de governar. Quanto mais cedo sair, melhor para o Brasil. Não há mais qualquer possibilidade de que possa politicamente se recuperar. A agonia do PT não pode ser a agonia do Brasil.


Desde já é fundamental construir as condições de governabilidade, dar previsibilidade ao Brasil pós-PT. Esta é uma tarefa muito importante. Apesar de ser tão evidente, cabe demonstrar, especialmente aos agentes econômicos, que a manutenção de Dilma Rousseff à frente da Presidência da República significa a permanência do caos econômico-financeiro e, mais ainda, sem perspectiva, a médio prazo, de saída para a crise que vivemos, a mais grave da história republicana.


A busca de um consenso, abrindo condições para um curto mandato presidencial, aproxima-se do cenário de 1992, quando da crise que levou à renúncia de Fernando Collor. Porém, hoje, a conjuntura é mais complexa. Michel Temer não é Itamar Franco — inclusive, Temer, pode ser cassado pelo TSE. Projeto pessoais — mais que partidários — obstaculizam a construção de um governo de transição. A necessidade de que o novo governo adote medidas econômicas urgentes — e, nem sempre populares — é mais um complicador. O receio — exagerado — de que o PT na oposição saia fortalecido não passa de uma falácia. Hoje, o problema central do PT é com a Justiça e não com a política — e só não teve cancelado o seu registro partidário, como dispõe a lei 9.096/95, artigo 28, inciso III, porque o TSE é leniente com o crime eleitoral.


A solução política da crise não pode — novamente — frustrar os brasileiros. É essencial que as instituições efetivamente funcionem. E para isso a punição dos responsáveis pelo petrolão é fundamental — mesmo que, entre eles, possa ter um ex-presidente da República. Não é mais possível aceitar uma conciliação que ignore os valores republicanos, que rasgue a Constituição.


O processo iniciado com a redemocratização, em 1985, está incompleto. São absolutamente incompatíveis democracia e petrolão. O estado democrático de direito não pode ser o apanágio dos corruptos, como nos últimos 30 anos. Identificar as mazelas brasileiras é somente um momento neste movimento. Cabe construir as condições para que a administração da coisa pública saia do noticiário policial e volte às páginas de política. O primeiro passo é retirar Dilma Rousseff e o projeto criminoso do poder. E quanto mais rápido, melhor. Só há um grande interessado em postergar a solução da crise: é o PT.


Marco Antonio Villa é historiador

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